Crédito parado em plena safra
De acordo com o Canal Rural, a lentidão na liberação dos recursos frustrou o setor em um momento considerado decisivo.
Mesmo com os R$12 bilhões aprovados pela Medida Provisória nº 1.314/2025 , o crédito ficou parado nas instituições financeiras, travado por questões administrativas e operacionais.
Produtores relataram dificuldade para acessar os valores, enfrentando filas, exigências excessivas e demora dos bancos. Enquanto isso, os prazos de plantio avançaram e, no campo, tempo é safra.
Erro do Ministério atrasou liberação
A resposta oficial veio em meados de outubro. O BNDES confirmou que o protocolo para pedidos de crédito só seria aberto em 16 de outubro, após um erro administrativo dentro do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O secretário nacional de Políticas Agrícolas, Guilherme Campos, admitiu a falha.
“Assumo esta responsabilidade e estou constrangido com esse dia de demora por saber o quanto tantas pessoas estão precisando resolver suas vidas financeiras.”
De acordo com Campos, o erro ocorreu na publicação de uma portaria que atualizava a lista de municípios do Rio Grande do Sul habilitados para acessar o programa.
O documento, que incluía 57 novas cidades, só foi corrigido em edição extra do Diário Oficial da União no dia 15.
Além disso, a abertura das linhas de crédito dependia de outra etapa. Uma instrução normativa do Banco Central definia os procedimentos que os bancos deveriam seguir para registrar as operações no Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor).
Recursos voltam a circular
Com a correção, o BNDES reabriu o sistema de pedidos e anunciou que o crédito poderá ser contratado pela rede de instituições credenciadas após a atualização do Sicor.
Os financiamentos terão prazo de até nove anos, um ano de carência e juros subsidiados, de acordo com o perfil de cada produtor.
Ao menos 40% dos recursos serão destinados a agricultores familiares e médios produtores, atendidos pelos programas Pronaf e Pronamp — considerados os mais vulneráveis às perdas de safra.
Apesar da reabertura, o episódio deixou marcas. Para representantes do setor, o problema vai além do atraso pontual: o modelo de crédito rural brasileiro ainda é lento, burocrático e distante da realidade do produtor.
Enquanto o campo exige rapidez e previsibilidade, o sistema financeiro responde com incertezas e exigências que afastam justamente quem mais precisa do dinheiro.
O resultado é um paradoxo: recursos disponíveis, mas inacessíveis.
O governo agora tenta retomar a normalidade das operações, enquanto produtores aguardam a liberação dos recursos.
Segundo dados do Cepea e da CNA, o agronegócio representa cerca de 25% do PIB brasileiro. Especialistas alertam que atrasos no financiamento podem comprometer o ciclo produtivo e afetar a próxima safra.