Getúlio foi o presidente que saiu da vida para entrar na história. Por alguns foi aclamado como pai dos pobres, por outros foi odiado como ditador populista. A Era Vargas deixou marcas profundas na vida do povo brasileiro e precisa ser estudada e analisada.
Este tema é tão importante para entender nossa realidade atual que a Brasil Paralelo produziu um filme sobre a Era Vargas.
Vários historiadores e jornalistas renomados foram reunidos para explicar uma dos momentos mais importantes da história brasileira.
Assista ao filme e junte-se a mais de um milhão de pessoas que já aprenderam com esta produção.
A Era Vargas foi um período de 15 anos, durante o qual Getúlio Vargas foi Presidente do Brasil continuamente entre 1930 e 1945. Seu governo variou do Provisório ao Constitucional e também a Ditadura do Estado Novo.
O Presidente aproximou-se de regimes totalitários e conduziu o país de forma populista.
A Era Vargas está dividida em três momentos principais:
O Brasil vivia a República Velha, República Oligárquica ou República do Café com Leite. O Partido Republicano Mineiro e Partido Republicano Paulista revezavam na presidência. A cada ano era escolhido um presidente de cada estado, alternando um presidente mineiro e um paulista.
O poder era dominado pelas duas elites cafeeiras mais poderosas, mantendo a população neste sistema por 20 anos.
Tudo mudou quando o Presidente da época, Washington Luís (Presidente de 1926 a 1930), indicou um paulista ao governo, quando deveria ter indicado um mineiro. Ele quebrou o acordo das oligarquias republicanas.
Por causa disso, Minas Gerais resolveu unir-se aos paraibanos e gaúchos para derrubar os paulistas nas eleições. Esta foi a Aliança Liberal.
Este novo grupo político lançou um candidato que entrou para a história, mudando o rumo das relações políticas no Brasil: Getúlio Vargas.
Getúlio Dornelles Vargas foi advogado, militar e ex-Presidente do Brasil. Foi o que ocupou o cargo por mais tempo (15 anos, de 1930 a 1945). Ao depor o 13º Presidente da República, Washington Luís, acabou com a República Velha. Também impediu a posse de Júlio Prestes, eleito em 1º março de 1930.
Getúlio nasceu em São Borja, Rio Grande do Sul, em 19 de abril de 1882.
Em 24 de agosto de 1954, ele se matou, deixando 5 filhos. Ao final do artigo, os detalhes deste acontecimento serão relatados com detalhes.
Getúlio Vargas foi considerado um autoritário amado, que sequer parecia autoritário. Durante o tempo de seu governo populista, surgia no mundo o Fascismo. Sua retórica era a mesma: vamos modernizar, olhar para o futuro e ter grandes lideranças para ser uma grande nação.
Getúlio tinha os elementos necessários para ser um fascista brasileiro, por causa de seu autoritarismo e forma de governo, como será explicado.
Foi neste contexto que a Aliança Liberal indicou o gaúcho Getúlio Vargas para concorrer contra Júlio Prestes. O paulista representava o conjunto das oligarquias de São Paulo e outras 19 unidades da federação.
Com uma larga vantagem, Prestes foi eleito Presidente da República. Sua posse ocorreria no simbólico 15 de novembro. Mas Vargas tinha outros planos.
Júlio Prestes jamais se sentaria na cadeira presidencial graças a uma nova revolução, outra tomada de poder. Um golpe de Estado.
As principais características do governo de Getúlio Vargas foram:
Os detalhes completos, com entrevistas e imagens reais de Getúlio na época em que esteve no poder, estão no filme Era Vargas – O Crepúsculo de um Ídolo.
Getúlio Vargas alegou fraude no processo eleitoral. Apoiado pela Aliança Liberal e pelo Movimento Tenentista, ele recusou-se a aceitar o resultado das urnas, iniciando uma conspiração.
