“PROCURA-SE
Marighella
Chefe Comunista — crítico de futebol em Copacabana — fã de cantadores de feira — assaltante de bancos — guerrilheiro — grande apreciador de batidas de limão”
No dia 20 de novembro de 1968, com essa interessante descrição, a revista Veja apresentou ao Brasil quem é Carlos Marighella, inimigo número um do Regime Militar.
Exaltado por alguns como figura da resistência, criticado por outros, Marighella sem dúvidas foi uma importante personagem nacional. Conheça sua vida e biografia.
Carlos Marighella nasceu em Salvador, no dia 5 de dezembro de 1911, filho primogênito dos sete filhos de Augusto Marighella e Maria Tereza Marighella. Seu pai nasceu na Itália, país onde foi ensinado a defender as ideias anarquistas. Sua mãe era descendente dos Hauçás, povo africano que se espalha da Nigéria ao Sudão.
Augusto influenciou desde cedo as ideias de Marighella. Os ideais anarquistas, a defesa da emancipação da classe trabalhadora: todos estes pontos por que Marighella militou, herdou de seu pai.
Carlos Marighella também foi influenciado pelo pai a percorrer todo o ciclo escolar, completando o ensino secundário e o estudo de Ciências e Letras.
Durante seu período escolar, Marighella desenvolveu gosto pela escrita. Um poema de sua autoria foi usado para responder uma prova de física:
“Prova em Verso
Doutor, a sério falo, me permita,
Em versos rabiscar a prova escrita.
Espelho é a superfície que produz,
Quando polida, a reflexão da luz.
Há nos espelhos a considerar
Dois casos, quando a imagem se formar.
Caso primeiro: um ponto é que se tem;
Ao segundo um objeto é que convém
Seja figura abaixo que se vê,
O espelho seja a linha beta cê.
O ponto P um ponto dado seja,
Como raio incidente R se veja.
O raio refletido vem depois
E o raio luminoso ao ponto 2.
Foi traçada em seguida uma normal,
O ângulo I de incidência a R igual (…)”.
Em 1931, Marighella ingressou no curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia. Sua vida como ativista político e militante comunista se iniciaria nesse momento. Com apenas um ano de estudos, participou da ocupação da Faculdade de Medicina da Bahia contra o governo inconstitucional de Vargas.
Junto a outros 500 estudantes, enfrentou o governo provisório. Marighella foi preso nesta ocasião.
Assim que foi solto, filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCB). Por sua filiação a um partido ilegal, foi impedido de concluir seu curso universitário.
Em 1934, Marighella tornou-se um dos dirigentes do PCB, conhecido como partidão. Ele foi o responsável por organizar o braço do grupo na Bahia. No ano seguinte, o Brasil viveu uma tentativa de golpe comunista: a Intentona Comunista.
O governo de Vargas reagiu com o endurecimento das perseguições contra os comunistas. Em 1935, mesmo ano do levante comunista, Carlos Marighella foi para o Rio de Janeiro, tendo sido eleito dirigente nacional do PCB.
A perseguição aos comunistas promovida por Vargas levou Marighella a um novo cárcere. Filinto Müller foi o responsável pela prisão e tortura de Marighella.
Em 1937, depois de dois anos de prisão, Marighella foi solto por meio de um processo judicial. Manifestações políticas pressionaram o governo pela liberdade dos integrantes do PCB.
Apesar da liberdade, em apenas 5 meses longe das celas, Marighella foi preso outra vez. O governo usou o programa de rádio nacional para denunciar um suposto Plano Cohen que articulava um novo golpe comunista.
Posteriormente, descobriu-se que o plano foi uma armação do general Olímpio Mourão Filho, aliado de Vargas. O ditador Vargas, utilizando-se do suposto risco iminente, outra vez declarou estado de emergência no país e endureceu o seu regime.
Os membros do PCB foram outra vez perseguidos e presos. A liberdade de Marighella só viria com o fim da Era Vargas.
Em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, o governo de Vargas teve seu desfecho. A nova república anistiou presos políticos e instaurou uma constituição democrática. Marighella foi libertado e concorreu nas eleições como Deputado Federal constituinte pela Bahia.
Sua atuação na elaboração da nova constituição concentrou-se em defender o casamento civil e o divórcio, além de questionar a forma como a liberdade religiosa foi posta na carta de 1934.
Contudo, o período de legalidade política de Marighella seria breve.
Diante do cenário de Guerra Fria, em 1947, o Partidão foi outra vez posto na ilegalidade. O Tribunal Superior Eleitoral ajuizou uma ação que proibia as operações do partido no Brasil. O argumento é que eles faziam ponte para a instalação dos interesses russos no Brasil.
Em 1957, o Partido voltou à legalidade a partir de um ato de Juscelino Kubitschek. Só que em 1964 Marighella enfrentaria a perseguição mais intensa de toda sua trajetória como militante comunista.
Em 1961, Jânio Quadros renunciou à presidência do Brasil e quem assumiu foi seu vice, João Goulart, que tinha ligações com as outras ditaduras populistas latino-americanas. Ele estava na China comunista de Mao Tsé-Tung quando houve a renúncia.
Jango sustentava teses de esquerda, mesmo que o Brasil não as quisesse. Ele começou uma política econômica intervencionista, desenvolvimentista, emissionista e inflacionária. A inflação atingiu 100% ao ano e a situação era insustentável.
