Tarcísio ao STF: Bolsonaro "jamais" falou em golpe. Veja o depoimento completo

Leia a íntegra do depoimento:

Alexandre de Moraes: “Bom dia, governador Tarcísio. 

Tarcísio: “Bom dia, excelência. Bom dia, ministro. Bom dia a todos.”

Alexandre de Moraes: “O senhor já foi devidamente qualificado: nome completo, idade, local de residência, profissão. Eu indago a Vossa Senhoria se tem algum parentesco com qualquer das partes ou alguma relação específica com elas.”

Tarcísio: “Não, excelência, nenhum parentesco.” 

Alexandre de Moraes: “Agradeço ao governador Tarcísio e passo desde já a palavra ao governador Tarcísio que é a testemunha do senhor Jair Messias Bolsonaro. Então passo a palavra ao Dr. Celso Vilardi.”

Celso Vilardi: “Bom dia, governador. Agradeço a presença de Vossa Excelência. Eu queria que o senhor iniciasse dizendo quando conheceu o presidente Jair Bolsonaro e quais os cargos que o senhor ocupou no governo dele.”

Tarcísio: “Bom dia, Dr. Celso. Eu conheci o presidente Bolsonaro ainda na transição, em 2018. Fui levado a ele na época a pessoa que estava indicada para ser ministro da Infraestrutura era o general Ferreira, que havia desistido, e algumas pessoas do nosso círculo de convivência me levaram, me apresentaram ao presidente Bolsonaro naquela época.

Ele me entrevistou, me inquiriu sobre a possibilidade de ser ministro da Infraestrutura e acabou então me designando para o Ministério da Infraestrutura, cargo que ocupei de 1º de janeiro de 2019 até 31 de março de 2022.”

Celso Vilardi: “Governador, o senhor se desincompatibilizou, foi candidato ao governo do estado de São Paulo e venceu a eleição.

Eu tenho aqui nos autos do processo os registros de visitas, e consta que o senhor teria estado com o presidente Bolsonaro entre os meses de novembro e dezembro: nos dias 15, 19 de novembro, 10, 14 e 15 de dezembro. O senhor confirma que esteve com o presidente?”

Tarcísio: “Confirmo. Estive nessas datas com o presidente Bolsonaro.”

Celso Vilardi: “O senhor estava em Brasília nesse momento? O senhor esteve pessoalmente? Como é que isso aconteceu?”

Tarcísio: “A eleição ocorreu no dia 30 de outubro, no dia 1º de novembro eu permaneci em São Paulo, no dia 2 eu fui aos Estados Unidos. Eu peguei um período ali para descansar. Passei aproximadamente 10 dias nos Estados Unidos.

Quando eu voltei, iniciei os trabalhos de transição e também de mudança. Naquela época eu tinha estado no ministério, minha família morava em Brasília, e com frequência eu vim a Brasília para cuidar dessa questão da mudança. E, obviamente, toda vez que eu ia a Brasília eu fazia a visita ao presidente Bolsonaro, pela consideração que eu tinha, pela relação de amizade, pela relação de proximidade, pela gratidão que eu tinha ao presidente Bolsonaro.

Então, em toda oportunidade de ir a Brasília, eu passava, procurava ir ao Palácio da Alvorada para transmitir minha solidariedade, meu abraço, meu respeito e conversar com o presidente.”

Celso Vilardi: “Governador, em alguma dessas oportunidades, o senhor teve conhecimento de uma intenção do presidente Bolsonaro de praticar qualquer tipo de ato de ruptura institucional, golpe de Estado ou coisa que valha?”

Tarcísio: “Jamais, nunca, assim como nunca tinha acontecido durante o meu período no ministério, de janeiro de 19 até março de 22. Da mesma forma, nesse período em que eu estive presente com o presidente, nessa reta final, novembro, dezembro, nas visitas que eu fiz, de várias conversas, jamais tocou neste assunto, jamais mencionou qualquer tentativa de ruptura.

Eu encontrei um presidente que estava triste, resignado.

