Daniel Ortega prendeu mais dois padres no último final de semana. Além deles, duas assistentes pastorais também foram presas.
Este é mais um capítulo das violações à liberdades cometidas pelo ditador. Em 2018, uma onda de protestos atingiu o país contestando sua vitória nas eleições presidenciais. A partir daí, as restrições à liberdade religiosa, de expressão e de imprensa aumentaram.
Jornalistas foram presos e exilados, veículos de imprensa fechados e diplomatas expulsos do país.
As últimas prisões
As detenções aconteceram no sábado (10/08) e no domingo (11/08). Os padres Leonel Balmaceda e Denis Martínez permaneceram presos. Carmen Sáenz, que é assistente pastoral de uma paróquia, também está em cárcere. A outra mulher não foi identificada. Até o fechamento desta reportagem, o paradeiro deles ainda era desconhecido.
A perseguição aos católicos piorou na Nicarágua desde que sacerdotes passaram a denunciar o regime. Até mesmo procissões e celebrações da Semana Santa foram proibidas no país.
Na época dos protestos contra o resultado das eleições, Daniel Ortega chamou os bispos católicos de “terroristas”. Os religiosos se manifestaram a favor dos que contestavam a vitória do ditador. Isso intensificou a opressão contra autoridades e fiéis católicos.
Históricos no país
Não são apenas religiosos que estão sofrendo perseguição no país da América Central. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos alega ter documentos relatando torturas de opositores e mais de 190 presos políticos.
Algumas das violações às liberdades humanas nos últimos anos foram:
2018: Após protestos que contestavam a vitória de Daniel Ortega nas eleições presidenciais, o governo prendeu milhares de pessoas. Na época, 328 pessoas morreram e 2 mil ficaram feridas;
2018: Daniel Ortega chama a Igreja Católica de “golpista” por mediar os conflitos pós- eleição;
2018: O canal 100% notícias foi fechado por ter criticado o governo. Os diretores da emissora, Miguel Mora e Lucía Pineda Ubau, foram presos sem saber do que estavam sendo acusados. Pouco depois, Mora foi acusado de “conspiração e terrorismo”. O jornalista Joseph Rafael Hernández desapareceu durante a operação que fechou o veículo;
2019: Carlos Fernando Chamorro, um dos principais jornalistas do país, foi exilado. Em sua despedida do país, chegou a declarar que o país estava “criminalizando do jornalismo”;
2019: Contas bancárias dos jornais El Nuevo Diario, La Prensa e Metro foram bloqueadas;
2021: Daniel Ortega chama bispos católicos de “terroristas”.
2022: Prisão de bispo após críticas abertas ao governo. O sacerdote foi acusado de “incitar grupos violentos a praticar atos de ódio contra a população”;
2024: No dia 08 de agosto, 7 sacerdotes são expulsos do país. Todos foram enviados para o Vaticano. A oposição alega que eles haviam sido presos há alguns dias;
2024:Embaixador do Brasil na Nicarágua é expulso da Nicarágua. Ele não compareceu a um evento do governo local, o que foi considerado uma ofensa. Breno Dias da Costa já está em Brasília. Em resposta, o Itamaraty extraditou a embaixadora nicaraguense. Fulvia Castro já retornou a seu país e foi nomeada Ministra da Economia;
Quem é Daniel Ortega?
O ditador da Nicarágua chegou ao poder pela primeira vez nos anos 1980. Seu mandato durou de 1985 a 1990, quando perdeu a corrida eleitoral para Violeta Chamorro. Retornou ao poder em 2007, e desde então tem sido “reeleito” em todas as eleições.
Ortega foi guerrilheiro na Revolução Sandinista, tornando-se um dos membros do governo que se formou no país após a queda do ditador Anastasio Somoza García. Tem 78 anos e é casado com Rosario Murillo, que atualmente é sua vice-presidente.
A ditadura de Ortega foi tema do original Nicarágua: liberdade exilada, da Brasil Paralelo. O documentário investiga a situação no país através de relatos de cidadãos que foram exilados. A produção é exclusiva para assinantes BP. Se você já desbloqueou o seu acesso, clique aqui e assista agora mesmo.
Abaixo você pode conferir uma mesa redonda que discutiu o assunto.