Três homens foram presos no Rio de Janeiro suspeitos de planejar o assassinato de um morador de rua. A polícia apura se o crime seria transmitido ao vivo pela plataforma Discord.
A ação foi impedida por uma operação que cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão nas casas de quatro suspeitos, incluindo um menor de idade.
Em outro caso, uma menina de apenas 13 anos colocou fogo na própria casa enquanto tentava queimar um gato.
A cena de crueldade foi transmitida ao vivo para uma comunidade com mais de 16 mil pessoas através da mesma plataforma.
Isso serve como um alerta sobre o submundo de violência e radicalização que tem atraído crianças e jovens na internet brasileira.
Os grupos se comunicam em fóruns da dark web e em redes sociais tradicionais, onde chegam a homenagear autores de massacres e planejam novos ataques.
Agentes públicos de diversas partes do país têm se preocupado em encontrar maneiras de conter esses grupos criminosos.
Um dos meios encontrados para combater esse tipo de grupos é a infiltração de policiais. O núcleo de monitoramento paulista, criado em novembro de 2024, já salvou 92 vítimas de violência, incluindo uma pessoa que ia transmitir o suicídio ao vivo.
O foco principal dessas operações tem sido a plataforma Discord, um aplicativo de mensagens popular entre gamers.
O aplicativo é usado por criminosos que criam "desafios" e transmitem cenas de sessões de tortura psicológica, crueldade contra animais e até até atos de automutilação ao vivo.
Policiais civis atuam como "observadores digitais", monitorando grupos e, em muitos casos, intervindo quando um crime está prestes a acontecer.
A delegada Lisandra Salvariego Colabuono, de uma unidade em São Paulo, relatou à Globo um episódio em que sua equipe conseguiu impedir um estupro virtual:
"A gente estava infiltrado e houve a explanação de uma menina, e a partir de então a gente começou a monitorar a vítima e conseguimos chegar no endereço da mãe. Eu mesmo peguei o telefone, liguei para mãe e a mãe não acreditou". A intervenção salvou a jovem.
Um estupro virtual é um crime no qual a vítima a é obrigada a fazer atos sexuais em frente a uma webcam ou encaminhar imagens, sob ameaças e chantagem feitas através da internet.
A plataforma Discord tem sido alvo de investigações por causa do aumento de 272% das denúncias em comparação ao final do ano passado.
Especialistas afirmam que, em alguns casos, a plataforma se recusa a colaborar com as investigações.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, chegou a criticar a empresa após a plataforma ter se negado a derrubar uma live de "tortura psicológica", alegando que não era um "caso de gravidade":
"É inadmissível que uma plataforma não colabore com as autoridades policiais para que um crime seja solucionado", afirmou Derrite.
Em nota, o Discord declarou que as "ações horríveis dos grupos investigados não têm espaço na plataforma" e que coopera com as autoridades.
Além dos agentes infiltrados em grupos radicais, outras propostas para evitar casos de violência estão sendo elaboradas.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, o Ministério Público criou um projeto de prevenção à radicalização e ao extremismo violento online.
O Projeto Sinais ensina professores e redes de defesa de crianças a reconhecerem sinais de que jovens estão em grupos que estimulam a violência na internet.
A iniciativa já conseguiu identificar 178 adolescentes com tendência à radicalização no estado.
Um dos responsáveis pela iniciativa foi o Procurador de Justiça, Fábio Costa Pereira, que contou ao jornal Estado de São Paulo como o projeto veio de um pedido da Agência Brasileira de Inteligência (Abin):
“No início de 2024, a Abin procurou o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Justiça dizendo: ‘Olha, os fatos que aconteceram em 2023 podem acontecer novamente em 2024‘“.
No ano de 2023 aconteceram 11 atentados contra instituições de ensino, daí a preocupação da Abin.
O procurador comentou que jovens entrar nesses grupos por uma série de motivos, entre os quais bullying escolar e o excesso de tempo dedicado às telas se destacam. As famílias disfuncionais também estão entre os principais fatores de risco.
De acordo com a entrevista, muitos dos jovens que passam por esses problemas acabam se sentindo isolados e incompreendidos no mundo real, o que os leva a buscar um senso de pertencimento e poder nessas comunidades online.
“Na minha percepção, o sentimento de vazio e a busca de reconhecimento e sentido na vida estão levando adolescentes e jovens adultos por caminhos cada vez mais tortuosos.”
Apesar do cenário ser preocupante, o procurador afirma que jovens radicalizados podem ser recuperados:
“Grande parte dos nossos adolescentes, quando entra nesse universo, precisa de atenção. Quando você dá essa atenção e diz: “olha, você está aqui, você é importante, eu me preocupo contigo”, é como se desse uma chacoalhada neles.”
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