Nesta segunda-feira (5/8), o dólar dispara frente ao real, flertando com a marca de R$5,80, em um dia de tensão nos mercados globais. A preocupação crescente com uma possível recessão nos Estados Unidos desencadeou uma fuga de ativos de maior risco, afetando moedas de países emergentes, incluindo o Brasil.
Por volta das 9h15, a moeda norte-americana subia 1,65%, sendo negociada a R$5,803 na compra e R$5,804 na venda. Este movimento brusco seguiu a cotação de sexta-feira, quando o dólar encerrou o dia a R$5,710, em queda de 0,44%. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), também registrava queda de mais de 1%, refletindo o mau humor global.
Os mercados globais foram profundamente impactados por dados econômicos dos EUA divulgados na sexta-feira anterior. O Departamento de Trabalho norte-americano informou a criação de 114.000 vagas fora do setor agrícola em julho, bem abaixo das expectativas dos economistas, que previam 175.000 novos empregos. Este número decepcionante aumentou as apostas de que o ciclo de aperto monetário do Federal Reserve (Fed), que elevou as taxas de juros para combater a inflação, está freando a atividade econômica mais do que o esperado.
Além disso, a taxa de desemprego nos EUA foi maior do que o esperado, indicando que há mais desemprego e menos criação de novos empregos. Isso fortalece a expectativa de que o Fed possa reduzir ainda mais as taxas de juros para estimular a economia. Embora essa perspectiva de corte nas taxas possa enfraquecer o dólar, ela também pode impulsionar as bolsas globais. No entanto, a reação imediata foi de queda nos mercados de ações e criptomoedas: o Bitcoin, por exemplo, caiu mais de 6%, o S & P 500 recuou 3,34% e o Ibovespa registrou uma baixa de 1,27%.
Diante desse cenário, a inflação nos EUA parece estar retornando gradualmente à meta de 2% do Fed, enquanto o mercado de trabalho dá sinais de enfraquecimento. Com isso, operadores agora veem uma chance de 78% de que o Fed corte as taxas de juros em 50 pontos-base na reunião de 18 de setembro.
Outras moedas de mercados emergentes também sofreram desvalorização, como o peso mexicano, que caiu 2,3%, o rand sul-africano, que recuou 1,7%, e o peso chileno, com uma queda de 1,25%. O iene japonês, em contrapartida, se valorizou em relação ao dólar, com uma alta de 3,08%, após o Banco do Japão elevar sua taxa de juros, desencadeando uma reversão das operações de "carry trade".
Alta do dólar impactada por uma série de fatores internacionais. Imagem: site Mais retorno.
No cenário doméstico, os economistas revisaram suas previsões para a inflação e a taxa de juros. A pesquisa Focus do Banco Central, divulgada nesta segunda-feira, mostrou que as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao final de 2024 foram elevadas para 4,12%, enquanto a previsão da Selic, atualmente em 10,5%, foi ajustada para 9,75% no final do próximo ano.
A volatilidade cambial também está sob escrutínio, com o mercado aguardando a ata da última reunião do Banco Central do Brasil, que será divulgada na terça-feira. Nessa reunião, as autoridades decidiram manter a taxa Selic estável pelo segundo encontro consecutivo, refletindo um cenário econômico desafiador.
A disparada do dólar e as incertezas econômicas também suscitaram reações políticas. A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-RS), presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, minimizou a especulação em torno do dólar, rechaçando qualquer tipo de culpa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e atribuindo a alta às expectativas sobre a economia dos EUA e as tensões no Oriente Médio.
"Falas do presidente Lula nunca tiveram nada a ver com essas jogadas do mercado. O que Lula traz são boas notícias: novos investimentos, mais empregos, crescimento dos salários e da renda das famílias. Disso os especuladores e os pessimistas não gostam e não falam", afirmou Hoffmann.
Por outro lado, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) criticou a condução da economia pelo governo, apontando que “cortes de gastos não atingem os luxos e viagens internacionais infladas de assessores, somente a saúde e os programas sociais”.
"O preço de tudo que tem o dólar como parâmetro está subindo. Temos fatores externos? Também. Mas a verdade é que a condução da economia está péssima. Uma economia forte fica menos vulnerável a esse tipo de variação de mercado. Os cortes de gastos não atingem os luxos e viagens internacionais infladas de assessores, somente a saúde e os programas sociais”, declarou a senadora.
Com os mercados globais em alerta e o dólar rondando os R$5,80, o Brasil enfrenta um cenário de incerteza econômica pelas preocupações internacionais. A reação das autoridades e a condução das políticas econômicas nos próximos meses serão cruciais para estabilizar a moeda e restaurar a confiança dos investidores. Enquanto isso, a volatilidade cambial e os temores de recessão nos EUA continuam a influenciar os mercados, exigindo atenção constante de analistas e formuladores de políticas.
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