Em reuniões secretas, militares e políticos planejavam a queda de Washington Luís e o impedimento da posse de Júlio Prestes.
Getúlio à Revista Globo, 20 anos após o Golpe de 1930:
“Em 1930, preparando a Revolução, fui obrigado a fazer um jogo duplo: de dia mantinha a ordem para o governo federal e à noite introduzia os conspiradores no Palácio”.
João Pessoa era governador da Paraíba e candidato a vice na chapa de Getúlio, quando foi morto a tiros em uma confeitaria em Recife.
Ainda hoje, discute-se se o caso estava ligado a questões políticas nacionais ou se foi o resultado de uma desavença de João Pessoa com um adversário na política de seu estado, envolvendo até mesmo questões passionais.
Getúlio Vargas e a Aliança Liberal aproveitaram o incidente para justificar uma ação mais enérgica, apressando a mobilização armada de seus partidários.
A culpa da morte era sempre atribuída ao governo de Washington Luís, por meio de discursos inflamados e cheios de comoção.
Sob este pretexto, o golpe teve dia e hora para começar: 3 de outubro de 1930, às 17 horas.
Tudo começou em Porto Alegre com a tomada do quartel-general da Terceira Região Militar. No ataque, aconteceram as primeiras mortes da revolução, que logo se alastrou por todo o país.
Apesar de oferecer notável resistência, os governos estaduais foram depostos sem grandes dificuldades pelos militares revolucionários. Em meados de outubro, a revolução dominava metade dos estados brasileiros.
Tropas mineiras e gaúchas marchavam para o Rio de Janeiro enquanto Vargas aguardava em Curitiba por notícias dos fronts de batalha.
No final do mês, os militares chegaram ao Rio de Janeiro e depuseram Washington Luís com um golpe militar. Estabeleceram uma Junta Provisória, que entregaria o poder a Getúlio no início de novembro daquele ano.
Na tarde de 1º de novembro de 1930, no Palácio do Catete, Getúlio Vargas assumiu a Presidência. Era o fim da República Velha e das oligarquias estaduais.
Ao mesmo tempo, soldados gaúchos cumpriam a promessa de amarrar seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, marcando simbolicamente o triunfo da revolução.
Getúlio Vargas tornou-se chefe do Governo Provisório com amplos poderes. A Constituição de 1891 foi revogada, o Congresso Nacional foi dissolvido e o ditador passou a governar por decretos.
Além disso, com a Constituição de 1934 foram criadas as bases da legislação trabalhista e foram sancionados tanto o voto secreto quanto o voto feminino. A Era Vargas foi estendida, uma vez que Getúlio obteve outro mandato do Congresso.
O ex-Presidente Washington Luís foi preso e conduzido ao forte de Copacabana, de onde seria encaminhado para o exílio nos Estados Unidos. A prisão foi também o destino de muitos outros políticos, como Júlio Prestes.
Os governadores estaduais que apoiavam o antigo governo já haviam sido depostos nos movimentos da revolução. Depois disso, foram substituídos por interventores nomeados por Vargas.
Assim, tenentes inexperientes que participaram da revolução passaram a comandar estados brasileiros.
Foi neste contexto que outra revolução foi armada; outro golpe de Estado.
Como se a complicada relação de Getúlio com os paulistas não fosse suficiente, tudo se tornou mais complicado quando um militar pernambucano foi nomeado governador de São Paulo.
A escolha de João Alberto Lins de Barros acirrou de vez os ânimos, afinal o personalismo político se sobrepõe às instituições.
Cansados das interferências da Ditadura de Vargas e inconformados com a falta de uma Constituição Federal, os paulistas arquitetaram uma revolta armada.
Em 23 de maio de 1932, durante um protesto contra o governo Vargas, quatro jovens paulistas foram mortos por tropas getulistas. A tragédia foi o estopim para que em 9 de julho daquele ano fosse formada a junta revolucionária “MMDC”.
O nome do grupo era formado com as iniciais dos jovens assassinados: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.
