Em 1970, o pai de Lício Vale tirou a própria vida aos 43 anos. Ele sofria com a depressão e o alcoolismo, em uma época que as doenças mentais eram pouco compreendidas.
“Meu pai aceitava cuidados, mas o tratamento era difícil. Ele sofreu muito. A forma como tratavam os doentes naquela época era cruel.”
O jovem católico de 13 anos viu seu pai ser enterrado sem receber os sacramentos finais, algo bastante doloroso. Na época, a família frequentava a missa diariamente.
Na época, quem cometia suicídio não podia receber a benção nem ter uma missa de corpo presente. Em entrevista à BBC Brasil em fevereiro de 2024, Lício contou:
“A Igreja dizia que quem se matava ia direto para o inferno. Era angustiante pensar que meu pai não tinha a salvação eterna”.
Essa dor o levou a buscar terapia, que faz há 30 anos. Mas foi justamente na igreja que ele encontrou refúgio e compreensão.
Ele estudou e tornou-se padre, realizando um sonho de infância. Hoje, é especialista em prevenção ao suicídio.
“A morte do meu pai me fez querer ajudar as pessoas”.
Suicídio não é mais sinônimo de condenação
O entendimento que impediu o pai de padre Lício de receber os Sacramentos finais acabou em 1983, quando o Código de Direito Canônico foi reformado. Trata-se do documento que rege as regras da Igreja Católica.
De acordo com padre Lício, o suicídio continua sendo pecado. Sendo assim, ninguém pode ter a intenção de se matar, porque a vida pertence unicamente a Deus.
“Nesse sentido, a gente diz que é um mal moral".
No entanto, o conceito de pecado tem a ver com intenção. Isso atenua a culpa, segundo o padre:
“A maioria dos estudos diz que a maioria das pessoas que se mata não tem essa intenção. Por isso, a gente evita dizer hoje que é pecado”.
Padre Lício está à frente da paróquia Sagrada Família, em São Paulo, onde acolhe aqueles que buscam ajuda.
“Aqui, recebo pessoas em luto. Converso com quem já perdeu alguém para o suicídio”.
Na paróquia, ele realiza encontros semanais para escutar as pessoas.
“Muitos não são católicos, mas estão desesperados. A maioria só precisa de um espaço seguro para falar”.
Para ele, essa é uma forma de mostrar que é possível recomeçar.
“Eu sou a prova de que da dor nasce a esperança. A religião deve acolher e não afastar”.
A história do padre Lício nos mostra que é possível superar o luto e encontrar a esperança mesmo nas situações mais desafiadoras.
Assim como ele, Victor e Laise Sales também contaram como superaram o luto de perder a filha. O relato deles está no Especial de Natal de 2024, que foi ao ar no dia 17 de dezembro.
Assista abaixo.









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