Ali Khamenei transformou sua trajetória de prisioneiro político em um poder quase absoluto, comandando com punho firme a República Islâmica do Irã desde a morte do aiatolá Khomeini.
No centro da crise entre Israel e Irã, um nome domina os bastidores e o cenário político internacional: aiatolá Ali Khamenei.
Comandante supremo do regime teocrático iraniano desde 1989, ele é considerado por muitos analistas o verdadeiro epicentro de decisões que moldam não apenas a vida de 88 milhões de iranianos, mas também o equilíbrio geopolítico do Oriente Médio.
Durante o recente conflito entre Israel e Irã, veio à tona uma informação delicada: segundo relatos da mídia americana, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria rejeitado um plano israelense para assassinar Khamenei, chamando a proposta de “péssima ideia”.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, não disse que descarta a hipótese. Afirmou à ABC News na segunda-feira que atacar o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, encerraria — e não intensificaria — o atual conflito entre Israel e Irã, iniciado no fim da semana passada.
Em entrevista ao jornalista Jonathan Karl relatou que o ex-presidente Donald Trump rejeitou um plano israelense para assassinar Khamenei por temer uma escalada.
"Este regime aterroriza o Oriente Médio há meio século; bombardeou campos de petróleo da Aramco na Arábia Saudita; espalha terrorismo, subversão e sabotagem por toda parte", disse Netanyahu.
"O Irã quer uma 'guerra eterna' e está nos levando à beira de uma guerra nuclear. Israel está tentando impedir isso, enfrentando as forças do mal e encerrando essa agressão."
A revelação lança luz sobre a importância estratégica do líder religioso e político, e sobre os limites da diplomacia — mesmo em tempos de guerra.
Nascido em 1939 em Mashhad, segunda maior cidade do Irã, Ali Khamenei cresceu em uma família religiosa xiita. Aos 11 anos já se preparava para ser clérigo, dominando os estudos do Alcorão e a tradição islâmica.
Tornou-se uma voz ativa contra o xá Reza Pahlavi, foi preso seis vezes e submetido à tortura pela SAVAK, a temida polícia secreta do regime monárquico.
Figura central da Revolução Islâmica de 1979, Ali Khamenei se destacou como aliado próximo do aiatolá Ruhollah Khomeini.
Desde a fundação da República Islâmica do Irã, passou a ocupar posições-chave no novo regime.
Inicialmente impulsionado por Akbar Hashemi Rafsanjani e Hassan Rouhani, foi nomeado vice-ministro da Defesa no governo provisório, além de assumir o comando da Guarda Revolucionária e atuar no front como representante parlamentar.
Em 1980, após a renúncia de Hussein-Ali Montazeri, foi nomeado pelo Aiatolá Khomeini para liderar as orações de sexta-feira em Teerã — um cargo de alta projeção política e religiosa.
Sua ascensão, porém, quase foi interrompida tragicamente: em 1981, Khamenei sofreu a uma tentativa de assassinato. Uma bomba escondida em um gravador explodiu enquanto ele falava aos fiéis em uma mesquita. O ataque deixou sequelas permanentes — ele perdeu os movimentos do braço direito.
Mesmo com a resistência inicial de Khomeini à ideia de clérigos no Executivo, a conjuntura política o levou a ceder.
Khamenei seria reeleito em 1985 com 87% dos votos. Ambas as eleições foram rigidamente controladas pelo Conselho dos Guardiões, com poucos candidatos autorizados a concorrer.
Durante seu governo, adotou uma retórica dura contra o progressismo, ideologia que tachava de influência americana. Foi também sob sua gestão que o regime intensificou a repressão interna: milhares de dissidentes foram mortos ou perseguidos, especialmente nos anos iniciais da década de 1980.
A guerra Irã-Iraque, que atravessou parte de seu mandato, foi outro marco de sua liderança. Khamenei manteve envolvimento direto com o esforço de guerra e estreitou laços com a Guarda Revolucionária, que mais tarde se tornaria uma das instituições mais poderosas do país. Em 1982, após repelir o Exército iraquiano, opôs-se à ideia de invadir o Iraque — posição que compartilhou com o então premiê Mir-Hossein Mousavi, de quem se tornaria adversário político anos depois.