A revolução militar comandada pelo MMDC começou no dia 9 de julho de 1932 e terminou no mesmo ano. Em um país tomado pelas instabilidades políticas, os novos confrontos já não eram mais tão assustadores.
Depois de três meses de guerra civil, com mais de 200 mil homens envolvidos, as tropas getulistas derrotaram as paulistas. A rendição ocorreu em 2 de outubro.
Em 3 maio de 1933, foram realizadas eleições para a Assembleia Constituinte que lançaria as bases para a nova Constituição do país em 1934.
A nova Constituição foi aprovada em 17 de julho de 1934 e, com ela, em uma eleição indireta, Getúlio Vargas foi finalmente eleito Presidente da República.
A nova Constituição nacionalizou o subsolo, bancos, seguradoras e fechava o Brasil para o comércio externo por causa do protecionismo. O modelo varguista estava alinhado com um país socialista e fascista.
Entenda mais sobre a identificação de Vargas com os fascistas:
Seguindo as práticas populistas implementadas por Joseph Goebbels na Alemanha Nazista, Vargas passou a utilizar o rádio como principal instrumento de difusão da propaganda governista.
Com o nome original de “Programa Nacional”, o programa “A Voz do Brasil” foi criado em 22 de julho de 1935, revolucionando a comunicação entre o governo e a população. Assim, a figura do Presidente aproximou-se muito do povo.
Esta estratégia centralizadora não era novidade. Pouco antes de instrumentalizar o rádio, Vargas já havia reestruturado a educação formal brasileira, que passava a seguir diretrizes padronizadas pelo poder central.
Para realizar suas ambições de remodelar o imaginário nacional, Vargas precisava usar a elite letrada do país para contribuir para seus objetivos.
De forma muito perspicaz, Getúlio cooptou intelectuais para reforçar na população brasileira as crenças necessárias para o sucesso de suas medidas de governo.
É este mesmo Getúlio que prende Graciliano Ramos e Gilberto Freyre. Ele queria o intelectual a seu lado, desde que colaborasse.
O mundo estava enfrentando uma onda centralizadora e autoritária, o despertar nazifascista, o totalitarismo europeu, o estalinismo imperando…
Muitos acreditavam que o liberalismo havia realmente morrido. As monarquias europeias estavam enfraquecendo, e os que tinham a autoridade via sangue, dinastia, treinados desde o berço para viver para a nação e não para si, foram substituídos por governantes populistas.
Com a sociedade de massa, destacavam-se os sindicalistas, comunistas, socialistas, marxistas e populistas.
Durante todo o século XX, a influência das ideologias modernas foi sentida pela ação dos tiranos. Eram eles quem fomentavam paixões supostamente igualitárias entre as massas.
Apesar das aparências de justiça social, o que buscavam era o controle, o poder total. O resultado invariável era a morte, a miséria e a destruição.
Os líderes passaram a ser tratados como deuses, o culto à personalidade era uma das marcas destas ideologias. Lênin e Stálin eram quase onipresentes na vida das vítimas deste sistema. O mesmo valia para Mussolini e Hitler.
Getúlio adotou a mesma postura no Brasil. Suas fotos, sua presença no rádio, seu poder totalitário, tudo remetia ao que se passava do outro lado do oceano. Conheça a Face Oculta de Getúlio Vargas:
Neste contexto, a radicalização político-ideológica estava se intensificando. Como resultado, dois aparentes opostos se estabeleceram:
A oposição era aparente porque, no final das contas, ambos os movimentos queriam a mesma coisa: concentrar o poder de forma autoritária e governar de modo totalitário e arbitrário.
Durante muito tempo, Vargas tirou proveito de ambos os movimentos. Com habilidade e oportunismo, engajou comunistas e integralistas.
Ele utilizava-se de ambas as vertentes a seu favor, comparecendo a eventos políticos de ambos ao trocar favores com seus líderes. Na verdade, simpatizava tanto com os comunistas quanto com os integralistas.
