The Flash (2023): O Super Homem virou mulher no novo filme?

Foi lançado ontem (15) nos cinemas, o novo filme da DC: The Flash. A produção buscou inaugurar uma nova fase no universo dos heróis da DC e trouxe como protagonista o herói Flash. Um dos fatores que chamou a atenção foi o fato do filme contar com a participação da Super Mulher. Na história original que inspirou o filme do Flash, o Kryptoniano que aparece na história é o Super Homem.

Na trama, Barry Allen, o Flash, usa seus poderes para voltar ao passado e evitar a morte de seus pais.

A viagem ao passado e o contato com os pais desencadeia uma reviravolta que o leva a um universo paralelo. Alterando o passado, altera-se o futuro e cria-se um multiverso (um universo paralelo onde os eventos do futuro foram alterados a partir dos do passado).

Confira o trailer:

O trailer chamou a atenção por diversos aspectos. O primeiro deles é o fato de existirem dois Flash, por conta do encontro deles no multiverso e o segundo é a presença de uma versão feminina do Super Homem.

No universo das revistas em quadrinhos da DC Comics, uma das heroínas é a Super Mulher (Super Girl), chamada Kara Zor-El, uma Kryptoniana, assim como o Super Homem (Kal-El).

Flashpoint: conheça a HQ que inspirou o filme The Flash

A HQ marcou não só uma mudança na trajetória do Flash como em todo o universo da DC. Assim como no filme, Barry Allen acorda em um universo em que encontra a figura de sua mãe viva e que esteve presente em toda a sua vida.

O protagonista questiona a mãe sobre a Liga da Justiça e fica incrédulo ao descobrir que neste universo não existe sequer um Super Homem, ou um Flash.

Mesmo sem a Liga, a Terra ainda tem seus protetores. Barry busca o homem morcego que é considerado o protetor da humanidade.

O Batman não é Bruce Wayne neste universo, mas Thomas Wayne, pai do menino Bruce (o Batman original). Nesse universo, ele viu o filho ser morto no assalto e se torna o homem morcego.  

O Flash, depois de convencer o Batman que veio de outro universo e de encontrar outro protetor da terra, o Ciborgue, parte com os dois heróis em busca de um suposto Kryptoniano que o governo mantém em sigilo desde que sua nave aterrissou na Terra.

O trio resgata Kal-El, mas encontra-o fraco, impotente, tendo passado boa parte da sua vida longe da luz solar que é a fonte de seus poderes.

Transformaram o Super Homem em mulher?

No novo filme, o icônico herói não foi retratado e foi substituído por uma versão feminina. O que explica a mudança da figura do Super Homem para a Super Mulher?

"Isso significa tudo pra mim. Eu me sinto tão orgulhosa e honrada por estar carregando 'esperança' em meu peito com a Supergirl. É incrível. Você sabe, eu não cresci com um super-herói que se parecia comigo e acho que é algo tão especial que espero que as pessoas possam se ver em uma tela grande porque nós merecemos estar na tela grande também contando essas histórias de super-heróis. Sim, significa tudo para mim. Estou tão orgulhosa, honrada, abençoada e animada para vocês verem isso também", disse a atriz Sasha Calle, que interpretou a Super Mulher no filme.

É comum haver alterações nos personagens originais quando os multiversos são apresentados, afinal, são outras realidades. Hoje, tem sido comum buscar modos de criar personagens consagrados em novas representações. Personagens masculinos ganham versões femininas e vice-versa.

Em alguns casos, isso se dá por causas ideológicas. Estas situações podem se enquadrar na descrição da teoria do parasita pós-moderno no cinema.

• Leia mais: a morte dos símbolos no cinema.

Explicado em detalhes na produção A Sétima Arte da Brasil Paralelo, o parasita pós-moderno é uma tendência do cinema contemporâneo de inverter e ressignificar símbolos consagrados para fins ideológicos. Confira um trecho de A Sétima Arte que aborda a teoria:

Ao invés de criar novos personagens, novas histórias, os diretores tomam personagens consagrados no imaginário das pessoas e os transformam para transmitir mensagens ideologizadas.

No filme do Flash, a própria atriz da Super Mulher indica que seu papel no filme foi para gerar representatividade feminina e latina.

• Na Coluna sobre o recente ganhador do Oscar Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, André Brandão identifica os símbolos contaminados pelo parasita pós-moderno no filme.

Outro exemplo dessa tendência, foi em 2020, a HBO Max tirou de seu catálogo E O Vento Levou, de 1939, alegando que o filme perpetua estereótipos racistas, e que seria irresponsável mantê-lo disponível sem nenhuma "explicação ou denúncia".

Semanas depois o filme retornou à plataforma, mas desta vez com um vídeo introdutório onde uma historiadora o contextualiza, dizendo que "...o filme glorifica um sistema de brutalidade…". Mesmo assim, eles declaram que manterão o filme disponível e inalterado em sua plataforma.

No filme Vingadores Ultimato, o herói Thor, deus nórdico do trovão e das batalhas, aparece como um homem obeso, perdido em seus vícios e completamente impotente. Desconstruindo a ideia de força e de heroísmo do personagem.

Esses casos se dão porque a Indústria cinematográfica vem tentando reescrever diversos contos para se encaixar na "cultura woke".

A cultura woke e o parasita pós-moderno

A "cultura woke" tem preocupações sociais que parecem estar mais preocupadas em transformar o mundo em um lugar melhor do que em lucrar. E, claro, lucrar mais dizendo que estão mais preocupadas em transformar o mundo em um lugar melhor do que lucrar.

Reescrever essas histórias para incluir uma pauta recente de reparação pode apagar do imaginário coletivo contos que moldaram diversas infâncias.

Além de inserir debates e ideias em épocas que não tinham esses temas em pautas, o que é considerado um anacronismo.

• O cinema do passado está sob juízo.