Mesmo após a guerra, Khamenei continuaria envolvido em episódios controversos. Em 1997, uma decisão da Justiça alemã envolveu seu nome no caso do assassinato de dissidentes iranianos no restaurante Mykonos, em Berlim. O tribunal alegou que o ataque fora ordenado com conhecimento de Khamenei e Rafsanjani, então presidente.
O governo iraniano negou, e a crise diplomática com a Europa durou meses. Os responsáveis pelo atentado foram presos, mas posteriormente deportados.
Em 1989, com a morte de Khomeini, ele foi escolhido como seu sucessor no cargo mais alto da hierarquia iraniana: o de líder supremo.
Essa trajetória — marcada por lealdade ideológica, centralização de poder e episódios de violência política — moldou a figura que hoje comanda a República Islâmica com autoridade
Foi nomeado líder das orações de sexta-feira em Teerã e, dois anos depois, eleito presidente do país.
A Constituição iraniana confere ao líder supremo poderes quase absolutos, como:
Seus decretos se sobrepõem a decisões do presidente e do parlamento.
Trata-se, portanto, de um modelo teocrático onde a autoridade espiritual e governança política caminham juntas, situação diferente do que configura na democracia liberal, mas profundamente enraizado na cultura e na tradição xiita do Irã.
Apesar de seu poder quase absoluto, Ali Khamenei leva uma vida relativamente discreta. Vive com sua esposa, Mansoureh Khojasteh Baqerzadeh, em um complexo no centro de Teerã. O casal teve seis filhos: quatro homens e duas mulheres. Pouco se sabe sobre suas filhas, Bushra e Hoda, que se mantêm longe dos holofotes.
Entre os filhos homens, destaca-se Mojtaba Khamenei, apontado por diversas fontes como o herdeiro político do pai. Estudou em Qom, centro do clero xiita, e exerce influência significativa nos bastidores do regime. Durante a eleição presidencial de 2004, foi acusado de interferência para beneficiar Mahmoud Ahmadinejad, episódio que projetou sua figura no cenário político.
Outro filho, Mustafa, também serviu na guerra Irã-Iraque e casou-se com a filha de um influente clérigo. Masoud, o terceiro, se manteve fora da política ativa e dirige o escritório responsável por preservar e divulgar a obra do pai. Meysam, o caçula, também é clérigo e atua na mesma instituição que Masoud.
O papel crescente de Mojtaba Khamenei na administração e nos círculos de poder levanta suspeitas sobre uma possível tentativa de institucionalizar uma “monarquia clerical”, algo que violaria formalmente os princípios da Revolução Islâmica.
A Constituição iraniana exige que o líder supremo seja escolhido pela Assembleia dos Especialistas, um conselho de clérigos eleitos.
Ainda assim, fontes próximas ao regime indicam que Mojtaba pode ser o preferido do pai.
Há um paradoxo aqui: a República que nasceu para suplantar a hereditariedade do xá agora se vê às voltas com uma possível dinastia religiosa.
Isso não escapa aos olhos dos reformistas internos e dos observadores internacionais.
Sua longevidade no cargo e a centralização de poder fazem dele um alvo estratégico para adversários externos, como se evidenciou na proposta rejeitada por Trump.
Israel, por sua vez, vê o Irã como uma ameaça existencial, principalmente por causa do programa nuclear iraniano. A retórica agressiva de Teerã contra Tel Aviv, somada ao apoio a grupos como Hezbollah e Hamas, alimenta o ciclo de desconfiança e hostilidade. É nesse contexto que ataques aéreos, operações secretas e espionagem se tornam ferramentas recorrentes.
Ali Khamenei não é apenas um líder religioso ou um chefe de Estado. Ele é a personificação de um sistema que funde fé e poder político, tradição e controle militar. Entender sua figura é entender muito do funcionamento da República Islâmica do Irã — suas contradições, ambições e fragilidades.
Mais do que isso, Khamenei representa a encruzilhada entre Oriente e Ocidente, entre o passado milenar de uma civilização persa e os dilemas contemporâneos do mundo globalizado.
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