Ontem, após a divulgação da prova de redação do Enem, começaram a surgir nas redes sociais publicações fazendo associações entre o tema da redação e o jornalista Tiago Leifert. Associando a prova ao jornalista estava o tema do racismo. Tão logo o tema foi divulgado” começaram a surgir comentários como:
“O Tiago Leifert na redação do Enem: Não existe racismo no Brasil. É tudo perspectiva”, do usuário @evertondisse, no X.
A repercussão revela a campanha de destruição reputacional sofrida pelo apresentador desde que manifestou sua opinião sobre a conduta de Vini Jr durante o prêmio Bola de Ouro. Durante uma live, o jornalista criticou a escolha do atleta e do Real Madrid de não comparecer à cerimônia de entrega do prêmio, em Paris.
Leifert achava que, mesmo sabendo que não seria vencedor, Vini Jr deveria ter comparecido à premiação para colher os louros da popularidade.
Leifert atuou durante 14 anos na cobertura esportiva. Em sua análise, esclareceu que Vini Jr é atualmente o mais importante jogador de futebol da atualidade. Enfatizou que o atleta é maior do que o próprio prêmio:
“Deveria ter ido, com o peito estufado, olhar nos olhos dos jornalistas que não votaram em você, receber o carinho. Se você tivesse ido, seria o campeão moral. Teria sido absurdamente legal se você tivesse ido.”
Disse também que o vencedor, Rodrigo Castante, do Manchester City não tem culpa pelo que aconteceu:
“O Rodri não tem culpa, acabou sendo um pouco ferido pelos fatos. Não tem culpa nenhuma. Você deveria ter ido, Vini. Para você ser levado nos braços povo. Perdeu a oportunidade de ter essa imagem”, afirmou Leifert.
Na sequência, o site Choquei “ressurgiu”, publicando um um corte da fala do apresentador, que foi replicado por perfis como Mundo da Bola e Fofoquei. Depois disso, a narrativa de racismo começou a correr pela internet.
Personalidades e internautas acusaram Leifert de querer ensinar a um homem negro como agir em relação ao racismo. O ator Jonatas Figueiredo gravou um vídeo nas redes sociais em que acusou o jornalista de autoritarismo: “Ele diz que o Vini tem de fazer isso porque ele quer [...] Está reproduzindo um Brasil de 500 anos atrás”, afirmou.
A cantora Maria Rita Mariano escreveu que ele não deveria ter emitido opinião:
“Absurdamente legal seria a sua decisão de não emitir opinião”. E ainda enfatizou em tom irônico: “Racismo é igual cair na pilha. Ah, que vergonha”.
Outro que criticou Leifert foi Bruno Gagliasso. O ator e a esposa, Giovanna Ewbank, são conhecidos pelo constante envolvimento em debates sobre racismo:
“Calado é um poeta”, afirmou Gagliasso. O ator disse ainda que ao se recusar a comparecer, Vini Jr chamou a atenção para o problema do racismo:
“Ele [Vini Jr] venceu porque a sua ausência é mais eloquente do que qualquer presença naquele evento. Ele venceu porque fez o mundo inteiro olhar para uma brutal tentativa de apagamento. Ele venceu porque seus companheiros abraçaram sua ideia. Ele venceu porque, mais uma vez, é o algoz dos racistas”.
Com o objetivo de responder às acusações, o jornalista então realizou uma live em suas redes sociais. Um dos convidados foi Bruno Gagliasso, que visualizou a mensagem, mas não a respondeu. Sara Zarâ, uma influenciadora do movimento negro, que viralizou um vídeo do jornalista, também esteve entre as convidadas.
Tiago afirmou que seu comentário se referia apenas a futebol. Perguntou se a moça tinha conhecimento sobre como funciona o Bola de Ouro. Ela afirmou que não tinha. Disse também que não estava falando sobre futebol:
“Aquela orientação que você deu não cabe em nenhum contexto, nem mesmo em futebol”, reclamou Sara Zarâ.
