O episódio que encerrou um ciclo
A confusão aconteceu no fim de setembro, durante o Spaten Fight Night, evento de boxe que unia lutadores de diferentes modalidades.
O confronto, que deveria ser apenas uma exibição, terminou em troca de socos fora do combate e empurrões entre os integrantes das equipes.
Popó chegou a ser atendido por médicos e precisou passar por cirurgia na mão direita dias depois. O caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais e, segundo o próprio atleta, foi o estopim para sua decisão de se despedir dos ringues.
“Eu nunca saí machucado de uma luta de boxe. Saí machucado porque o cara me agrediu fora da luta. Quero encerrar com dignidade, enquanto ainda posso falar e andar de cabeça erguida.”
Durante a coletiva, Popó falou por mais de dez minutos sem conter as lágrimas. A cada frase, lembrava que o boxe foi sua vida desde a adolescência e que sua trajetória começou muito antes da fama e dos títulos.
“São 35 anos tomando soco na cara. Saco de boxe a gente troca quando gasta demais; cabeça, não. Quero preservar minha saúde e a imagem do meu esporte. Quero que as pessoas olhem para mim e vejam que o boxe é um esporte sadio, que transforma vidas.”
Ele também aproveitou o momento para fazer um apelo à paz no boxe brasileiro, pedindo respeito entre os lutadores.
“A encarada é o momento de mostrar quem é quem, mas sem empurrão, sem ofensa, sem violência. Hoje eu quero selar a paz no boxe brasileiro.”
Relembre a carreira de Popó
Acelino Freitas deixa o esporte com um cartel de 44 lutas, sendo 42 vitórias (34 por nocaute) e apenas duas derrotas.
Ao longo da carreira, conquistou quatro títulos mundiais em duas categorias: super-pena e leve, pelas principais organizações do boxe mundial (WBO e WBA).
Em 1995, aos 19 anos, venceu sua primeira luta profissional em Salvador, nocauteando José Adriano Soares em apenas 34 segundos. Um mês depois, derrotou Waldevino Monteiro em 23 segundos, construindo uma sequência de vitórias que o levaria ao topo.
Em 1999, Popó nocauteou Anatoly Alexandrov e conquistou o primeiro cinturão mundial da WBO.
No ano seguinte, defendeu o título com seis nocautes consecutivos e, em 2002, unificou os cinturões da WBO e WBA ao vencer o cubano José Casamayor, campeão olímpico e mundial.
Em 2003, enfrentou uma das lutas mais lembradas de sua carreira, contra o argentino Jorge Barrios.
Mesmo após sofrer dois knockdowns, venceu no 12º round e se tornou supercampeão da WBO, título concedido a quem defende o cinturão por mais de dez vezes consecutivas.
Posteriormente venceu Artur Grigorian e conquistou o terceiro título mundial, desta vez nos pesos-leves. Em 2006, recuperou o cinturão ao derrotar Zahir Raheem, tornando-se tetracampeão mundial.
Popó também conheceu a derrota. Em 2004, perdeu para o norte-americano Diego Corrales e decidiu se afastar temporariamente dos ringues. Voltou dois anos depois, recuperou o cinturão, e então anunciou a primeira aposentadoria.
A partir de 2022, passou a disputar lutas de exibição, como a que fez contra o humorista Whindersson Nunes, terminada em empate, e outras dentro do projeto Fight Music Show, que misturava esportes e entretenimento.
Quem é Popó?
Nascido em Salvador, em 21 de setembro de 1975, Popó descobriu o boxe ainda adolescente, incentivado pelo irmão Luís Cláudio Freitas, que foi seu primeiro treinador.
Criado em uma família simples, encontrou na luta um caminho de superação. Aos 17 anos, tornou-se campeão brasileiro amador e, dois anos depois, conquistou a prata nos Jogos Pan-Americanos de 1995, em Mar del Plata.
Por dificuldades financeiras, desistiu das Olimpíadas de Atlanta (1996) para se tornar profissional. O resto da história o colocou entre os maiores nomes do esporte nacional.
Durante o auge, Popó se tornou símbolo do boxe brasileiro moderno — popular, midiático e vencedor. Também teve uma passagem pela política, atuando como deputado federal pela Bahia entre 2010 e 2014.
O último round
A coletiva de despedida terminou com aplausos. O ex-campeão agradeceu aos fãs, à equipe e aos organizadores, reafirmando que não voltará atrás.
“Homem que é homem, palavra dada não volta. Eu parei aqui hoje. Obrigado.”