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"Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" é o mais recente exemplo da decadência do Oscar

Vejo o Ganhador do Oscar que se propõe ser uma história de família e homenagem ao kung-fu como mais um veículo para a agenda ideológica de Hollywood.

Por
André Brandão
Publicado em
27/3/2023 16:07
Personagens do filme ganhador do Oscar Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Créditos: Allyson Riggs/A24

"Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" foi o grande vencedor dos Oscars de 2023, levando 7 estatuetas. Dirigido pela dupla Daniel Kwan e Daniel Scheinert, apelidada de Daniels, entrará para a história como um dos grandes vencedores dessa celebração do cinema de Hollywood. 

No entanto, acredito que o Oscar está em franca decadência. A cerimônia, que já premiou diversas obras primas da história do cinema, em diversos anos premiou filmes que tenho por irrelevantes que hoje em dia o público sequer se lembra. 

De tempos pra cá, vejo intensificar-se, por parte da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, instituição que organiza o Oscar, a preocupação cada vez maior com as pautas do momento no lugar da qualidade dos filmes em si.

Mas e "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"? Em qual lista entraria? A das obras primas ou das irrelevantes? Será que sobrevive ao teste do tempo? E, ainda mais importante, o filme tem de fato algo a dizer para o público?

A história do filme

O filme conta a história de uma família de imigrantes chineses que possuem uma lavanderia nos EUA. Eles entram em dificuldades financeiras e são auditados pela IRS (Receita Federal Americana), o que gera enorme tensão na família. 

Neste contexto, a mãe dessa família, Evelyn, interpretada por Michelle Yeoh, logo descobre que o mundo onde eles vivem é na realidade apenas um universo dentro de infinitos existentes. Rapidamente, o filme se transforma numa aventura num "multiverso" no estilo "Rick e Morty", numa velocidade e dinâmica não muito diferentes de um feed do TikTok. 

Vamos pra lá e pra cá, no meio de situações cada vez mais absurdas, até que o filme chega no seu ponto central.

Trata-se de um conflito entre gerações, da filha com a mãe, e desta com o avô. A filha, Joy, tem uma namorada, a qual pretende apresentar para seu avô, que se supõe que não vai aceitar a situação. 

Evelyn é constrangida pela situação, e o filme trata de maneira fantasiosa e frenética o diálogo entre mãe e filha, usando a ideia do multiverso para sinalizar que na realidade:

  • a vida não tem sentido
  • tudo pode ser tanto quanto pode não ser;
  • no fim das contas, tanto faz. 

A armadilha

Esta é a armadilha da situação "multi-verso": é como se a história se tornasse uma espécie de "anti-história". Se uma história boa progride conforme os personagens enfrentam situações e tomam decisões e lidam com suas consequências, o que acontece quando eles escolhem todas as opções ao mesmo tempo e não sofrem as consequências de nenhuma? 

Perde-se aquilo que deveria estar em jogo, que deveria ser a essência do drama. Se ninguém precisa abrir mão de nada, então não há nada de fato acontecendo.

Neste caso, conforme a trama caminha, tudo que perturba a filha a respeito da mãe é tratado como algo que tem um efeito catastrófico nesse multiverso. A jornada da mãe nessa teia de realidades é uma travessia frenética pelo estado psicológico da filha, e lá a mãe vê o efeito que ela causa na filha ao não compreendê-la. 

É a incompreensão da mãe frente às questões da filha A causa Do conflito. A filha, apesar de ser uma espécie de vilã por boa parte do filme, nunca é colocada como estando do lado errado da questão. A mãe, e sua falta de compreensão do que a jovem sente, é o problema a ser resolvido.

Para a surpresa de poucos, o filme chega no lugar comum do cinema Hollywoodiano de hoje, com uma mensagem clara: precisamos nos libertar, aceitar uns aos outros independentemente das escolhas e fazer com que as gerações antigas desistam de suas crenças consideradas preconceitos e compreendam as novas, em nome do progresso. 