As lideranças comunistas acusaram Vargas de caminhar para uma ditadura fascista. Eles passaram a postular o poder para si mesmos e tornaram-se inimigos do Presidente.
O primeiro grande ataque foi feito pelos comunistas. Em mais uma tentativa de golpe contra a República brasileira, o capitão do exército convertido ao comunismo, Luís Carlos Prestes, comandou um levante — a Intentona Comunista.
Prestes articulava diretamente com a direção da Internacional Comunista, que mantinha junto ao golpista um grupo de militantes comunistas internacionais. Entre eles, figurava a companheira de Prestes, a alemã Olga Benário.
A Intentona Comunista serviu de pretexto para que Vargas perseguisse não só os comunistas, mas também os anarquistas, sindicalistas e até mesmo políticos liberais adversários.
Novas leis que restringiam as liberdades individuais foram impostas. A desculpa era o combate à subversão, mas a realidade era a concentração do poder.
Logo após a Intentona, as eleições se aproximavam e Vargas poderia perder a Presidência pela via democrática. Foi então que Getúlio aproveitou-se de um falso plano que representaria uma nova revolução comunista para justificar a necessidade de um golpe de Estado.
A Era Vargas estende-se porque Getúlio alegou a existência do Plano Cohen. Segundo o Presidente, comunistas nacionais e estrangeiros conspiravam para derrubá-lo.
Getúlio Vargas declarou Estado de Sítio, portanto, o Congresso Nacional foi fechado e os poderes legislativo e judiciário foram suspensos. A Constituição de 1934 foi anulada.
O caminho estava livre para Vargas iniciar a ditadura mais rígida que o Brasil conheceu em sua história.
Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas, agora ditador, dirigiu-se ao povo brasileiro com o “Manifesto à Nação”, promulgando uma nova Constituição e instaurando o Estado Novo.
A Constituição de 37 ficou conhecida como “Polaca”, por ter sido inspirada pela da Polônia, de tendência fascista. A fim de justificar as medidas autoritárias e centralizadoras, Vargas disse:
“É a necessidade que faz a lei: tanto mais complexa se torna a vida no momento que passa, tanto maior há de ser a intervenção do estado no domínio da atividade privada”.
Ele teve inclusive o apoio da maior parte da sociedade brasileira. Desde 1935 a propaganda anticomunista era reforçada, gerando medo e levando-os a concordar com a centralização política.
Vargas representou a personificação da tirania estatal. Por decreto, ele extinguiu todos os partidos políticos — uma atitude emblemática daqueles que buscam o poder total, concentrando tudo em suas mãos.
Todos os prefeitos passaram a ser nomeados pelos governadores dos estados. Estes, por sua vez, eram nomeados por Vargas. Era a falência da democracia!
Além de controlar todas as instâncias, Getúlio queria diminuir o poder dos estados, inaugurando uma falsa Federação. Para isso, um ato simbólico foi realizado. Em uma cerimônia digna da Alemanha Nazista, as bandeiras dos estados foram queimadas.
Estava proibido ostentar bandeiras e outros símbolos estaduais. Qualquer demonstração de regionalismo era uma afronta ao novo regime.
Francisco Campos, Ministro da Justiça de Vargas, afirmou:
“Bandeira do Brasil é hoje a única. Hasteada a esta hora em todo o território nacional, única e só, não há lugar no coração dos brasileiros para outras flâmulas, outras bandeiras, outros símbolos”.
No contexto da formulação do novo Brasil, estava proibido o ensino de línguas estrangeiras. Esta prática era muito comum em locais de colonização alemã e italiana.
Mesmo em setores mais banais, como o futebol, o nacionalismo artificial e forçado passou a ser lei, razão pela qual o clube Palestra Itália passou a se chamar Palmeiras, por exemplo.
Para silenciar os opositores, o governo criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP.
