“Eu te amei.” Com essas palavras do Evangelho, Leão XIV abre a Dilexi te, sua primeira exortação apostólica desde que foi eleito papa.
O documento foi publicado em 4 de outubro, data em que a Igreja Católica celebra São Francisco de Assis, reconhecido por sua vida de pobreza.
O texto, preparado nos últimos meses de vida do papa Francisco e concluído por seu sucessor, propõe uma ideia central: “a fé cristã se torna vazia quando se afasta dos pobres”.
A exortação, dividida em 121 pontos, combina orientações sociais e espirituais sobre o papel dos cristãos diante das desigualdades e da pobreza.
A exortação se insere na linha dos ensinos sociais iniciado por Leão XIII, autor da Rerum Novarum (1891). O documento escrito no século 19 tratou das condições de trabalho e das desigualdades da Revolução Industrial.
Esses ensinamentos foram desenvolvida pelos papas:
Leão XIV retoma essa sequência ao discutir as novas formas de pobreza, exclusão e desigualdade no século XXI.
O documento inclui uma referência direta ao Brasil ao mencionar Santa Dulce dos Pobres, nascida na Bahia em 1914 e canonizada em 2019. O papa a apresenta como exemplo do trabalho social desenvolvido por religiosas e leigos em contextos de vulnerabilidade.
“No Brasil, Santa Dulce dos Pobres, conhecida como o ‘anjo bom da Bahia’, encarnou o mesmo espírito evangélico com feições brasileiras. Enfrentou a precariedade com criatividade, os obstáculos com ternura, a carência com fé inabalável. Começou acolhendo doentes num galinheiro e dali fundou uma das maiores obras sociais do país”.
O texto coloca Irmã Dulce ao lado de Madre Teresa de Calcutá, mencionadas como figuras que transformaram o serviço aos pobres em expressão da fé cristã.
“Fez-se pobre com os pobres por amor ao sumamente Pobre. Vivia com pouco, rezava com fervor e servia com alegria”.
O documento tem origem no próprio papa Francisco, que deixou o esboço do texto antes de sua morte.
O texto foi continuado e assinado por Leão XIV, que define o amor como o eixo de sua primeira exortação apostólica.
O texto apresenta o serviço aos pobres como parte inseparável da fé cristã e propõe que a caridade se manifeste em ações concretas.
“No rosto ferido dos pobres está impresso o sofrimento dos inocentes e, portanto, o próprio sofrimento de Cristo”.
O pontífice questiona a ideia de que a pobreza seria resultado de falhas individuais.
“Os pobres não existem por acaso nem por destino. Muito menos a pobreza é escolha para a maioria deles. É falsa a visão da meritocracia que faz crer que só têm méritos os que tiveram sucesso na vida.”
O documento também aborda o surgimento de novas formas de pobreza associadas à concentração de renda e à exclusão social.
“A falta de equidade é a raiz dos males sociais”.
Em diversos trechos, Leão XIV retoma expressões usadas por Francisco, como “a economia que mata”, e critica modelos econômicos que concentram riqueza.
“Quando dizem que o mundo reduziu a pobreza, fazem-no com critérios que não correspondem à realidade atual”.
O texto menciona o crescimento desigual de renda e alerta para a “cultura do descarte”, descrita como a indiferença diante da fome e das condições indignas de vida de milhões de pessoas.
A exortação dedica seções específicas às mulheres em situação de vulnerabilidade e aos migrantes. Leão XIV descreve as mulheres vítimas de exclusão e violência como “duplamente pobres” e recorda que os fluxos migratórios exigem acolhimento humanitário.
“A Igreja caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes”.
O papa cita o caso de Alan Kurdi, criança síria que se tornou símbolo da crise migratória europeia em 2015, como exemplo do sofrimento de quem é forçado a deixar o próprio país.
“Alguns anos atrás, a foto de uma criança de bruços, sem vida, numa praia do Mediterrâneo provocou grande choque; infelizmente, à parte de alguma momentânea comoção, acontecimentos semelhantes estão a tornar-se cada vez mais irrelevantes, como se fossem notícias secundárias”.
O documento ainda associa a prática da fé à transformação social. Leão XIV defende que as estruturas de injustiça devem ser combatidas por meio de ações que promovam o bem comum, conceito que define como responsabilidade de todos os fiéis.
“A esmola não é paternalismo. É justiça restabelecida”.
O papa concluiu a exortação com a afirmação de que a presença dos pobres é parte essencial da Igreja.
“É necessário que todos nos deixemos evangelizar pelos pobres. O cristão não pode considerar os pobres apenas como um problema social: eles são uma questão familiar. Pertencem aos nossos”.
No Especial Papado, o professor Raphael Tonon apresenta a trajetória dos papa Leão XIV e do papa Francisco, além da história do papado desde São Pedro até os dias atuais. Assista agora a todos os episódios no canal da Brasil Paralelo:
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