Nas palavras de um dos diretores, Daniel Kwan: "...para o progresso acontecer as gerações mais velhas precisam estar dispostas a escutar…".

A falta de sentido na vida

Outro aspecto que chama a atenção é como é levado a sério a existência desse multiverso e o niilismo inevitável que o acompanha. 

Se a aventura no multiverso fosse uma espécie de devaneio da mãe tentando entender ou interpretar o estado emocional da filha, e se essa estrutura fosse uma maneira de traduzir esse devaneio para o espectador em uma apresentação visual divertida, o filme poderia se desviar da falta de sentido que por fim ele afirma. 

Mas, cada vez que é abordado o tema, os cineastas, através dos personagens, dobram a aposta. "A cada nova descoberta (científica) descobrimos que somos pequenos e estúpidos", a filha diz para a mãe (ambas em um universo onde são transformadas em pedra, diga-se de passagem). 

O próprio diálogo que resolve o conflito entre a mãe e a filha no final do filme tem como pressuposto a falta de sentido da vida.

Se a vida, portanto, de acordo com o filme, não faz sentido e não tem propósito, existe uma possível solução para a angústia de simplesmente estar vivo, como o filme apresenta? Uma dica que o filme dá é mais uma ideia que ilustra tão bem o que a cultura mainstream propõe: a realização de desejos reprimidos como a solução para este problema. 

Numa cena de luta contra alguns capangas, Evelyn decide escutar seu marido que diz que se nos tratarmos com gentileza, não precisaremos recorrer à violência. Ela então aborda os capangas um a um, e ao invés de atacá-los com golpes de kung-fu, ela usa seus poderes recém adquiridos no multiverso para realizar algum desejo oculto deles. 

Um capanga sonha em se casar; outro, com o perfume de sua esposa falecida; mas um terceiro sonha ter relações sexuais sado-masoquistas, e isto o faria desistir de seu comportamento violento. Curiosamente, este personagem é interpretado por um dos diretores, Daniel Schneinert. 

Numa breve entrevista, Daniel Kwan, um dos diretores, fala de como os filmes de kung-fu feitos em Hong Kong nos anos 80 e 90 foram importantes para sua infância. Ele diz que esses filmes “…estão no sangue”

Não à toa, eles escolheram Michelle Yeoh para o filme. Ela é uma das estrelas desse recorte cinematográfico, junto com Jackie Chan, Samo Hung e Donnie Yen. Mas "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" vai muito além de ser apenas uma homenagem ou tentativa de renovação desses filmes; ele deixa de lado a abordagem divertida que esses filmes tinham, e de como eles eram muitas vezes despretensiosos em termos de narrativa.

Os Daniels embalam nessa estrutura de multiverso uma agenda progressista atual e a apresentam de maneira a cumprir as pautas do momento. Vemos:

  • o masculino fraco e incompetente; 
  • caracteristicas masculinas em mulheres como emancipação; 
  • a entrega às paixões como virtude; 
  • a lista continua…

Como a própria Joy/Jobu Tupak diz: 

"O certo é apenas uma caixinha inventada por pessoas que têm medo". 

Este filme me parece ser apenas mais um de muitos do cinema contemporâneo que buscam inverter e ressignificar símbolos para fins ideológicos, dando forma ao que Johnathan Pageau chama “o parasita pós-moderno”, conforme vemos explicado em detalhe no documentário da BP "A Sétima Arte".

Por fim, este filme representa muito bem o espírito dos tempos, a fraqueza do cinema americano atual, e a franca decadência da Academia. 

Como os próprios diretores dizem, o filme é em parte sobre distração, sobre essa torrente de imagens e informações que nos chega diariamente através das redes sociais, e de como isso expõe inúmeros caminhos e decisões, das quais escolhemos apenas uma. 

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo certamente é isto, mas é antes de mais nada uma repetição do mantra da Hollywood contemporânea, muito bem sintetizado por uma fala de Kylo Ren em "Star Wars: O Último Jedi": 

"...deixe o passado morrer. Mate-o se for necessário".

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