"Deixe o passado morrer. Mate-o, se for necessário".
Essas são as palavras de Kylo Ren (Adam Driver) em Star Wars: Os Últimos Jedi.
Kylo é filho da Princesa Leia e de Han Solo.
Foi treinado por Luke Skywalker.
E sonha em retomar o legado e o poder de seu avô, Darth Vader.
O peso da tradição da maior franquia de todos os tempos recai sobre suas costas.
É simbólico assistir, ao longo da nova trilogia, que Kylo Ren não consegue sustentar esse peso.
Descobrimos que ele se rebelou contra seu tutor.
Que ele matará seu pai. E irá tentar, junto de Rey, esquecer o passado.
Kylo é apenas o sintoma de uma transformação já percebida no cinema por espectadores no mundo inteiro.
A politização na sétima arte não é algo novo.
O cinema já foi política de estado, protagonista em uma Guerra Mundial e bandeira da contracultura.
Nos anos 60 e 70, vimos muitos cineastas talentosos fazendo um cinema mais engajado, transgressor e, até mesmo, inovador.
Mas o que vemos agora é diferente.
Há uma percepção de que as coisas não apenas estão mudando, e sim sendo destruídas.
Vemos o herói nórdico Thor, um semi-deus, se transformando em um gordo preguiçoso.
Vemos uma heroína de segundo escalão, Capitã Marvel, sendo apresentada como a pessoa mais capaz de salvar o universo nos cinemas.
E vemos o herói mais marcante dos anos 70 jogando seu sabre de luz fora.
A resposta para o que está acontecendo pode ser resumida em uma teoria:
O progressismo não quer criar novos personagens. Se eles criarem, o impacto não será o mesmo.
A Teoria do Parasita Pós-Moderno foi criada por Jonathan Pageau, teórico canadense. Ele afirmou em entrevista para o documentário A Sétima Arte:
“A ideia de um parasita é um conceito muito enraizado na teoria pós-modernista. Há alguns pensadores, como Jacques Derrida, que viam seu trabalho como parasítico.”
Pageau cita Derrida, filósofo dos anos 60, famoso por defender o processo de reconstrução, uma espécie de reinterpretação do passado na escrita e em outras esferas culturais.
Para compreender a teoria citada, pense da seguinte forma:
Quando ele mata o seu hospedeiro, pode ir para uma próxima casa.
Mas quando ele devora todos à sua volta, ele mesmo morre.
Para os novos heróis e heroínas, funciona da mesma forma.
Eles escolhem um lugar para se hospedar, para sobreviver, para substituir.
Ou seja, o herói que conhecemos é o hospedeiro. É o caso de Luke Skywalker, de James Bond e, até mesmo, da fada madrinha de Cinderela.
O personagem configurado como hospedeiro costuma ser reapresentado, reafirmado, para depois ser substituído.
Se eles criassem um novo personagem, não poderiam substituir nada e assim como o parasita, morreriam sem ter uma casa para se hospedar.
Jonathan Pageau alerta sobre um fato:
Mesmo que a narrativa revolucionária esteja ganhando espaço, ela precisa se apresentar como vítima, como margem, para assim, substituir o padrão que conhecemos.
Essa comparação é importante para entendermos o que está acontecendo!
O cinema e os conteúdos que assistimos tem um impacto enorme em nossas vidas.
Muitas vezes nos lembramos de um filme por toda a vida, mas temos dificuldade de recordar de pequenas lições recebidas em sala de aula, na escola.
E é evidente que os grandes produtores e executivos de Hollywood sabem disso.
Estão conseguindo transformar entretenimento da mais alta qualidade em propaganda ideológica preguiçosa.
O revolucionário parece mesmo ter esse talento de construir pouco e destruir muito.