Sol cometeu seu primeiro assassinato para um cartel mexicano aos 12 anos. Ela foi recrutada por um conhecido poucos meses antes, enquanto vendia rosas na rua.
Ser menor de idade também era uma vantagem para o cartel, já que isso a protegeria de punições severas caso fosse capturada, segundo a Reuters.
A história de Sol é um retrato de uma tática cruel e cada vez mais comum dos carteis mexicanos: o recrutamento de crianças e adolescentes.
No jargão dos cartéis, esses jovens são chamados de pollitos de colores, “pintinhos coloridos”, uma referência aos filhotes de galinha tingidos com cores vibrantes e vendidos em feiras.
O recrutamento de menores é uma estratégia sistêmica, com os alvos sendo cada vez mais jovens.
As crianças são valorizadas pela lealdade com que pode ser moldada, pela facilidade em aprender tarefas criminosas e por serem vistas como "descartáveis".
O aliciamento raramente ocorre ao acaso. A maioria dos jovens é recrutada através de parentes ou amigos.
Muitos vêm de lares devastados pela violência doméstica e pelo abuso de drogas, muitas vezes eles mesmos já enfrentam o vício em drogas.
Em um ambiente de miséria e desesperança, o cartel oferece uma ilusão de pertencimento, status e uma espécie de "família".
"Você entra com sua sentença de morte já assinada. Mas vale a pena", confessou um jovem assassino de 14 anos, que trabalha para um cartel há oito meses para a Reuters.
O Brasil também enfrenta um problema similar, é comum que facções criminosas recrutem crianças e adolescentes.
Dados do Instituto Segurança Pública apontam que o número de menores apreendidos por crimes aumentou 40% no Rio de Janeiro.
Facções dominam diversos territórios da cidade e disputam entre si para expandir suas áreas.
A Brasil Paralelo investigou esse cenário com o documentário Começou como olheira, mas sua lealdade e entusiasmo para aprender agradaram aos chefes. : Paraíso em Chamas.
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Tecnologias como videogames e redes sociais também se tornaram uma ferramenta poderosa de recrutamento.
No México, traficantes utilizam praticamente todas as redes sociais para suas atividades de recrutamento.
No Facebook, por exemplo, são comuns anúncios falsos que oferecem supostas oportunidades de trabalho, mas na verdade direcionam os interessados para as mãos dos carteis.
Em plataformas frequentadas por um público ainda mais jovem, como o TikTok, as campanhas de recrutamento podem ser muito mais explícitas.
Membros de grupos criminosos publicam vídeos com capturas de tela de jogos violentos, com mensagens informando que a organização está recrutando novos integrantes.
Em 2021 aconteceu um caso emblemático. Autoridades mexicanas interceptaram três meninos, com idades entre 11 e 14 anos, no estado de Oaxaca.
Eles estavam prestes a se juntar a um cartel após terem sido recrutados através de conversas em uma sala de bate-papo do jogo Free Fire.
Um jogador ofereceu aos adolescentes o equivalente a R$2.270,00 a cada quinzena para atuarem como "falcões" na cidade de Monterrey, no norte do país.
Eles ficariam no alto de uma colina e avisar os traficantes sobre a movimentação da polícia.
Os jovens aceitaram a oferta e estavam prontos para a viagem quando foram detidos pelas autoridades, junto com um representante do cartel que financiaria o deslocamento.
Diante dessa realidade, o presidente López Obrador afirmou que não pretendia proibir os videogames, mas fez um apelo pela autorregulação das plataformas.
Além disso, ele pediu aos pais que exerçam maior controle sobre o que seus filhos acessam.
O governo chegou a publicar uma lista com dez recomendações para jogadores e pais, incluindo conselhos como não compartilhar a geolocalização e não conversar com estranhos online.
Apesar da gravidade da situação, o Estado mexicano tem demonstrado pouca capacidade de resposta eficaz.
Faltam dados oficiais consistentes sobre a real dimensão do recrutamento infantil, embora o governo dos EUA estime que cerca de 30.000 crianças já tenham se juntado a grupos criminosos no país.
ONGs de defesa dos direitos infantis alertam que o número de jovens vulneráveis ao recrutamento pode chegar a 200 mil.
No entanto, não existem programas governamentais dedicados ao resgate de crianças já cooptadas pelos cartéis.
Além disso, a legislação mexicana ainda é falha em não criminalizar abertamente o recrutamento de menores.
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