O que dizem os jornalistas?
David Ágape e Eli Vieira negam as acusações. Eles afirmam que nunca incitaram ataques contra Sallorenzo e que suas reportagens foram baseadas em documentos e fontes legítimas.
Eles afirmam que os comentários ofensivos apresentados pela jornalista teriam sido feitos por terceiros e não têm relação com os autores das matérias.
Em comunicado, os jornalistas afirmaram que a ação seria uma tentativa de “criminalizar o jornalismo investigativo” e enquadram a petição no conceito de SLAPP (Strategic Lawsuit Against Public Participation), termo usado para designar processos com aparência legal que, na prática, buscam intimidar jornalistas, ativistas ou críticos.
Acusação envolve reportagens da série Vaza Toga
As reportagens mencionadas por Sallorenzo fazem parte da série “Vaza Toga”, publicada entre 2024 e 2025 por diferentes veículos e jornalistas, com a colaboração de nomes como Glenn Greenwald, Fábio Serapião, David Ágape e Eli Vieira.
A série trouxe documentos e mensagens que, segundo os autores, mostrariam colaborações informais entre a jornalista Letícia Sallorenzo e o Tribunal Superior Eleitoral, especialmente no entorno do ministro Alexandre de Moraes.
Em uma das reportagens, Sallorenzo foi identificada como “a bruxa da Vaza Toga”, apelido que, segundo os jornalistas investigados, ela própria utilizava nas redes sociais.
De acordo com Ágape e Vieira, as publicações mostraram mensagens internas em que Sallorenzo teria atuado como colaboradora informal em ações de monitoramento e censura de conteúdos críticos ao TSE.
O tribunal, consultado por meio da Lei de Acesso à Informação, negou qualquer vínculo institucional com a jornalista.
Os jornalistas alegam que as acusações de Sallorenzo omitem fatos relevantes, como as relações pessoais e profissionais que ela afirma ter mantido com pessoas próximas ao ministro Moraes.
Eles dizem que suas matérias apenas reproduziram declarações e documentos públicos de interesse coletivo.
O embate jurídico
Na petição, Sallorenzo pede a investigação dos três por um conjunto de crimes descritos pelos jornalistas como “extensivo e desproporcional”.
Além dos delitos contra a honra, ela cita incitação ao crime, apologia, organização criminosa, coação no curso do processo e até abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Os jornalistas consideram o pedido um “abuso” e afirmam que a tentativa de vincular o caso ao STF tem viés político e ameaça o direito à liberdade de imprensa.
Eles lembram que a ADPF 130, julgada em 2009, fixou o entendimento de que o Estado não pode recorrer ao direito penal para restringir ou intimidar reportagens.
De acordo com os Jornalistas, eventuais conflitos com jornalistas devem ser resolvidos por direito de resposta ou ação civil, nunca por coerção criminal.
Liberdade de imprensa em debate
Os profissionais afirmam que o caso representa um precedente perigoso para o jornalismo brasileiro, ao tentar transformar uma divergência entre repórteres e fontes em matéria criminal. Em nota publicada nas redes sociais, David Ágape declarou:
“Eu nunca ataquei Sallorenzo. Eu só publiquei reportagens mostrando o papel dela como colaboradora informal do TSE — algo que ela mesma admite no Lattes. Os ataques citados por ela são de terceiros. O que estão tentando fazer é claro: criminalizar o jornalismo investigativo.”
Eli Vieira reforçou a mesma posição em artigo publicado em agosto, no qual descreveu o caso como “um exemplo de judicialização abusiva contra jornalistas críticos ao poder”.
A Procuradoria-Geral da República deve decidir até esta semana se arquiva o pedido ou se abre um novo inquérito no STF. Até lá, os jornalistas afirmam que continuarão publicando e defendendo o direito de investigar e informar.