“A Bola de Ouro é injusta a bastante tempo, é um prêmio individual polêmico porque fez um monte de merda nos últimos anos. São 100 jornalistas que participam de 100 países, um de cada país. O Vini perdeu por que foi vítima de racismo?”, questionou Tiago.
“Eu não acho que seja por isso não”, disse Sara.
“Então a gente já tem um problema. Então a minha fala não é racista”.
Em outro momento, Tiago continuou:
“Vocês pegaram o comentário sobre a Bola de Ouro e estão me chamando de uma coisa que eu não sou, isso é crime. Que absurdo”.
Afirmou também que não pode ser chamado de racista só porque discorda do grupo que o atacou.
A live acirrou ainda mais a polêmica. A jornalista Madeleine Lacsko, de O Antagonista, chamou a atenção para dois pontos:
O primeiro é o desconhecimento da ativista sobre o tema tratado por Leifert. Segundo Lacksco:
“Não, ela não tinha [conhecimento sobre futebol]. Tampouco entendia o funcionamento do Bola de Ouro. E assim, sem conhecimento sobre o evento e sem assistir à live, essa influencer se sentiu capacitada para atacar alguém, repetindo os clichês vazios do identitarismo.”
Madelaine ressaltou que a influeciadora é uma mulher negra e inteligente, que tem o desejo de ocupar o espaço que merece:
“Mas, ao ser tragada pelo movimento woke e pela narrativa do politicamente correto, acreditou que sua luta deveria se resumir a atacar e cancelar os outros. Para muitos dessa nova geração, lutar é consumir e cancelar, acreditando que a inclusão se dá por likes e publis.”
Na live, a influenciadora fez o pedido direto por mais patrocínios. Um segundo ponto importante é que o episódio marcou o retorno do perfil Choquei à internet.
Em março deste ano, após a divulgação de uma notícia falsa sobre um suposto relacionamento entre Jéssica Canedo, 22 anos, e o humorista Whindersson Nunes. Essa informação errônea desencadeou um intenso assédio online contra Jéssica. A jovem foi tragicamente encontrada morta dias depois.
O incidente gerou uma onda de indignação nas redes sociais, provocando intensos debates sobre ética na divulgação de informações, responsabilidade digital e os perigos do cyberbullying.
Críticas severas foram direcionadas ao "Choquei" e à Mind8, empresa que tem a cantora Preta Gil como uma das sócias. A empresa, então, comprometeu-se a mudar suas práticas de gestão de conteúdo.
Na época, a família de Jéssica manifestou intenção de buscar justiça, ampliando o debate para a esfera legal. O caso trouxe à tona questões cruciais sobre o impacto das redes sociais na saúde mental, especialmente de jovens.
O caso envolvendo Tiago Leifert recoloca o perfil no centro de uma polêmica envolvendo campanhas de cancelamento reputacional.
Não é a primeira onda de ataques que o jornalista sofre. Há alguns anos, quando apresentava o programa Big Brother Brasil, protagonizou uma série de debates sobre a importância do programa para a geração de empregos na rede Globo. Na época, foi acusado de ter sido privilegiado na carreira por ser filho de um executivo da empresa. Na ocasião, a questão racial também veio à tona.
Não foi só pelo trabalho realizado como jornalista que Tiago Leifert se tornou conhecido. Esteve ao lado da esposa, Diana Garbin, no ativismo contra a bulimia e transtornos alimentares.
Além disso, protagonizou uma campanha de conscientização sobre retinoblastoma, um tipo raro de câncer ocular que atinge prioritariamente crianças de 0 a 5 anos e que atingiu sua filha, Lua, ainda bebê.
A campanha de cancelamento parece trabalhar com um recorte da trajetória de quem é cancelado e ainda reduzir debates importantes, como os sobre a questão racial. Madeleine Lacsko chama a atenção para o fato de que “quem realmente quer fazer a diferença tem apenas um caminho a seguir: conhecimento, trabalho e diálogo”.
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