A biografia registrada de Zumbi dos Palmares
Os registros históricos só permitem conhecer uma pequena parte da vida de Zumbi, afirma Leandro Narloch no livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. Os registros históricos coletados indicam que Zumbi era um jovem negro que nasceu livre no Quilombo de Palmares.
Segundo Edison Carneiro, no livro O Quilombo de Palmares, Zumbi era sobrinho do rei dos quilombolas, Ganga Zumba.
No final da sua adolescência, Zumbi assumiu uma tropa militar de Palmares, tornando-se líder de um dos núcleos habitacionais do quilombo. Ele se destacou em dezenas de vitórias dos quilombolas contra as expedições militares portuguesas.
O acordo que fez Zumbi se tornar rei
Após mais de 60 expedições militares dos portugueses contra o Quilombo de Palmares, Ganga Zumba cansou de perder vidas nas batalhas, convocando Portugal para fazer um acordo de paz.
Os portugueses aceitaram o convite e ofereceram uma proposta: os quilombolas poderiam formar uma sociedade livre, mas precisariam mudar de localização e reconhecer as autoridades portuguesas, afirma Alfredo Brandão em Os Negros na História de Alagoas.
Ganga aceitou a proposta integralmente, mas muitos de seus companheiros se revoltaram com a decisão. Zumbi foi um deles. Uma disputa interna tomou conta do Quilombo dos Palmares, até que Ganga foi assassinado por envenenamento e as autoridades favoráveis ao acordo foram presas, narrou Edison Carneiro.
Diante da instabilidade interna e da necessidade de um líder forte para defender a posição contrária ao acordo, Zumbi ascendeu ao poder.
Mesmo depondo o líder que era favorável ao acordo, a coroa portuguesa continuou tentando elaborar uma solução pacífica. Em 1685, Dom Pedro II de Portugal mandou uma carta para os quilombolas. Um dos trechos dizia:
"Eu, El-Rei, faço saber a vós Capitão Zumbi dos Palmares que hei por bem perdoar-vos de todos os excessos que haveis praticado, e que assim o faço por entender que vossa rebeldia teve razão nas maldades praticadas por alguns maus senhores em desobediência às minhas reais ordens.
Convido-vos a assistir em qualquer estância que vos convier, com vossa mulher e vossos filhos, e todos os vossos capitães, livres de qualquer cativeiro ou sujeição, como meus leais e fiéis súditos, sob minha real proteção", carta ainda disponível na Biblioteca da Ajuda, de Portugal.
Zumbi nunca aceitou um acordo, continuando a luta contra as autoridades locais e sendo um verdadeiro rei em Palmares.
A realeza de Palmares
O chefe do Quilombo dos Palmares era um verdadeiro rei. Em seu livro, Edison Carneiro reuniu documentos e outras fontes históricos que mostram que o Quilombo dos Palmares funcionava como um reino africano.
Ganga Zumba e posteriormente Zumbi eram tratados como "majestade" pelos demais. Existia uma hierarquia que dava diversos poderes ao rei. Zumbi tinha a palavra final sobre as questões sociais que envolviam todo o Quilombo, como guerras e questões administrativas maiores.
Aqueles que se apresentavam diante de Zumbi deviam colocar os joelhos no chão e bater as palmas das mãos em sinal de vassalagem ao rei.
Diante de tanto poder, como Zumbi guiava o Quilombo dos Palmares? A resposta pode surpreender a muitos.
Zumbi tinha escravos e impunha leis severas no quilombo
Ao assumir o poder máximo, Zumbi dos Palmares continuou e fortaleceu as leis mais rígidas do quilombo. Algumas das ações documentadas mais controversas de Zumbi e seu quilombo são:
- acentuar os assaltos nas fazendas ao redor do quilombo e roubar escravos negros para servirem a sociedade de Palmares. Segundo Edison Carneiro:
"Os escravos que, por sua própria indústria e valor, conseguiam chegar aos Palmares, eram considerados livres, mas os escravos raptados ou trazidos à força das vilas vizinhas continuavam escravos. Entretanto, tinham uma oportunidade de alcançar a alforria: bastava-lhes levar, para os mocambos dos Palmares, algum negro cativo".
Segundo o historiador Flávio Gomes, no livro Palmares:
"Consta mesmo que os palmaristas cobravam tributos - em mantimentos, dinheiro e armas - dos moradores das vilas e povoados. Quem não colaborasse poderia ver suas propriedades saqueadas, seus canaviais e plantações incendiados e seus escravos sequestrados”.
- sequestrar de mulheres brancas para obrigá-las a se casarem com quilombolas, afirma o jurista Marcelo Andrade;
- punir com a morte e espancamentos os crimes cometidos dentro do quilombo. Segundo Edison Carneiro:
"Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela "severa justiça" do quilombo. Os holandeses diziam (segundo relato do capitão João Blaer, de 1645) que 'entre êles reinava o temor, principalmente nos negros de Angola ... '".
- proibir atividades de feitiçaria no quilombo.
Segundo Marcelo Andrade, jurista, historiador e professor do Núcleo de Formação da Brasil Paralelo:
"Muitos negros vizinhos do Quilombo dos Palmares os odiavam, já que eles também eram assaltados e tiveram parentes escravizados pelos quilombolas".