Em meio a tudo isso, Goulart concluiu que o melhor era se unir à extrema esquerda e ainda encorajava os grupos a fazer greves para pressionar o Congresso.
Com a presença da KGB no Brasil, com guerrilheiros treinados em Cuba e com a ajuda da STB, as tensões só aumentaram.
Em 1962, já se sabia da existência de pelo menos oito campos de treinamento das ligas camponesas do Brasil que tiveram treinamento de guerrilha em Cuba. O país estava tomado por uma tensa polarização.
Diante do quadro de tensão, Marighella defendeu a necessidade de o PCB organizar uma resistência armada. A ideia não foi bem recebida pela diretoria do partido, o que levou a um afastamento de Carlos Marighella da organização.
Na madrugada de 31 de março de 1964, correu o boato de que tropas do exército saíram do Rio de Janeiro e de Minas Gerais rumo à Brasília para depor o presidente.
Marighella, consciente de que seria alvo dos militares, fugiu na madrugada com sua esposa. Vivendo na ilegalidade, fugia constantemente dos militares e da perseguição do novo regime
Em 1967, Carlos Marighella passou um período em Cuba. A ilha era um local que oferecia treinamento de guerrilha para pessoas que desejassem militar pelo socialismo ao redor do mundo. Marighella recebeu esse treinamento antes de retornar ao Brasil.
Ainda em Cuba, foi expulso do PCB por ter escrito uma carta discordando do posicionamento do partido.
Assim que retornou ao Brasil, em 1968, fundou um grupo focado na luta armada. Assim Marighella fundou a Aliança Nacional Libertadora (ALN), em 1968.
A organização concentrava militantes dissidentes do PCB e outros defensores da derrubada do regime a partir da luta armada.
O grupo guerrilheiro foi responsável por uma ação impactante: o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick. O resgate do político foi a soltura de 15 presos políticos.
Dentre as ações de que a ALN era acusada, constavam:
Muitos dizem que o objetivo era a luta pela democracia, mas críticos embasados nos próprios dizeres dos membros do grupo e em futuras testemunhas alegavam que o real objetivo era substituir a ditadura militar pela ditadura do proletariado.
O Marighella, que muitas vezes é retratado em livros de história e foi recentemente romantizado nas telas do cinema, pode estar distante do que realmente foi o personagem real.
As notícias sobre crime, medo e sangue marcaram presença na vida dos brasileiros. Assaltos a bancos e a estabelecimentos comerciais, explosão de bombas em lugares públicos, fuzilamento e tortura de pessoas inocentes. Os revolucionários assassinavam até mesmo seus próprios colegas que quisessem desistir da luta armada.
Alguns dos terroristas da época passaram a ser venerados como heróis nacionais. E o trauma da ditadura militar parece ter colaborado para que a percepção pública vencedora sobre a atuação desses grupos fosse apenas a de “uma luta da democracia contra a ditadura”.
Os revolucionários não lutavam por liberdade, democracia ou direitos humanos, mas queriam substituir a ditadura militar por uma ditadura proletária, socialista.
Alguns grupos usaram a demanda de derrubar a ditadura militar como pretexto para defender a instauração da ditadura comunista. O ambiente era propício e, com crescente apoio da população à volta democrática, muitas vezes tornava-se difícil distinguir um grupo de outro.
Carlos Marighella foi co-responsável pela criação de um dos grupos terroristas mais radicais do país: a Aliança Libertadora Nacional.
Autor do livro Mini Manual do Guerrilheiro Urbano, publicado em junho de 1969, Marighella divulgou todas as táticas e objetivos dos grupos terroristas que seguiam à risca seus ensinamentos cruéis:
Veja um trecho de seu manual:
“É claro que o conflito armado do guerrilheiro urbano também tem outro objetivo. Mas aqui nos referimos aos objetivos básicos, sobretudo às expropriações. É necessário que todo guerrilheiro urbano tenha em mente que somente poderá sobreviver se está disposto a matar os policiais e todos aqueles dedicados à repressão, e se está verdadeiramente dedicado a expropriar a riqueza dos grandes capitalistas, dos latifundiários e dos imperialistas”. (Manual do Guerrilheiro Urbano, Sabotagem. Ed. 2003, p. 7).
Mesmo assim, em 2013, Marighella foi homenageado em sessão solene no Senado Federal pelo que chamaram de “luta social”. Ele também recebeu filmes que exaltavam seus feitos, mesmo que fossem de barbárie e de crime.
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Em 1969, os agentes do DOPS (Departamento de Operações Especiais) conseguiram emboscar o guerrilheiro. Foi descoberto pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury que Marighella mantinha contato com frades dominicanos em São Paulo.
Alguns desses religiosos foram detidos e obrigados a marcar um encontro com o guerrilheiro na Rua Alameda Casa Branca, no bairro Jardins. Na noite de 4 de novembro, Marighella se aproximou para encontrar os frades.
Frade Ivo e Frade Fernando estavam no local marcado. Junto deles, os delegados do DOPS estavam escondidos num carro. Assim que Marighella surgiu, os agentes deram voz de prisão. Segundo o boletim de ocorrência, Marighella sacou uma arma e foi logo alvejado pelos agentes.
Existem biógrafos que defendem que Marighella não estava armado. Existem 3 principais versões deste fato que são contadas:
Independente do que portava, foi morto com os tiros dos delegados do DOPS.
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