Em 1942, um garoto judeu de 12 anos chamado Maxwell Smart viu sua família ser levada pelos nazistas em Buczacz, cidade que então fazia parte da Polônia.
Empurrado pela própria mãe para fora da fila que o levaria a um campo de extermínio, ele fugiu sozinho para a floresta.
“Você precisa viver. Eu não posso mais te ajudar.”
O que seria um refúgio temporário se transformou em quase dois anos de sobrevivência em condições extremas.
Maxwell viveu escondido em uma toca, alimentando-se de cogumelos e frutas silvestres, até encontrar outro menino, Janek, com quem dividiu o abrigo.
Décadas depois, sua história se tornou um dos relatos mais marcantes da sobrevivência judaica no Leste Europeu sob a ocupação nazista.
Em 1939, a Polônia foi invadida por dois lados. Tropas alemãs entraram pelo oeste, enquanto o Exército Vermelho ocupou o leste, onde ficava Buczacz. A família de Maxwell permaneceu em casa.
Os dois anos de domínio soviético não mudaram drasticamente a rotina, segundo ele relatou em entrevistas décadas depois.
Em julho de 1941, tudo mudou. Os alemães tomaram a cidade. Para parte da população ucraniana local, a chegada foi comemorada. Gritos de “matem os judeus” ecoaram nas ruas. A partir dali, a perseguição tornou-se sistemática.
Primeiro, homens judeus entre 18 e 50 anos foram convocados para se registrar. O pai de Maxwell atendeu à ordem. Ele nunca mais voltou.
A família acreditava que ele havia sido enviado para trabalhos na Alemanha, mas todos os homens daquela leva foram executados.
Logo, os judeus de Buczacz foram obrigados a viver em um gueto. Maxwell dividia um quarto com a mãe, a irmã mais nova, o avô e outras pessoas. A situação era precária.
Em novembro de 1942, a Gestapo invadiu o prédio. O avô, doente e cego, foi empurrado escada abaixo e morto ali mesmo.
A mãe, a irmã e Maxwell foram levados para uma prisão com centenas de judeus. Depois de dois dias sem comida, os portões se abriram e começaram as deportações para campos de extermínio.
No caos, a mãe se virou para o filho. Disse que ele precisava fugir. Empurrou-o para longe. Ele caiu no chão, levantou-se e se escondeu. Pouco depois, viu a mãe e a irmã sendo levadas em um caminhão. Não as veria de novo.
Sozinho, Maxwell procurou por conhecidos e encontrou abrigo temporário com um agricultor polonês chamado Jasko. Ele vivia com a esposa e dois filhos em uma pequena casa no campo. Jasko lhe deu roupas e um novo nome: Staszek.
Durante algumas semanas, Maxwell passou a viver como parte daquela família. Mas a pressão era enorme. Patrulhas rondavam a região em busca de fugitivos. Se fosse descoberto, todos seriam mortos.
Quando a polícia foi até a casa, Jasko disse que não estava escondendo ninguém. Depois disse ao menino que não poderia mantê-lo por mais tempo. Levou-o até a floresta e mostrou como construir um abrigo subterrâneo.
A toca foi forrada com palha. Ali cabia apenas um corpo deitado. Jasko ensinou a distinguir alimentos, a evitar cogumelos venenosos, acender uma fogueira e a montar armadilhas. Maxwell passou, então, a viver sozinho.
O garoto aprendeu a se orientar pelo som dos animais. Quando a floresta ficava em silêncio, sabia que havia estranhos por perto. Alimentava-se de frutas, fungos que cresciam nas árvores e pequenos animais.
Ele descreveu esse período como uma transformação. Não se lavava, não trocava de roupas, comia com as mãos. Sentia que deixava de pertencer ao mundo humano e se adaptava ao ambiente.
"Eu nem parecia mais humano. Comia com as mãos sujas, não me lavava, era um bicho. E eu olhava para o céu e me sentia livre. Os pássaros e a floresta me aceitavam, gostavam de mim. Eu fazia parte deles."
Um dia, Maxwell percebeu a aproximação de outro menino. Era Janek, cerca de dois anos mais novo, que também havia perdido os pais. Ele contou que estava sozinho e sem comida há dias. Maxwell dividiu o pouco que tinha.
A partir daí, passaram a viver juntos. Ampliaram a toca, improvisaram um forno e dividiram as tarefas de buscar alimento e se aquecer no inverno. Para Maxwell, a companhia foi decisiva. Não estava mais em silêncio absoluto.
Certa manhã, ouviram tiros e gritos ao longe. Foram investigar e encontraram corpos na neve. No local, pegaram roupas e sapatos.
Pouco depois, notaram movimento na outra margem do rio. Uma mulher havia sido atingida e caído sobre um bebê. O bebê ainda estava vivo.
Maxwell e Janek atravessaram a água gelada e o resgataram. Levaram a criança para o abrigo e improvisaram cuidados.
Mas logo perceberam que não teriam condições de criá-la. Entregaram a uma família judia escondida nas proximidades, que reconheceu a menina como parente.
Pouco depois, Janek adoeceu. Tinha febre alta e não conseguia se recuperar. Maxwell tentou buscar ajuda com Jasko. Quando voltou, encontrou a toca vazia. Procurou nos arredores e achou o corpo do amigo congelado na neve.
A perda o marcou profundamente. Sentiu-se responsável, acreditando que havia colocado Janek em risco ao atravessarem o rio para salvar a criança.
O amigo o acolheu novamente em casa. Ali permaneceu até a chegada dos soviéticos, em 1944.
Quando a guerra terminou, Maxwell voltou a Buczacz. Descobriu que era o único sobrevivente da família. Dos cerca de 8 mil judeus da cidade, restaram apenas 100.
Sem casa nem parentes, sobreviveu em pequenos trabalhos. Aos 14 anos, foi incluído em um programa de envio de órfãos enviados para o Canadá. Em 1948, chegou a Montreal. Passou a usar o nome Maxwell Smart. Casou-se, teve filhos e se dedicou à arte.
Por décadas evitou falar sobre o passado.
Em 2019, Maxwell foi procurado por uma equipe que produzia um documentário sobre sobreviventes do Holocausto. Foi nesse contexto que reencontrou parentes de Janek, que o agradeceram por ter cuidado do garoto durante aqueles anos.
A equipe também o levou a Israel, onde encontrou Tova, a bebê que havia salvado junto com Janek. Ela não se lembrava do episódio, mas estava cercada de filhos e netos.
Em 2022, Maxwell decidiu registrar tudo em livro: The Boy in the Woods. No ano seguinte, a obra foi adaptada para o cinema com o título Uma História de Sobrevivência.
A trajetória de Maxwell mostra como uma criança atravessou a guerra em condições extremas. Escondeu-se em uma floresta, sobreviveu sem família, construiu nova vida em outro país e, décadas depois, decidiu contar sua história.
Sua memória, que começou em uma toca de palha no leste europeu, hoje circula em livros, filmes e testemunhos.
Como um veículo independente, não aceitamos dinheiro público. O que financia nossa estrutura são as assinaturas de cada pessoa que acredita em nossa causa.
Quanto mais pessoas tivermos conosco nesta missão, mais longe iremos. Por isso, agradecemos o apoio de todos.
Seja também um membro da Brasil Paralelo e nos ajude a expandir nosso jornalismo.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP