A Praça de São Pedro estava lotada no dia 7 de setembro. O papa Leão XIV presidia a canonização de Carlo Acutis e Pier Giorgio Frassati diante de milhares de fiéis.
Entre os brasileiros que acompanharam a cerimônia estava o padre catarinense Elinton Costa. Um ano antes, ele havia recebido o mesmo diagnóstico que levou Acutis à morte aos 15 anos.
Enquanto Carlo era declarado santo, o padre recordava seus dias de hospital. Ele também ouviu de um médico que tinha leucemia mielóide aguda M3, a mesma doença rara e agressiva que interrompeu precocemente a vida do jovem.
O sacerdote concedeu uma entrevista exclusiva à Brasil Paralelo, na qual relatou sua trajetória de dor, superação e fé. Ele diz que essa experiência o aproximou de Carlo Acutis, a quem se refere como “um irmão no caminho”.
O primeiro alerta veio em um domingo comum. Depois de celebrar a missa pela manhã, Elinton percebeu um cansaço incomum.
À noite, fui ao banheiro e comecei a urinar sangue, como se fosse suco de uva. Não tinha dor, não sentia nada. Se a luz estivesse apagada, eu nem teria visto.”
Ele tentou manter a rotina e viajou para Curitiba para cumprir compromissos, mas o quadro voltou a se repetir. Após consultas iniciais e exames inconclusivos, foi encaminhado ao Hospital Nossa Senhora das Graças.
O diagnóstico não tardou. “O médico olhou nos meus olhos e disse: ‘Padre, o que você tem é leucemia mielóide aguda M3. É grave, mas tratável’”.
De acordo com o padre, o diagnóstico foi como “um soco no estômago”, mas isso não o desanimou.
“Essa doença não veio para a morte.”
O episódio contrasta com a reação do jovem Carlo e de sua mãe Antônia quando receberam a resposta dos médicos.
A mãe do santo millennial afirmou que os médicos confirmaram a gravidade do caso já nos primeiros exames.
Na época, Carlo Acutis foi levado para a UTI e colocado em aparelhos. Mesmo com dores, afirmou que oferecia o seu sofrimento pela Igreja e pelo papa.
“Eu sofro, mas o santo padre sofre mais”.
Mesmo após se conformar com o diagnóstico, o padre, sozinho no quarto do hospital, foi ao chuveiro para chorar.
“Meu pai havia morrido de câncer. O padre Léo, fundador da minha comunidade, também. Perguntei a mim mesmo: ‘Será este o meu fim?’”.
Ele conta que aquele momento foi um ponto de virada. No chuveiro, fez uma oração que passou a repetir durante todo o tratamento.
“Se chegou meu tempo, que eu esteja preparado. Se não chegou, prepara-me para o novo tempo que vem.”
Elinton ficou 28 dias internado e passou por transfusões de sangue, enfrentou reações alérgicas e sessões de quimioterapia.
“Naquela primeira noite, tive um choque anafilático. Minha pressão caiu a seis por quatro, o corpo inteiro pipocou. Achei que ia morrer ali. Mas dali em diante, os dias correram melhor.”
Para o padre, cada data do processo ganhou um significado especial.
“Fui internado no Dia de Finados. Recebi alta na primeira sexta-feira de dezembro. Na primeira sexta-feira de janeiro, completei 40 anos. Para mim, foi simbólico: quarenta, na Bíblia, é sempre o início de um novo tempo.”
O protocolo previa tratamento até agosto, mas em maio ele recebeu a notícia de que a doença estava regredindo.
“Não havia explicação médica clara. Eu entendi como graça.”
Sobre a cura, Elinton afirma que sempre a atribuiu à Virgem Maria, mas reconhece hoje a proximidade de Carlo Acutis.
“Descobri depois que era a mesma leucemia. Vejo que ele me acompanhava.”
Na canonização em Roma, um ano após o diagnóstico, o padre interpretou o momento como sinal de um novo tempo. Para ele, ver Carlo canonizado foi a confirmação de que sua vida “inspira a juventude”.
O sacerdote recorda os ensinamentos do jovem que passou a carregar consigo e afirma que, assim como Carlo, não quer perder “mais nenhum minuto”.
“Ele dizia: ‘Não quero perder mais nenhum minuto da minha vida’. Eu tomei isso como projeto também. Não quero mais viver nada que não seja de Deus.”
Hoje, o religioso resume a experiência em uma frase: “o pior momento da vida pode ser a melhor oportunidade para um milagre.”
Afirmou também que não entende sua recuperação como mérito pessoal. O padre afirmou que não vê sua recuperação como mérito pessoal. Para ele, a diferença em relação a Carlo Acutis está no desfecho.
“É misericórdia de Deus. O Carlo estava pronto para o céu; eu não. Preciso aprender, santificar-me, testemunhar.”
Ele também deixou uma mensagem para quem enfrenta situações semelhantes.
“Podemos viver como se não existissem milagres ou como se tudo fosse um milagre. Eu escolhi olhar para a vida como um grande cuidado de Deus.”
Carlo Acutis faleceu em 2006, após o diagnóstico de leucemia promielocítica aguda. Décadas depois, o padre Elinton enfrentou a mesma doença, passou pelo tratamento e hoje relata a experiência como parte de sua missão.
Embora tenham percorrido caminhos diferentes, ambos tiveram a leucemia como ponto de prova e de entrega.
“O segredo é dizer: ‘Eis-me aqui, Senhor’. O resto, Deus faz. Foi assim com Carlo. Está sendo assim comigo”.
“Estou destinado a morrer.” Essas palavras, ditas dois meses antes de sua morte, abrem o filme.
Na tela, a história é contada em uma narrativa que mescla depoimentos de pessoas que conviveram com Carlo com cenas dramatizadas por um ator parecido com ele.
Amigos, sacerdotes e familiares relatam suas experiências, mostrando como sua vida curta deixou marcas profundas.
A obra, já exibida em diferentes países, mostra Carlo não apenas como personagem histórico, mas como jovem capaz de inspirar novas gerações.
Como assistir? O Céu não Pode Esperar está disponível na plataforma de streaming da Brasil Paralelo. Assista a este e outros filmes disponíveis.
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