Protecionismo francês?
O impasse tem como pano de fundo um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, cuja fase inicial foi concluída em 2019. O acerto enfrenta resistência, principalmente da França.
Durante a Cúpula de Líderes do G20 no Rio de Janeiro, o presidente francês, Emmanuel Macron, reiterou sua oposição ao tratado. De acordo com a agência Reuters, ele acredita que os termos atuais põem em risco o setor agrícola francês.
Macron disse que os produtores da França são obrigados a cumprir regulamentações ambientais mais rigorosas do que aquelas em vigor nos países do Mercosul. Isso tornaria o produto francês menos competitivo.
Além disso, criticou a falta de compromissos mais firmes em relação às mudanças climáticas e à proteção da biodiversidade.
A decisão do Carrefour foi divulgada um dia após o encerramento da Cúpula do G20, o que fez as entidades do agronegócio brasileiro interpretarem a resolução como um reflexo dessas pressões políticas e possível protecionismo francês.
Bares prometem aderir ao boicote
Setores da economia brasileira como bares e restaurantes também se juntaram à manifestação.
Na noite de sexta-feira, 22 de novembro, a Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp) emitiu uma nota convocando empresários a não comprar mais no Carrefour. O texto diz:
“O Carrefour, que se beneficia enormemente do mercado brasileiro, operando como a maior rede varejista do país com mais de 500 lojas, deveria demonstrar mais respeito e valorização pelos produtos que enriquecem seus acionistas. É inaceitável que uma empresa que prospera em solo brasileiro adote práticas que desconsideram a qualidade e o trabalho árduo dos nossos produtores. Diante disso, convocamos todos os empresários do setor de hotelaria e alimentação fora do lar a se engajarem em uma ação de reciprocidade, boicotando essa rede de supermercados enquanto continuar a desvalorizar os produtos brasileiros. Esta é uma oportunidade de mostrar nossa força coletiva em defesa da economia e dos princípios que sustentam nossa gastronomia e o agronegócio.”
A Fhoresp também declarou apoio à Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) “e todo o ecossistema, somando esforços para promoção da justa valorização dos nossos produtos no cenário global”.
“Unidos, podemos demonstrar que o Brasil merece ser tratado com o mesmo respeito que oferece a todos que aqui desejam empreender, prosperar e conosco fazer negócios. Vamos juntos valorizar o que é nosso e exigir o respeito que nossos produtos merecem!”
Inapropriados, inacreditáveis e “um desastre”
As declarações de Alexandre Bompard foram duramente criticadas por Stéphane Engelhard, ex-executivo do grupo no Brasil.
Engelhard, que atuou por oito anos como vice-presidente de relações institucionais da empresa no país, classificou os comentários de Alexandre Bompard como "inapropriados", "inacreditáveis" e "um desastre".
Em entrevista ao site The Agribiz, Engelhard destacou que a operação brasileira representa 40% do lucro global do Carrefour.
Ele afirmou que as declarações de Bompard se baseiam em "falsidades" sobre a sustentabilidade dos frigoríficos brasileiros, gerando um atrito desnecessário com o Brasil.
Segundo Engelhard, a agricultura francesa não é competitiva sem que o governo concedesse subsídio aos produtores locais.
Ele acredita que um boicote às compras no Carrefour no Brasil seria insustentável a longo prazo, mas que a rede poderia enfrentar dificuldades temporárias nas próximas semanas.
O aumento das tensões pode impactar as operações do Carrefour no Brasil. A situação também levanta questões sobre o futuro do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia e a posição do Brasil no cenário global de exportações de carne.
A Brasil Paralelo entrou em contato com a assessoria de imprensa do grupo Carrefour para entender a questão, mas até o fechamento desta reportagem não obteve sucesso.
O espaço está aberto para a manifestação da empresa.