Um pano, vários nomes e muitos debates
A primeira dificuldade é definir o que, exatamente, a Santa Face seria. O jesuíta Heinrich Pfeiffer, especialista em história da arte, afirmava que o pano poderia ter estado no sepulcro de Jesus, citado no Evangelho de João como o tecido deixado sobre o seu rosto.
Ao mesmo tempo, a relíquia era chamada de “véu de Verônica”. O nome costuma ser associado à mulher que, segundo a tradição cristã, enxugou o rosto de Jesus antes de sua morte.
Isso criou um segundo problema: existem vários “véus de Verônica”. Um deles está no Vaticano e foi exposto neste ano, no quinto domingo da Quaresma. Outros são venerados em igrejas da Europa. Manoppello é apenas um entre os possíveis candidatos.
O trajeto do pano antes de 1508 é desconhecido. Desde esse ano, há registros confiáveis de sua presença na vila italiana. Mas nada se sabe com certeza sobre quem trouxe o objeto ou como ele teria circulado antes disso. Uma das hipóteses é que ele tenha sido retirado do Vaticano no início do século 16, mas não há documentos que comprovem a tese.
Essa falta de informações levou um grupo de pesquisadores a criar o Veronica Route Project, dedicado a reconstruir a trajetória tanto da relíquia de Manoppello quanto da versão guardada no Vaticano.
Ao contrário do Sudário de Turim, o pano de Manoppello não passou por análises científicas amplas. Há dúvidas sobre o material. Badde dizia tratar-se de seda marinha, tecido raro produzido por moluscos e de difícil manipulação, o que reforçaria a tese de que a imagem não foi pintada. Outros estudiosos defendem que o pano é de linho.
Um dos poucos exames ocorreu nos anos 1990, quando Donato Vittore, da Universidade de Bari, analisou a relíquia com luz ultravioleta. Ele não encontrou pigmentos, apenas manchas marrom-avermelhadas que poderiam ser sangue.
O véu atrai peregrinos há séculos, mas seu reconhecimento internacional aumentou após a visita do Papa Bento XVI em 2006. Diante do relicário, o pontífice afirmou: “Todos nós buscamos a face do Senhor”.
Desde então, Manoppello se tornou ponto de passagem para quem percorre santuários da região, como Lanciano, Loreto e San Giovanni Rotondo.
Com a morte de Paul Badde o interesse pela relíquia aumentou. O objeto já atravessou guerras, séculos e debates.
A Santa Face de Manoppello segue exposta em uma igreja capuchinha na Itália, intacta desde 1508 e ainda esperando respostas científicas que possam definir sua origem. Até lá, permanece como um dos grandes enigmas do cristianismo.