Lara Brenner

Professora de Língua Portuguesa há 10 anos, apresentadora da Brasil Paralelo, fundadora do Expressando Direito (Curso Prático de Português Jurídico) e do Texto Irresistível (Curso de Boa Escrita e Gramática Normativa).

Quais são seus pronomes?

Não, o Brasil não faz ideia do que é um pronome.

Lara Brenner

Você provavelmente se recorda daquele vídeo em que um ativista LGBT pergunta a várias pessoas quais são seus pronomes.

As respostas variam: uma responde o próprio sobrenome; outra, o apelido; outra, o signo; outra, o time de futebol para o qual torce… A razão é óbvia: as pessoas não fazem ideia do que seja um pronome

Antes de tudo, uma breve explicação: pronome é uma das duas classes gramaticais mais complexas da língua, ao lado do verbo. Variável em gênero e número, ele faz referência a elementos dentro e fora do discurso. Alguns exemplos:

ESTE copo está sujo. (este = pronome demonstrativo)

ELE pisou no MEU pé. (ele = pronome pessoal do caso reto; meu = pronome possessivo)

NINGUÉM esteve presente no evento. (ninguém = pronome indefinido)

"Atlético Mineiro."

"Cacá. Câmis."

"Valente."

"Gay, veado, gazela, gazela lacradora."

"Ariano."

"Pavoa."

Os que deram tais respostas provavelmente estudaram classes gramaticais na escola em mais de uma oportunidade; mas sabemos bem qual é a qualidade de nossa educação (os números do Programa Internacional de Avaliação de EstudantesPisa – e do Índice Nacional de Alfabetismo Funcional – Inaf – não nos deixam mentir).

Nesse contexto, vale questionar: que condição existe para a adoção do chamado "pronome neutro"? Seriam "elu", "delu", "ilu", "dilu" e variações elementos viáveis em nosso idioma? 

Os próprios criadores da tal ideia de pronome neutro não se dão conta de que a proposta feita por eles necessariamente deve se estender a outras classes gramaticais – substantivos, adjetivos, numerais e artigos também sofreriam as alterações pretendidas. 

Numa frase como "E medique curou estus dues beles menines", não há como falar apenas na modificação da classe pronominal, mas de todas as outras mencionadas. 

O nome adequado à proposta, portanto, seria "linguagem neutra", não "pronome neutro" apenas. Pronome seria uma das classes afetadas. 

O desconhecimento dessa constatação faz com que aberrações apareçam por todos os lados. Ativistas volta e meia flexionam verbos, advérbios e outras classes não flexionáveis em gênero, num absurdo linguístico muito mais excludente do que includente

Recentemente, encontrei um ativista dizendo que algo era um fenômeno "neturel" (em vez de "natural"), e outro conclamando os amigos com a frase "Vames agir!". 

Evidentemente, são flexões inexplicáveis, responsáveis por uma enorme confusão linguística que dá azo às mais diversas piadas. É difícil levar a sério algo tão antinatural (ANTINETUREL?), tão antiorgânico, tão descabido, que os próprios pretensos usuários não fazem ideia de como usar, quanto mais os pobres simpatizantes que creem tratar-se de uma ideia inclusiva.

Ainda assim, o ativismo para a adoção dessas distorções anda cada vez mais forte. Redes sociais, discursos oficiais, formulários diversos... Em todo canto, há a opção "pronomes" para que o indivíduo escolha os seus

Mas vale lembrar que nem só de pronomes vive a língua. E mesmo neles, a coisa anda aos trancos e barrancos

"Atlético Mineiro."

"Cacá. Câmis."

"Valente."

"Gay, veado, gazela, gazela lacradora."

"Ariano."

"Pavoa."

Qual é a chance de isso dar certo?