Seguindo a escola da União Soviética e outros países comunistas, a censura da imprensa, marca pragmática das ditaduras do século XX, não poderia ser deixada de fora das medidas do Estado Novo.
O DIP censurava jornalistas e produzia peças de propaganda enaltecendo o governo, com a finalidade de transformar Getúlio Vargas em um mito.
Além da censura dos meios de comunicação, a atividade política foi reprimida e os opositores políticos perseguidos e presos.
Ele foi o primeiro brasileiro a fazer propaganda pessoal em larga escala, criando um verdadeiro culto à sua personalidade, típico do nazismo-fascismo e do comunismo.
O rádio e o jornal propagavam Vargas como o “pai dos pobres”, o homem que lideraria a nação ao seu progresso e desenvolvimento.
Neste episódio da história, notamos uma cultura brasileira antidemocrática, mesmo que ela não tenha se dado conta disso. Afinal, enaltecia a figura paterna do Presidente que cuidava do povo desde o berço até o túmulo.
Ele se apresentou como um pai, como Lula também se apresentou. Eram homens que compreenderam a necessidade que o povo tinha de um governante assim.
A intervenção do Estado, tão nociva para a economia, deixou sua marca em diversos setores.
Houve congelamento dos preços dos aluguéis, somado a uma série de regulações de contratos imobiliários com o objetivo alegado de aliviar o custo de vida dos trabalhadores. Mas o resultado foi a escassez de moradias e inquilinos despejados e desabrigados.
O que Vargas conseguiu foi uma piora significativa na qualidade habitacional, insegurança jurídica, aumentos expressivos nos preços e na escassez de moradias.
Exatamente o contrário do proposto, apesar da propaganda estatal continuar enganando a população e reforçando a imagem do presidente como “pai dos pobres”.
Ele também fez propaganda de si mesmo por causa da CLT com toda a abrangência das leis trabalhistas. O que ignoramos, no entanto, são as consequências disso:
A longo prazo as leis trabalhistas prejudicam os trabalhadores, aumentando o chamado “Custo Brasil”.
Por que investir no Brasil é tão desvantajoso?
Os impostos e encargos trabalhistas sobrecarregam em excesso as empresas, gerando a inflação que corrói o valor dos salários, diminuindo seu poder de compra, resultando no empobrecimento geral da população.
O “Custo Brasil” faz com que as empresas contratem menos pessoas e afasta investidores estrangeiros, que preferem economias que dão mais retorno ao seu investimento.
Os dois polos que se enfrentaram na Segunda Guerra Mundial foram:
Getúlio era simpático ao Eixo.
Ele torcia pelo lado totalitarista e queria apoiar o Eixo na Segunda Guerra. Seus atos de governo estampavam isso. O que já vimos da Era Vargas até agora demonstra porque ele tinha afinidade com os países nos quais os governantes encarnavam o poder.
No entanto, o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados. Por quê? Apenas por causa dos acordos econômicos?
Não podemos nos esquecer que havia uma sensibilidade ocidental. Havia uma defesa da liberdade enraizada em nossa cultura. O povo brasileiro se manifestou em defesa de nossa entrada na guerra ao lado dos Aliados; estavam contra o Fascismo.
Nossa participação na Segunda Guerra contou com a ajuda de heróis que eram pessoas comuns, banais, provincianas. Os Pracinhas deram suas vidas pelo bom ideal.
É de se orgulhar do sacrifício destes grandes brasileiros que são lembrados até hoje pela maneira como lidaram com a população local. Seu trato afável com o povo e a partilha de alimentos com quem libertavam do domínio nazista são alguns exemplos disso.
Tivemos baixas, mas vencemos. Eles são veteranos, nossos heróis de guerra.
Ouça abaixo o áudio original do Exército Brasileiro cantando o hino nacional sob severo bombardeio:
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o cenário brasileiro não era favorável ao Presidente da República. O mundo livre saiu vitorioso nos campos de batalha e o governo de Getúlio Vargas já contava com muitos problemas.
