Um relatório inédito obtido pelo Ministério Público de São Paulo revela que o Primeiro Comando da Capital (PCC) já atua de forma estruturada em 28 países, distribuídos por quatro continentes.
A facção brasileira, que nasceu em um presídio paulista nos anos 1990, expandiu suas operações para além do tráfico de drogas, estabelecendo esquemas de lavagem de dinheiro, tráfico de armas e recrutamento dentro de cadeias estrangeiras.
O documento vem sendo apresentado a embaixadas e consulados para promover ações conjuntas no enfrentamento ao crime organizado.
A estratégia do PCC, segundo investigadores, vai além de movimentações pontuais: trata-se de fixação territorial em países com conexões culturais, econômicas ou logísticas com o Brasil.
De acordo com o promotor Lincoln Gakiya, o poder do PCC está intimamente ligado à sua origem no sistema prisional. O modelo de organização interna da facção, com setores financeiros, logísticos e de recrutamento, vem sendo replicado em cadeias de países como Paraguai, Argentina, Chile e Portugal.
Nesses locais, a facção impõe sua disciplina e cooptam presos locais para expandir sua influência. A atuação no Paraguai já resultou em rebeliões violentas, como a de San Pedro em 2019, que deixou 10 mortos.
Agora, investigações apontam que o mesmo processo ocorre em solo europeu. Segundo Gakiya, o PCC "aprende com as máfias locais", como as italianas, e projeta substituir intermediários para operar diretamente na distribuição de drogas no continente.
Portugal aparece como o país europeu com maior presença proporcional de membros do PCC. A facilidade do idioma, a grande comunidade brasileira e a estrutura portuária são fatores que favoreceram a fixação de líderes da facção e a infiltração no sistema prisional local.
O país já registrou apreensões de drogas, prisões de brasileiros em operações internacionais e até o uso de submarinos artesanais para transportar cocaína até o continente.
Especialistas ouvidos pelo relatório alertam para o risco de consolidação do PCC como “player” global no narcotráfico, capaz de operar em euros e dólares e, assim, ampliar sua influência e capacidade de corrupção também dentro do Brasil.
A colaboração entre PCC e máfias da Itália, especialmente a ‘Ndrangheta, fortaleceu rotas transatlânticas de envio de cocaína.
O acordo de cooperação entre procuradores brasileiros e italianos, que será formalizado nesta semana, marca a criação de equipes conjuntas permanentes de investigação, uma inovação nas relações bilaterais no combate ao crime.
A presença do PCC em países como Sérvia, Líbano e Japão indica o uso estratégico dessas regiões para compra de armamentos e movimentações financeiras.
Em alguns casos, investigações apontam convergência entre redes criminosas voltadas ao tráfico e grupos ligados ao financiamento do terrorismo, como revelam relatórios repassados por Israel à Polícia Federal brasileira.
O avanço do PCC no cenário internacional levou o Brasil a assinar acordos com Interpol, Portugal e Itália. As iniciativas buscam articular investigações, compartilhamento de dados e modernização tecnológica das polícias.
Ainda assim, especialistas alertam para lacunas internas: a ausência de um Ministério da Segurança Pública e a fragmentação entre os estados brasileiros são apontadas como entraves para uma política nacional de enfrentamento ao crime organizado.
A pesquisadora Camila Nunes Dias e o conselheiro Roberto Uchoa destacam que o diferencial do PCC está no modelo de expansão silenciosa: começa nos presídios, cresce com disciplina e se fixa por meio de redes logísticas, financeiras e humanas.
Com quase 40 mil membros ativos, presença em 24 estados brasileiros e faturamento estimado em R$ 1 bilhão por ano, o PCC já não é mais apenas uma ameaça nacional.
O relatório mostra que o grupo se tornou uma organização transnacional, exigindo respostas à altura, não apenas dentro do Brasil, mas em articulação global.
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