Na primeira visita eu tive a oportunidade de ver, inclusive, a situação de saúde, o presidente com erisipela, muito séria, com acessos no braço, onde ele tomava a medicação endovenosa.

Conversávamos sobre muita coisa e esse assunto nunca veio à tona.”

Celso Vilardi: “Governador, durante essas conversas, especificamente em novembro e dezembro, principalmente nas últimas, de 15 de dezembro, o presidente fez algum comentário em relação ao governo que ia assumir, ao governo do presidente Lula, do PT?

Ele fez algum comentário nesse sentido com o senhor?”

Tarcísio: “O único comentário era de lamentar e a preocupação de que a coisa desandasse. Foi um período de 19 a 22 de muitas reformas, de enfrentamento de situações difíceis. 

O governo enfrentou pelo menos cinco graves crises. Começando com a tragédia de Brumadinho, passando pela crise da COVID, uma grave crise hídrica, guerra da Ucrânia, e todas elas procurando se sair da melhor maneira possível.

‍Um país que terminou com superávit, um país que terminou gerando emprego, crescendo. E a preocupação sempre era que a coisa desandasse, que houvesse uma interrupção no curso de reformas que foram importantes, uma preocupação com o futuro do país.

Conversávamos também, conversamos muito sobre a montagem do secretariado aqui em São Paulo.

Eu sempre buscava a orientação do presidente, pela sua experiência. Então, a gente sempre conversava sobre isso, basicamente. 

E as conversas sempre eram, como o presidente sempre teve comigo, no sentido de orientar, no sentido da amizade, da consideração que ele sempre teve com a minha pessoa.

Também no sentido de eu acertar, ele estava muito preocupado de eu acertar também, de eu fazer a coisa correta.

Procurava transmitir a experiência dele, o que ele acertou, o que ele errou, e passando para mim essa experiência para que eu também pudesse tomar as melhores decisões.

Uma preocupação, óbvio, com o futuro, que é uma preocupação que acho que todos nós tínhamos.”

Celso Vilardi: “Mas no pressuposto de que o presidente Lula iria assumir o governo?”

Tarcísio: “Sim, até porque vamos lembrar que a primeira visita que eu fiz foi em novembro, e naquela oportunidade, o presidente já tinha inclusive nomeado uma pessoa para liderar a transição.

‍A primeira visita que eu fiz ao presidente nesse período foi em 15 de novembro. O presidente tinha nomeado Ciro Nogueira, que era o chefe da Casa Civil, para liderar a transição no dia 5 de novembro. Então, coisa de 10 dias antes.

Então, já tinha uma pessoa designada para conduzir todo aquele processo de transição, a equipe de transição já instalada no CCBB, como é de praxe.

‍E eu me lembro até, já no final, na reta final, o presidente fazendo uma live dizendo: ‘Olha, tem a preocupação, mas nada termina com o novo governo. A vida segue, a vida continua’.”

Celso Vilardi: “Governador, nesse período de novembro e dezembro, o senhor manteve contato com alguma pessoa do alto escalão do governo? O senhor manteve algum tipo de conversa com pessoas do alto escalão do governo?”

Tarcísio: “Não, doutor. Só com o presidente Bolsonaro.”

Celso Vilardi: “O senhor teve conhecimento de algum fato que relacione o presidente Bolsonaro aos eventos que aconteceram em 8 de janeiro?”

Tarcísio: “Não, nenhum. O presidente sequer estava no Brasil.”

Celso Vilardi: “Estou satisfeito, ministro. Muito obrigado.”

Alexandre de Moraes: “Agradeço ao Dr. Celso Vilardi. Algum dos advogados ou advogadas de defesa deseja fazer alguma pergunta à testemunha?

Dr. Paulo Gonet, Procurador-Geral?

Então, eu agradeço ao governador Tarcísio de Freitas. A testemunha está dispensada. Um bom dia ao senhor.”

Tarcísio: “Bom dia, excelência. Bom dia a todos.”

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