Policiais se infiltram em em grupos que cooptam crianças e adolescentes
Um dos meios encontrados para combater esse tipo de grupos é a infiltração de policiais. O núcleo de monitoramento paulista, criado em novembro de 2024, já salvou 92 vítimas de violência, incluindo uma pessoa que ia transmitir o suicídio ao vivo.
O foco principal dessas operações tem sido a plataforma Discord, um aplicativo de mensagens popular entre gamers.
O aplicativo é usado por criminosos que criam "desafios" e transmitem cenas de sessões de tortura psicológica, crueldade contra animais e até até atos de automutilação ao vivo.
Policiais civis atuam como "observadores digitais", monitorando grupos e, em muitos casos, intervindo quando um crime está prestes a acontecer.
A delegada Lisandra Salvariego Colabuono, de uma unidade em São Paulo, relatou à Globo um episódio em que sua equipe conseguiu impedir um estupro virtual:
"A gente estava infiltrado e houve a explanação de uma menina, e a partir de então a gente começou a monitorar a vítima e conseguimos chegar no endereço da mãe. Eu mesmo peguei o telefone, liguei para mãe e a mãe não acreditou". A intervenção salvou a jovem.
Um estupro virtual é um crime no qual a vítima a é obrigada a fazer atos sexuais em frente a uma webcam ou encaminhar imagens, sob ameaças e chantagem feitas através da internet.
Discord é um dos principais ambientes de propagação de violência
A plataforma Discord tem sido alvo de investigações por causa do aumento de 272% das denúncias em comparação ao final do ano passado.
Especialistas afirmam que, em alguns casos, a plataforma se recusa a colaborar com as investigações.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, chegou a criticar a empresa após a plataforma ter se negado a derrubar uma live de "tortura psicológica", alegando que não era um "caso de gravidade":
"É inadmissível que uma plataforma não colabore com as autoridades policiais para que um crime seja solucionado", afirmou Derrite.
Em nota, o Discord declarou que as "ações horríveis dos grupos investigados não têm espaço na plataforma" e que coopera com as autoridades.
Projeto ensina professores a identificarem casos de violência
Além dos agentes infiltrados em grupos radicais, outras propostas para evitar casos de violência estão sendo elaboradas.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o Ministério Público criou um projeto de prevenção à radicalização e ao extremismo violento online.
O Projeto Sinais ensina professores e redes de defesa de crianças a reconhecerem sinais de que jovens estão em grupos que estimulam a violência na internet.
A iniciativa já conseguiu identificar 178 adolescentes com tendência à radicalização no estado.
Um dos responsáveis pela iniciativa foi o Procurador de Justiça, Fábio Costa Pereira, que contou ao jornal Estado de São Paulo como o projeto veio de um pedido da Agência Brasileira de Inteligência (Abin):
“No início de 2024, a Abin procurou o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça dizendo: ‘Olha, os fatos que aconteceram em 2023 podem acontecer novamente em 2024‘“.
No ano de 2023 aconteceram 11 atentados contra instituições de ensino, daí a preocupação da Abin.
O que leva uma criança ou adolescente a entrar em um grupo desses?
O procurador comentou que jovens entrar nesses grupos por uma série de motivos, entre os quais bullying escolar e o excesso de tempo dedicado às telas se destacam. As famílias disfuncionais também estão entre os principais fatores de risco.
De acordo com a entrevista, muitos dos jovens que passam por esses problemas acabam se sentindo isolados e incompreendidos no mundo real, o que os leva a buscar um senso de pertencimento e poder nessas comunidades online.
“Na minha percepção, o sentimento de vazio e a busca de reconhecimento e sentido na vida estão levando adolescentes e jovens adultos por caminhos cada vez mais tortuosos.”
Apesar do cenário ser preocupante, o procurador afirma que jovens radicalizados podem ser recuperados:
“Grande parte dos nossos adolescentes, quando entra nesse universo, precisa de atenção. Quando você dá essa atenção e diz: “olha, você está aqui, você é importante, eu me preocupo contigo”, é como se desse uma chacoalhada neles.”