Houve até mesmo o Manifesto dos Mineiros em 1943, no qual uma parte da elite intelectual mineira publicou um documento defendendo que o desenvolvimento nacional não dependia da ditadura para acontecer.
Além disso, pediam que Getúlio cedesse o cargo para uma transição democrática.
Em 1945, o Estado Novo entrou em colapso.
Em 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas renunciou ao cargo de Presidente da República.
Seu sucessor foi Eurico Gaspar Dutra, vencedor das eleições de 1945, no hiato entre o primeiro e o segundo período varguista. Getúlio, em troca de apoio à candidatura de Dutra, não teve seus direitos políticos cassados, não sofreu qualquer processo judicial, nem mesmo o exílio.
Mas não perdeu um forte opositor. Portanto, para entender melhor estes acontecimentos da Era Vargas, é preciso agora conhecer uma figura que desempenhou um papel importantíssimo no desdobramento desta história.
“Quem enriquece com dinheiro público não tem vocação para herói”.
Carlos Lacerda nasceu em 30 de abril de 1914, na cidade de Vassouras, Rio de Janeiro. Caçula de três irmãos, veio de uma família muito destacada no mundo acadêmico, em questões financeiras e no âmbito político.
Era prodígio, com inteligência diferenciada. Havia começado a trabalhar cedo nos jornais, entre seus 15 e 16 anos.
Sua tradição familiar foi formada pelas cores ideológicas do socialismo. Seu pai, Maurício Lacerda, era militante do Partido Comunista. Inclusive, seu nome era Carlos Frederico porque seu pai queria homenagear Karl Marx e Friedrich Engels.
Carlos Lacerda planejou movimentos operários nas ruas durante a Revolução dos anos 30. Ele chegou a ficar preso. Mas sua vida de revolucionário só durou até os 25 anos, quando brigou com Luiz Carlos Prestes e foi expulso do PCB.
Saiu da atmosfera de seita, de totalitarismo do comunismo. Entrou para a UDN, depois foi eleito vereador.
Buscando apoio financeiro, reuniu centenas de acionistas e fundou um jornal, a Tribuna da Imprensa, em 27 de dezembro de 1949. Logo, consolidou o veículo como o principal jornal oposicionista do país.
Passou a defender o anticomunismo, porque tinha percebido que se tratava da pior das ditaduras.
Carlos Lacerda recebia cada vez mais notoriedade ao se opor a Getúlio Vargas.
Entre 1930 e 1945, foram quinze anos de turbulência até a renúncia. Durante o Governo Dutra, Getúlio se isolou em sua fazenda em São Borja. Ele parecia ser a carta “fora do baralho” na disputa presidencial de 1950.
Contudo, o jornalista Samuel Wainer foi até Getúlio em sua fazenda e fez uma grande entrevista com ele.
Esta foi lida pelos atores políticos do país como a volta de Getúlio ao cenário político brasileiro. Nas campanhas seu nome retornou e preocupou os opositores do país.
Ele havia governado por 15 anos consecutivos e estava ausente por apenas 4 anos.
O Brasil havia feito uma nova Constituição democrática em 1946, começou a buscar um caminho de redemocratização e, nas primeiras eleições após a Constituição e redemocratização Getúlio Vargas ameaçava voltar a ser eleito.
Os 15 anos da Era Vargas haviam terminado, mas os temores de Carlos Lacerda e da oposição foram confirmados em 19 de abril de 1950, quando a candidatura de Getúlio Vargas foi confirmada. Iniciou-se, então, uma forte pressão da imprensa contra o ex-ditador.
Carlos Lacerda publicou na Tribuna da Imprensa:
“O Sr. Getúlio Vargas não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.
Getúlio Vargas, com 68 anos, percorreu todas as regiões do Brasil em sua campanha eleitoral, visitando um total de 77 cidades.
