Marina Silva, abandonou uma audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado, após um bate-boca que envolveu, inclusive parlamentares da base aliada do governo Lula.
Durante uma sessão para discutir a criação de áreas de conservação na Margem Equatorial, onde a Petrobras busca explorar petróleo, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) disse que não respeita Marina como ministra:
"Ministra Marina, que bom reencontrá-la. E ao olhar para a senhora, eu estou vendo uma ministra. Não estou falando com uma mulher. Porque a mulher merece respeito, ministra não. Por isso que eu quero separar"
A ministra respondeu falando que se não recebesse um pedido de desculpas do senador deixaria a sessão:
"Como eu fui convidada como ministra, ou ele me pede desculpas ou eu vou me retirar. Se, como ministra, ele não me respeita, vou me retirar". Ela foi embora após o senador se recusar a pedir desculpas.
Este não foi o primeiro ataque de Valério a ela; durante a CPI das ONGs, ele havia declarado: "Imagine o que é tolerar a Marina 6 horas e 10 minutos sem enforcá-la?".
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, Lula teria ligado para Marina e disse que ela "acertou ao se retirar da comissão" e que ele se sentiu "melhor" após ver a atitude dela.
A primeira-dama e ministras do governo também manifestaram repúdio às falas dos senadores, classificando o episódio como "misógino".
Apesar de receber apoio de Lula, a percepção em Brasília é de que Marina Silva tem sido frequentemente isolada pelo próprio governo em votações cruciais.
Uma semana antes do embate no Senado, a mesma Casa aprovou um projeto de lei que flexibiliza as regras do licenciamento ambiental no país, com apoio da base governista.
A ministra combateu a pauta, afirmando que ela não foi debatida com a sociedade, pode criar uma "guerra ambiental" entre estados e municípios, além de tirar poder de órgãos como o Conama e o ICMBio:
"Não adianta mudar as leis ambientais se as leis naturais permanecerão as mesmas". Afirmou.
Outras pautas que contrariam a visão da ministra, como a exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas e o asfaltamento da BR-319 têm avançado com apoio do governo.
O senador Omar Aziz (PSD-AM), por exemplo, culpou a própria Marina pela demora na aprovação do projeto de licenciamento, por sua "intransigência" e "falta de vontade de dialogar".
Mesmo diante desse cenário, Marina Silva diz que não pensa em deixar o ministério, como fez no segundo mandato de Lula.
Segundo interlocutores de seu partido, a ministra acredita que a permanência no governo é importante para "evitar um mal maior" e "mitigar danos".
Ela vê o presidente Lula como um "grande fiador da pauta ambiental" no cenário internacional e reconhece o esforço dele em temas como a redução do desmatamento e as metas climáticas (NDC).
Questionada em entrevista recente à Folha de S. Paulo sobre seu aparente isolamento, Marina Silva respondeu:
"Tem muita gente que está do lado da proteção ambiental. O governo tem agido, mesmo em meio a contradições, do fato de sermos uma frente ampla, respondendo às necessidades da agenda ambiental. Você acha que a gente teria reduzido o desmatamento no Brasil inteiro se não fosse o esforço do governo, com 19 ministérios trabalhando junto?"
No entanto, o discurso de avanços na área ambiental é confrontado por dados preocupantes sobre queimadas.
Em 2024, o Brasil registrou o maior número de focos de incêndio dos últimos 14 anos, com mais de 102.670 ocorrências entre janeiro e 23 de agosto, segundo o Inpe.
A área queimada de janeiro a julho de 2024 também foi a maior da série histórica iniciada em 2003, atingindo 113.677 km².
Um "corredor de fumaça" chegou a afetar a qualidade do ar em pelo menos 10 estados.
A ministra atribuiu os incêndios na Amazônia e Pantanal à "ação humana" e às "mudanças climáticas", argumentando que a situação seria "incomparavelmente pior" sem a redução do desmatamento observada no ano anterior.
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