O PCC foi criado em 1993, na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté (SP). O presídio era conhecido por abrigar criminosos de alta periculosidade.
O grupo surgiu a partir de um time de futebol com 8 detentos, mas passou a se estruturar como uma espécie de sindicato.
A facção se propunha a enfrentar as condições precárias do sistema carcerário e controlar os conflitos entre presos.
Enquanto o PCC começava a se organizar, dois criminosos italianos acompanhavam os acontecimentos de perto.
Os irmãos Bruno e Renato Torsi eram mafiosos ligados à Camorra de Secondigliano, na região de Nápoles.
Conheça a origem das facções mais poderosas do país com o especial da Brasil Paralelo. Assista completo abaixo:
Quem eram os irmãos Torsi?
Matéria com uma foto de Bruno Torsi. Imagem: Leandro Leandro.
Os Torsi integravam a célula Nuova Famiglia, ramo da Camorra especializado em sequestros.
Em 1983, lideraram o sequestro do joalheiro italiano Presta Luigi. O empresário só foi libertado após pagamento de um resgate estimado em 1,7 bilhão de libras italianas, o equivalente a R$4,8 milhões na cotação atual.
A polícia italiana conseguiu juntar uma série de evidências contra os culpados pelo crime, incluindo:
ligações monitoradas;
digitais em armas; e
cédulas marcadas.
Quando a rede começou a cair, os irmãos fugiram para a América do Sul, passando pela Venezuela e chegando ao Brasil.
Em 18 de maio de 1990, eles foram presos pela Polícia Federal com documentos falsos em um hotel na região dos Jardins, na capital paulista.
Bruno chegou a fugir do Carandiru em 26 de agosto de 1992, mas foi recapturado, já Renato foi transferido entre unidades até Taubaté.
Os irmãos Torsi ajudaram a construir o estatuto e a estrutura do PCC
No presídio, os italianos fizeram amizade com Mizael Aparecido da Silva, mais conhecido como Miza.
Foto de registro de Mizael. Imagem: Uol.
O criminoso era um dos oito fundadores do PCC e viria a se tornar o idealizador do estatuto que rege o grupo até os dias de hoje.
Segundo investigações brasileiras e italianas, os Torsi ajudaram a estabelecer a estrutura e o modelo de atuação do PCC.
Eles ensinaram que a organização precisava ter códigos de conduta e disciplina interna claras, inspirando a criação do estatuto do PCC.
A facção também passaria a se organizar como a máfia italiana, contando com as sintonias, núcleos divididos com base na atividade criminosa e local de atuação.
Além disso, os irmãos ensinaram os detentos a lidar com o dinheiro e tornar o grupo sustentável, estabelecendo:
mensalidades de associados;
fundo comum para ajuda às famílias dos presos e custear advogados;
reinvestimento do lucro em atividades legais; e
lavagem para ocultar origem criminosa.
A partir dessas regras e estruturas organizacionais, a facção cresceu nas cadeias e passou a operar nas ruas.
Renato Torsi foi extraditado para a Itália em outubro de 1994, seu irmão passou pelo mesmo processo no ano seguinte.
Mafiosos continuaram a amizade com fundadores do PCC
Apesar de terem deixado o Brasil, os irmãos mantiveram a relação de amizade com Mizael por escrito:
“Aqui é onde nascemos. Eu e o Bruno. Para o meu amigo e irmão Mizael. Abraço com saudades, Renato.” Estava registrado em um cartão postal.
Em outro, os dois agradecem por receber notícias de Mizael e oferecem ajuda para ele caso precise de algo na itália:
“Mizael, é um grande prazer receber as suas notícias. Dê-me sempre suas notícias e o que precisar aqui na Itália e estiver ao meu alcançe (sic) é só falar, ok meu grande Brother?? Um abraço. Seus amigos Bruno e Renato.”
Foto do cartão postal enviado pelos irmãos Torsi para Mizael. Imagem: Uol.
PCC continua aliado à máfia italiana
Atualmente, o PCC é a principal facção criminosa do Brasil. A Operação Carbono Oculto mostrou que o grupo mobilizava mais de R$30 bilhões através de 40 fundos de investimento.
Saiba mais sobre a operação contra o crime organizado que atingiu a Faria Lima com o especial da Brasil paralelo. Assista completo abaixo:
Além disso, a organização tem uma forte atuação internacional, com presença em pelo menos 28 países, segundo o Ministério Público de São Paulo.
A facção segue mantendo laços importantes com grupos italianos, principalmente a máfia calabresa, ‘Ndrangheta.
A Itália é hoje uma rota-chave da cocaína para a Europa, e máfias italianas têm negociado remessas da América do Sul com o PCC.
Autoridades brasileiras veem o país como uma das maiores preocupações no combate ao narcotráfico.
O promotor de justiça do Ministério Público de São Paulo, Lincoln Gakiya, explica que o PCC tem se tornado uma ameaça na Europa e ainda aprende com as máfias:
"O maior perigo do PCC é a sua origem prisional, onde eles têm poder de organização e de ideologia, uma disciplina muito rígida e que se dissemina muito fácil no sistema prisional. Esse é o maior perigo para os países europeus da presença do PCC, mas eles estão também aprendendo com os europeus, sobretudo com os italianos: na distribuição de drogas, no envio do dinheiro sem que ele circule em termos formais".
A Brasil Paralelo investigou o poder das facções e as causas para a crise de segurança no país.
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