Edmund Burke é considerado por autores como Russel Kirk e Roger Scruton como o pai do conservadorismo moderno. Seus escritos como jurista e filósofo criticam revoluções que buscam alterar a ordem social sem preservar as tradições sociais que funcionam.
A carreira de Burke como político do Partido Whig, orador, polemista e filósofo, fizeram com que seu nome ecoasse como um dos autores mais influentes da história moderna.
Conheça o pensamento, as principais ações e a vida de Edmund Burke.
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Por que Burke se tornou o pai do conservadorismo moderno?
A busca por conservar elementos sociais tradicionais face à Revolução Francesa fez Edmund Burke ser considerado o pai do conservadorismo moderno. Burke foi contemporâneo da Revolução Francesa, acompanhando de perto as agitações civis e as propostas de seus líderes.
Os jacobinos buscavam não apenas uma sociedade mais justa, mas uma reforma dos costumes, da estrutura política, da religião e de muitos outros elementos essenciais para a fundação da cultura ocidental e da França.
Ao se deparar com o furor revolucionário, Edmund Burke escreveu em 1790 um de seus livros mais importantes: Reflexões Sobre a Revolução Francesa.
Um dos trechos do livro resume a essência de seu pensamento:
“É impossível estimar a perda que resulta da supressão dos antigos costumes e regras de vida. A partir desse momento não há bússola que nos guie, nem temos meios de saber a qual porto nos dirigimos.
A Europa, considerada em seu conjunto, estava sem dúvida em uma situação florescente quando a Revolução Francesa foi consumada.
Quanto daquela prosperidade não se deveu ao espírito de nossos costumes e opiniões antigas não é fácil dizer; mas, como tais causas não podem ter sido indiferentes a seus efeitos, deve-se presumir que, no todo, tiveram uma ação benfazeja” (Burke, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França [1790]. Brasília: ed. UnB, 1982 p.102).
A Revolução Francesa foi responsável pelo assassinato de mais de 50 mil pessoas, afirma O Livro Negro da Revolução Francesa, escrito por diversos especialistas. Líderes da ala radical da Revolução também foram decapitados pelos seus colegas, como foi o caso de Robespierre e Jean-Paul Marat.
A reação de Burke a tamanha violência e desordem fez seu pensamento político repercutir pelo mundo, gerando uma das principais teorias do conservadorismo político.
Conservar o melhor da velha ordem do antigo regime sem assumir uma postura reacionária e
ao mesmo tempo, admitir certos elementos das mudanças sociais orgânicas, sem tomar atitudes revolucionárias.
O pensamento político de Edmund Burke foi elaborado após diversos estudos e produções literárias filosóficas.
Pensamento filosófico de Burke
O pensamento do autor irlandês seguia a linha das teses de Aristóteles e Santo Tomás de Aquino. Uma das principais bases do pensamento de Burke era o Direito Natural.
No livro Reflexões Sobre a Revolução Francesa, ele se mostra preocupado com o pensamento revolucionário que afirma a total ou quase total "plasticidade da natureza humana e social".
Seus escritos buscavam responder os revolucionários de seu tempo que defendiam que o ser humano poderia assumir a conduta moral e social que desejasse, como postulavam Protágoras e Górgias, sofistas e precursores do relativismo moral.
Para Edmund Burke, o intelecto humano é capaz de conhecer as regras da realidade que estipulam limites para o indivíduo e para sociedade. Por exemplo: Usando a razão é possível constatar que comer em excesso é ruim para a saúde. O exagero é perigoso e todos podem senti-lo por si mesmos.
Há excesso e a razão evidencia que é perigoso. Da mesma forma, não há exceção à regra de que a soma dos ângulos internos de um triângulo é de 180°.
Do ponto de vista social, Burke defendia ser perceptível que certas realidades estão acima do poder de relativização dos indivíduos e do Estado. Alguns trechos do livro Reflexões Sobre a Revolução Francesa mostram esse seu pensamento:
defesa do Direito Natural:
“estou tão longe de negar em teoria os verdadeiros direitos dos homens quanto meu coração, de negá-los na prática".
direito natural da religião:
"Nós sabemos e, o que é melhor, sentimos interiormente que a religião é a base da sociedade civil e a fonte de toda a felicidade.
[...] Sabemos, e é nosso orgulho, que o homem é, pela sua natureza, um animal religioso; que o ateísmo é não somente contra nossa razão mas também contra nossos instintos, e que não pode prevalecer por muito tempo".
“[...]propriedade privada, de que o Estado não é proprietário [...] mas somente guardião e regulador.
[...] é à propriedade do cidadão, e não às exigências do credor do Estado, que é feito o primeiro e original voto da sociedade civil".
o Estado como defensor do Direito Natural:
"[O sentimento religioso] não só construiu, como um sábio arquiteto, o augusto edifício do Estado, mas também, como um proprietário providencial, preservou essa estrutura da profanação e da ruína.
Essa consagração foi feita para que todos aqueles que ocupam um cargo no governo dos homens, no qual agem como o próprio Deus, deveriam ter altas e valiosas noções de suas funções e objetivos; sua esperança deveria ser repleta de imortalidade.
Não deveriam procurar as riquezas desprezíveis do momento, nem os elogios efêmeros e transitórios do vulgar, mas sim uma existência sólida e durável para a parte permanente de sua natureza, assim como a glória e o renome eternos, no exemplo que eles deixarão, como uma rica herança ao universo.
Esses princípios sublimes deveriam ser incutidos naqueles que se encontram nessas situações elevadas, e estabelecimentos religiosos deveriam ser providos para que pudessem continuamente alimentá-los e dar-lhes mais força.
Todas as instituições morais, civis e políticas, auxiliando as ligações racionais e naturais que aproximam a razão e o espírito humanos à divindade, são necessárias à construção desse maravilhoso edifício que é o Homem, cuja prerrogativa é ser, em alto grau, resultado de sua própria criação".
Burke não foi apenas um teórico, ele foi eleito deputado e atuou ativamente para defender o Direito Natural e as tradições inglesas na Casa dos Comuns.
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Atuação política de Edmund Burke
A vida política de Edmund Burke começou após o sucesso de sua vida intelectual. Burke se estabeleceu como advogado e intelectual em Londres, tendo dirigido revistas e fundado um clube de estudos com Adam Smith e outros intelectuais renomados.
Após a publicação das obras A Vindication For Natural Society e A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful, Burke tornou-se famoso entre aristocratas e intelectuais ingleses.
Suas ambições políticas começaram a se concretizar quando foi nomeado secretário do governador da Irlanda, William Gerard Hamilton, em 1761.
Em 1765, Burke deixou o cargo e foi nomeado secretário do Primeiro Ministro da Inglaterra, que também era líder do Partido Whig.
Neste mesmo ano, Burke se candidatou a deputado e foi eleito para a Casa dos Comuns, cargo que exerceu por 30 anos. Segundo o livro Life of the Right Honourable Edmund Burke, de Sir James Prior, algumas das principais atuações políticas de Burke foram:
defesa da diminuição da atuação do Estado na economia, fomento da economia de mercado e defesa das propriedades privadas contra atuações estatizantes do rei Jorge III;
defesa dos costumes conservadores ingleses contra as doutrinas iluministas;
condenação a perseguição do governo anglicano aos católicos, favorecendo o movimento político Emancipação Católica;