Marcos Ruppelt
Achismos apurados
Achismos apurados

Deixe o passado morrer

Por 
Marcos Ruppelt
29/4/2022
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"Deixe o passado morrer. Mate-o, se for necessário".

Essas são as palavras de Kylo Ren (Adam Driver) em Star Wars: Os Últimos Jedi.

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Kylo é filho da Princesa Leia e de Han Solo

Foi treinado por Luke Skywalker

E sonha em retomar o legado e o poder de seu avô, Darth Vader.

O peso da tradição da maior franquia de todos os tempos recai sobre suas costas.

É simbólico assistir, ao longo da nova trilogia, que Kylo Ren não consegue sustentar esse peso.

Descobrimos que ele se rebelou contra seu tutor.

Que ele matará seu pai. E irá tentar, junto de Rey, esquecer o passado.

Kylo é apenas o sintoma de uma transformação já percebida no cinema por espectadores no mundo inteiro.

Os grandes filmes do cinema norte-americano estão mudando os símbolos do passado.

A politização na sétima arte não é algo novo

  • Leitura recomendada: por que o cinema é considerado a sétima arte?

O cinema já foi política de estado, protagonista em uma Guerra Mundial e bandeira da contracultura.

Nos anos 60 e 70, vimos muitos cineastas talentosos fazendo um cinema mais engajado, transgressor e, até mesmo, inovador.

Mas o que vemos agora é diferente.

Há uma percepção de que as coisas não apenas estão mudando, e sim sendo destruídas.

Vemos o herói nórdico Thor, um semi-deus, se transformando em um gordo preguiçoso.

Vemos uma heroína de segundo escalão, Capitã Marvel, sendo apresentada como a pessoa mais capaz de salvar o universo nos cinemas.

E vemos o herói mais marcante dos anos 70 jogando seu sabre de luz fora.

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A resposta para o que está acontecendo pode ser resumida em uma teoria:

O progressismo não quer criar novos personagens. Se eles criarem, o impacto não será o mesmo.

A Teoria do Parasita Pós-Moderno foi criada por Jonathan Pageau, teórico canadense. Ele afirmou em entrevista para o documentário A Sétima Arte:

“A ideia de um parasita é um conceito muito enraizado na teoria pós-modernista. Há alguns pensadores, como Jacques Derrida, que viam seu trabalho como parasítico.” 

Pageau cita Derrida, filósofo dos anos 60, famoso por defender o processo de reconstrução, uma espécie de reinterpretação do passado na escrita e em outras esferas culturais.

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Para compreender a teoria citada, pense da seguinte forma:

Na natureza, o parasita não cria nada, apenas substitui.

Quando ele mata o seu hospedeiro, pode ir para uma próxima casa.

Mas quando ele devora todos à sua volta, ele mesmo morre.

Para os novos heróis e heroínas, funciona da mesma forma.

Eles escolhem um lugar para se hospedar, para sobreviver, para substituir.

Ou seja, o herói que conhecemos é o hospedeiro. É o caso de Luke Skywalker, de James Bond e, até mesmo, da fada madrinha de Cinderela.

O personagem configurado como hospedeiro costuma ser reapresentado, reafirmado, para depois ser substituído. 

Se eles criassem um novo personagem, não poderiam substituir nada e assim como o parasita, morreriam sem ter uma casa para se hospedar.

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Jonathan Pageau alerta sobre um fato:

Mesmo que a narrativa revolucionária esteja ganhando espaço, ela precisa se apresentar como vítima, como margem, para assim, substituir o padrão que conhecemos.

Essa comparação é importante para entendermos o que está acontecendo!

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O cinema e os conteúdos que assistimos tem um impacto enorme em nossas vidas.

Muitas vezes nos lembramos de um filme por toda a vida, mas temos dificuldade de recordar de pequenas lições recebidas em sala de aula, na escola.

E é evidente que os grandes produtores e executivos de Hollywood sabem disso. 

Estão conseguindo transformar entretenimento da mais alta qualidade em propaganda ideológica preguiçosa.

O revolucionário parece mesmo ter esse talento de construir pouco e destruir muito.

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