Como exatamente os cientistas chegaram a este resultado?
O processo envolveu uma combinação de tecnologias avançadas e um procedimento cirúrgico delicado, que pode ser entendido em algumas etapas:
Primeiro, é preciso entender o desafio
Tratar a LSCD é complicado. O transplante de córnea tradicional, usando tecido de um doador falecido, muitas vezes não funciona bem nesses casos ou pode ser rejeitado pelo corpo do paciente.
Usar células do outro olho do próprio paciente, quando possível, exige uma biópsia invasiva.
Era preciso encontrar uma nova fonte de células saudáveis para reparar a córnea danificada.
Pesquisadores usaram nova tecnologia que permite “reprogramar” células
A solução encontrada pelos pesquisadores da Universidade de Osaka baseou-se em uma tecnologia que rendeu o Prêmio Nobel em 2012: as "células-tronco pluripotentes induzidas", ou iPSCs.
Essa técnica permite fazer algo que parece ficção científica: pegar células adultas comuns, como as do sangue, e manipulá-las em laboratório, "reprogramando-as” para que voltem a um estado parecido com o das células-tronco embrionárias.
Ou seja, elas se tornam células "coringas", capazes de se diferenciar e dar origem a diversos tipos de tecidos do corpo, incluindo o da córnea.
Com essa ferramenta em mãos, os cientistas japoneses realizaram o passo seguinte. Eles pegaram células do sangue de um doador saudável e aplicaram a técnica para transformá-las em iPSCs.
Depois, orientaram essas iPSCs a se diferenciarem especificamente nas células que formam a camada superficial e transparente da córnea.
Esse processo levou à criação, em laboratório, de uma fina "folha" de tecido corneano novo e saudável.
Médicos substituíram a córnea natural pela artificial
A última etapa foi a cirurgia nos pacientes. Os médicos primeiro removeram cuidadosamente o tecido de cicatrização que deixava a córnea opaca.
Em seguida, transplantaram a "folha" de células novas, criada em laboratório, sobre a superfície do olho do paciente.
Essa nova camada foi fixada com suturas (pontos) muito finas. Para garantir a proteção do transplante e auxiliar na cicatrização, uma lente de contato terapêutica foi colocada sobre o olho.
Dois anos após a cirurgia, realizada em 2019, os resultados foram avaliados. Três dos quatro pacientes tiveram uma melhora considerável na visão, sem sinais de rejeição ou efeitos colaterais graves.
Embora ainda existam desafios, como o custo e a necessidade de mais testes, a pesquisa japonesa demonstra o potencial real da medicina regenerativa e das células-tronco reprogramadas.
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