Nem sempre a democracia é destruída de forma barulhenta, em vários casos ela foi desfeita por aqueles que falavam em seu nome.
A história recente da América Latina e do mundo é um alerta sobre como o discurso democrático pode ser instrumentalizado por quem busca o poder.
Conheça cinco casos em que políticos que juraram “defender a democracia” foram responsáveis por seu fim:
Um dos casos mais emblemáticos de um país que se tornou um regime autoritário de maneira silenciosa foi a Venezuela.
Em 1999, Hugo Chávez, um ex-militar que tentou um golpe de Estado sete anos antes, foi eleito presidente da Venezuela com a promessa de "refundar a República".
Seu discurso populista, repleto de ataques à elite econômica e à corrupção política, conquistou parte da população.
Um de seus primeiros atos foi reformar a Constituição e ampliar os poderes do Executivo.
A nova Carta Magna de 1999 permitiu maior ingerência do presidente sobre o Judiciário e a economia.
Em 2002, uma tentativa de golpe de Estado quase derrubou Chávez. Por dois dias, esteve preso.
Contudo, o fracasso da rebelião militar reforçou sua narrativa de líder ameaçado pelas elites.
Usando o golpe como pretexto, Chávez se radicalizou e fechou emissoras de TV críticas, estatizou empresas estrangeiras e criminalizou protestos.
Seus discursos passaram a rotular opositores como traidores da pátria e agentes do “imperialismo”.
Após sua morte, em 2013, o poder passou a Nicolás Maduro, seu herdeiro político que manteve o chavismo.
Sob seu governo, a Venezuela viveu crises humanitárias severas, com inflação descontrolada, escassez de alimentos e milhões de refugiados fugindo do país.
Mesmo assim, Maduro apresenta o regime como uma democracia. Na última eleição, o Conselho Eleitoral Nacional (CEN) afirmou que o presidente ganhou novamente apesar das denúncias de fraude.
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Fidel Castro tomou o poder em Cuba após vencer o regime pró-americano de Fulgencio Batista em 1959.
Os guerrilheiros traziam promessas democráticas para o país, afirmando que haveria eleições livres em cerca de um ano.
"Cuba terá eleições livres, disso não tenho dúvidas. Talvez em menos de 18 meses". Afirmou o líder da revolução em entrevista à BBC em 1959.
O jornalista Ed Sullivan chegou a dizer que Fidel seria o equivalente ao “George Washington” de Cuba.
No entanto, pouco após o sucesso da revolução, o governo começou a fuzilar pessoas ligadas ao regime anterior.
O regime instaurado também começou a nacionalizar e estatizar algumas propriedades privadas na ilha.
Além disso, o governo criou os Comitês de Defesa da Revolução para monitorar suspeitos de comportamentos “contra revolucionários”.
Em 1961 Fidel anunciou oficialmente que a revolução seguiria o caminho do socialismo após o fracasso de rebeldes anti-Castro na Baía dos Porcos.
A partir daí, a promessa inicial de eleições acabou e o Partido Comunista estabeleceu uma ditadura.
Dissidentes políticos foram presos, executados ou exilados e a liberdade de imprensa desapareceu.
No entanto, o ditador continuou defendendo que o país vivia na “verdadeira democracia do povo” e acusava o capitalismo de ser tirânico.
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Evo Morales surgiu como símbolo da resistência indígena e se tornou o primeiro presidente de origem aimará da Bolívia.
Seu discurso falava em devolver o poder às comunidades tradicionais e romper com o “legado colonial”.
Nos primeiros anos, seu governo promoveu reformas agrárias e estatizou setores estratégicos da economia.
O presidente promulgou uma nova Constituição, escolhida através de um referendo popular.
Em 2016, ele perdeu um referendo que barrava sua reeleição indefinida, mas ignorou o resultado e apelou ao Tribunal Constitucional para disputar um quarto mandato em 2019.
As eleições foram marcadas por denúncias de fraudes e de repressão a protestos populares.
Ainda assim, Morales afirmava que "a democracia boliviana está mais forte do que nunca".
Protestos fizeram com que ele deixasse o país, em apoio o vice-presidente, o presidente do Senado e da Câmara dos Deputados também renunciaram.
Isso fez com que a vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, assumisse e convocasse novas eleições em 2020.
Luís Arce do partido Movimento ao Socialismo, o mesmo de Morales, venceu o plebiscito e virou presidente.
Em 2021 Jeanine Áñez foi presa sob acusação de “golpe de Estado”, terrorismo e conspiração.
Na década de 1980 a Nicarágua passou por uma revolução que derrubou o regime da dinastia Somoza.
Daniel Ortega se tornou o líder do país após o sucesso do movimento e estabeleceu um regime socialista.
Parte da população pegou em armas contra o novo governo, dando início a uma sangrenta guerra civil.
Os EUA apoiaram os grupos conhecidos como “contras”, opostos aos sandinistas, e a URSS apoiava as forças do governo.
Após negociações pela paz, Ortega deixou o poder e o país viveu um período mais democrático.
No entanto, o líder revolucionário voltaria após vencer uma eleição em 2007, se apresentando como mais moderado e conciliador.
Ele prometeu uma democracia participativa, buscou o apoio da Igreja Católica e de empresários.
Com o tempo, Ortega começou um processo para concentrar o poder, mudando a Constituição para permitir reeleições indefinidas, estatizando propriedades e ampliando o controle sobre a Justiça.
Desde 2018, a repressão se intensificou e protestos contra seu governo foram sufocados com mortes, prisões arbitrárias e censura total à imprensa.
Seus discursos justificam as medidas como necessárias para preservar a "democracia do povo e para o povo". Na prática, a Nicarágua se transformou em uma ditadura.
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Em 2011, grandes protestos populares conseguiram derrubar o general Hosni Mubarak após 30 anos de ditadura.
A Irmandade Muçulmana, um grupo radical islâmico, conseguiu eleger Mohamed Morsi como presidente do país nas primeiras eleições livres na história do país, em 2012.
O governo Morsi tentou mudar a Constituição do Egito em um projeto apoiado por setores mais religiosos da sociedade.
O governo passou a enfrentar uma série de protestos e polarização, que acabaram com a derrubada do presidente.
Liderado pelo general Abdul Fatah al-Sisi, o golpe de Estado foi justificado como a única forma de defender o Estado da Irmandade Muçulmana e do extremismo.
Sob seu comando, o Egito assistiu ao retorno da repressão em massa. Milhares de opositores foram presos, partidos banidos e a imprensa submetida ao controle militar.
Mesmo assim, al-Sisi se apresenta como guardião da democracia. Segundo ele, o país precisa de estabilidade e ordem antes da plena liberdade.
Desde então ele foi reeleito em pleitos marcados por fraudes e segue sustentando que sua gestão protege a vontade popular.
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