O plano real consistiu em uma espécie de ajuste fiscal. Uma das causas da inflação era o desequilíbrio das contas públicas, segundo reportagem do jornal Nexo. Antes de colocar a estratégia em prática, o Ministério da Fazenda realizou um duro corte dos gastos públicos. O jornal afirma que era preciso que os gastos governamentais estivessem equilibrados para que o Plano Real desse certo.
Com a situação estabilizada, a equipe seguiu para a primeira parte do plano, que era atrair reservas de dólares para o Brasil. Parte da estratégia consistia em basear a valorização do real na moeda americana e não mais na inflação, como era praticado até então. O Plano Real igualaria o valor do real ao valor do dólar e assim conseguiria estabilizar os preços aos poucos.
O funcionamento da estratégia dependia do investimento de estrangeiros na bolsa de valores brasileira, a Ibovespa. A forma de atrair tais investidores era oferecendo oportunidade de ganhar dinheiro através de juros. Com isso a equipe começou a implementar a primeira fase, que consistia na elevação da taxa básica de juros.
Chamada de Selic, a taxa determina a porcentagem mínima de juros cobrados em quaisquer transações financeiras realizada no país. Após a realização dessa operação, foi iniciada a segunda fase, a transição para a nova moeda. Foi criada então uma espécie de criptomoeda, a Unidade Real de Valor (URV).
A transição do Cruzeiro para o Real
No dia 1º de outubro de 1993, a URV começou a operar. O sistema funcionava fazendo a transição de cruzeiros para URV seguindo uma tabela do governo federal. No primeiro dia da operação, 1 URV equivalia a 132,65 cruzeiros. Gradativamente o valor de 1 URV aumentava em cruzeiros, situação que durou 11 meses.
A partir desse dia, todos os salários e benefícios passaram a ser pagos em URV. Isso significa que se no final do mês 1 URV valesse 46 cruzeiros a mais do que no início do mês, o dinheiro pago ao consumidor não teria perdido valor. Consequentemente, seu poder de compra estaria intacto. Na prática as pessoas poderiam planejar seus gastos, não sendo necessário fazer suas compras assim que recebessem seus salários.
O então ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso, declarou em entrevista ao programa Silvio Santos, do SBT, que se tudo desse certo até o final de 1994 a inflação estaria controlada. Cardoso explicou que não realizar a transição de forma direta era uma maneira de envolver a população no plano e aumentar as chances de que ele funcionasse.
Essa situação durou até 30 de junho de 1994, quando o presidente Itamar Franco assinou uma medida provisória que igualava o valor de 1 URV a R$1,00, completando assim a transição monetária.
No dia em que assinou a medida, Itamar Franco fez um pronunciamento em rede nacional de televisão. O então presidente pediu a população ter a certeza de que as pessoas estariam mobilizadas para fazer o plano dar certo e assim salvar a economia do país.
O que aconteceu depois?
Quando a moeda finalmente ficou estável, outros pontos do dia a dia das pessoas começaram a entrar nos eixos. Primeiramente, o que passou a determinar a porcentagem da Selic foi a inflação. Caso a inflação comece a subir, o Banco Central mantém a porcentagem mais alta. Se a variação dos preços se mantém estável, a instituição baixa a porcentagem.
Após seis tentativas frustradas de estabilizar a economia do Brasil, o Plano Real conseguiu controlar a alta dos preços. No ano de implantação do plano, a inflação foi de 916%. No ano seguinte, essa taxa caiu para 22%, conforme informações do site Poder 360. Um dos membros da equipe que desenvolveu a estratégia venceu a eleição presidencial de 1994, tornando-se o 34º presidente do Brasil. Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente eleito após a redemocratização a concluir seu mandato.
Após 30 anos de implementação do Plano Real, a meta do Brasil é manter a inflação em 3% ao ano. Mesmo com todos os problemas a serem enfrentados é possível comemorar que as corridas entre consumidores e remarcadores de preços agora permanecem registradas apenas nos livros de história.