Fazendo valer sua fama de “populista”, Getúlio reapresentou-se ao povo brasileiro como o “pai dos pobres”.
Em sua oratória, voltou a sustentar sua velha política patrimonialista, mas agora com tintas progressistas. Durante esta jornada, Getúlio proferiu uma das sentenças mais inesquecíveis de sua vida:
“Se for eleito em 3 de outubro, no ato da posse, o povo subirá comigo as escadas do Catete. E comigo ficará no governo”.
Ele personificou o poder moderador que o Imperador um dia teve. A sociedade não via nele um político, mas um pai. Getúlio conseguiu distanciar seu exercício de governo da ideia de ser um político.
Assim, voltou aos braços do povo.
Em 3 de outubro de 1950, Getúlio Vargas saiu vitorioso nas eleições presidenciais com 49% dos votos. Isto não significa que voltou sem oposição entre os liberalistas e os nacionalistas.
A partir do retorno de Vargas ao poder, agora legitimado pelo voto popular, Carlos Lacerda intensificou seus ataques contra o Presidente.
Em sua Tribuna da Imprensa, Lacerda estampava manchetes e escrevia artigos criticando a figura do Presidente Vargas. No dia da posse, a capa do jornal trazia uma manchete catastrofista:
“RUMO AO DESCONHECIDO”.
O Brasil tinha uma lei que proibia os estrangeiros de controlar os grupos de comunicação. Assim aconteceu que Carlos Lacerda descobriu que um jornalista financiado por Getúlio, Samuel Wainer, era judeu.
Este jornalista recebia dinheiro do Banco do Brasil para cuidar do editorial do jornal, evidentemente, enaltecendo Vargas.
Pior, Wainer era um judeu com registros alterados para ter os mesmos benefícios de um brasileiro nativo. Abaixo, você pode ouvir o exaltado discurso de Carlos Lacerda contra Samuel Wainer e o Banco do Brasil a serviço de Vargas:
Estes eventos acabaram levando a uma rivalidade extrema entre Lacerda e Vargas, intensificando-se ao ponto de um acontecimento que mudaria drasticamente o rumo da política brasileira.
Na noite de 5 de agosto de 1954, percebendo a aproximação de um atirador, o Major Rubens Vaz, guarda pessoal de Carlos Lacerda, tentou impedir que o jornalista fosse assassinado e morreu em seu lugar.
Os militares investigavam para saber quem havia assassinado o major da aeronáutica. Portanto, foi montado um inquérito policial-militar. Até mesmo foi considerada a possibilidade do ocorrido ser ordem de Getúlio.
Lacerda acreditava que o irmão de Vargas havia sido o mandante. Com as investigações, chegaram ao nome do guarda pessoal de Vargas. O Presidente passou a ser visto como um tirano injustificado.
Por causa deste atentado da Rua Tonelero, a pressão para a renúncia de Getúlio Vargas veio da imprensa, do poder político e da população brasileira.
O país entrou em crise. Houve manifestações, pancadaria e até mesmo o vice-presidente Café Filho sugeriu que ambos renunciassem, mas Vargas recusou.
Com todos os setores da sociedade mobilizados contra o Presidente e a favor de sua renúncia, o Brasil estava prestes a conhecer um de seus maiores traumas.
O anúncio do suicídio de Vargas no rádio em 24 de agosto de 1954:
Foi um ato extremo, mas foi político. Seu suicídio pode ser interpretado por alguns como vingança. Ao se matar, ele criou a subsistência de seu sistema político.
Ele escreveu uma carta-testamento com frases impactantes, como a célebre:
“Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”.
Ele se mantém no imaginário como um grande líder. Vargas é um suicida estratégico. Deu-se um tiro no peito e não no rosto. Ele entendeu que precisava manter seu rosto limpo. Precisava morrer, ser lembrado e não desfigurado.
Ele censurou, perseguiu e permaneceu popular.
Desta forma, inaugurou a necessidade de um político que fosse um pai, com força e autoridade.
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