Quem é Alexandre Ramagem?
Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 2000, Ramagem ingressou na Polícia Federal cinco anos depois.
Dentro da corporação, atuou inicialmente em áreas técnicas e administrativas: comandou as divisões de Administração de Recursos Humanos (2013–2014) e a área de Estudos, Legislações e Pareceres (2016–2017).
Além das funções internas, participou de operações e coordenações estratégicas ligadas a grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014, a Olimpíada de 2016 e a Rio+20, conferência ambiental realizada pela ONU no Rio de Janeiro.
Um dos pontos que ampliaram sua visibilidade interna foi a atuação em equipes que lidavam com planejamento, logística e segurança em larga escala, o que o levou a funções mais próximas de gestores e autoridades políticas.
Aproximação com Jair Bolsonaro
A relação direta com Jair Bolsonaro surgiu em 2018, quando Ramagem foi designado para chefiar a equipe de segurança do então candidato à Presidência após o atentado a faca em Juiz de Fora (MG).
A convivência intensa naquele período em que Bolsonaro passou a maior parte do tempo hospitalizado aproximou o então delegado da família do candidato.
Em entrevistas, Bolsonaro descreveu Ramagem como alguém em quem passou a "confiar", mencionando a convivência frequente com sua família.
Fotos do réveillon de 2019 mostram Ramagem ao lado de Carlos Bolsonaro. Em outra ocasião, Bolsonaro declarou que Ramagem esteve em sua casa em diversas oportunidades e que trocavam informações com frequência.
Entrada no governo Bolsonaro
Em março de 2019, já com Bolsonaro na Presidência, Ramagem foi nomeado assessor especial do ministro Carlos Alberto Santos Cruz, na Secretaria de Governo. Após a saída de Santos Cruz, permaneceu no cargo com o novo ministro, Luiz Eduardo Ramos.
Pouco depois, em julho de 2019, Ramagem foi escolhido por Bolsonaro para assumir a direção-geral da Abin, órgão vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general Augusto Heleno.
Segundo o GSI, a Abin atua na produção de informações estratégicas para subsidiar decisões da Presidência da República.
Sua nomeação foi vista, na época, como um movimento que consolidava sua aproximação com o governo
Tentativa de nomeação para a chefia da Polícia Federal
Em abril de 2020, após a demissão do diretor-geral da PF Maurício Valeixo, episódio que precipitou o pedido de demissão do então ministro Sergio Moro, Bolsonaro anunciou que Ramagem seria o novo diretor-geral da corporação.
No entanto, um dia após a nomeação ser publicada no Diário Oficial da União, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu sua posse em ação movida pelo PDT.
Em sua decisão, Moraes apontou risco de violação aos princípios constitucionais de impessoalidade e moralidade, dada a proximidade pessoal entre Ramagem e a família Bolsonaro.
Com a suspensão, Bolsonaro tornou sem efeito o decreto de nomeação. Ainda assim, declarou publicamente que ter Ramagem à frente da PF era “um sonho” que se concretizaria “brevemente”.
Gestão na Abin e ida para a política
Ramagem permaneceu na Abin até março de 2022, quando deixou o cargo para concorrer à Câmara dos Deputados.
Foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro com cerca de 59 mil votos, tornando-se um dos nomes do PL com maior proximidade com o ex-presidente.
Na Polícia Federal, até então, sua carreira era vista internamente como tecnicamente sólida.
A Associação dos Delegados da PF chegou a descrevê-lo como “um profissional sério e competente”, apesar de reconhecer que a proximidade com Bolsonaro gerava desconforto dentro da corporação, especialmente após as denúncias de Moro.
Acusações de uso ilegal da Abin
A virada mais significativa na trajetória de Ramagem ocorreu em janeiro de 2024.
Na ocasião, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra ele e outros servidores no âmbito de uma investigação que apura suposto uso ilegal da Abin durante sua gestão.
De acordo com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, há indícios de que uma estrutura paralela teria operado dentro da agência para monitorar adversários políticos e influenciar investigações da PF.
Essa estrutura também teria produzido relatórios sigilosos para beneficiar integrantes da família Bolsonaro, entre eles Renan Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro.
A investigação aponta também possível uso do sistema de inteligência First Mile para monitoramento de dispositivos móveis sem autorização judicial.
Entre os supostos alvos estariam o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a deputada Joice Hasselmann e o advogado Roberto Bertholdo.
A operação, chamada “Vigilância Aproximada”, deriva de provas obtidas na operação “Última Milha”, realizada meses antes.
Condenação pelo STF e suposta saída do país
Mais recentemente, Ramagem foi condenado pelo STF a 16 anos, um mês e 15 dias de prisão por crimes relacionados aos atos de 8 de janeiro, incluindo:
- organização criminosa armada;
- tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- golpe de Estado.
A decisão ainda não foi publicada, o que impede que ele seja oficialmente classificado como foragido. Mesmo assim, o portal platô publicou as imagens afirmando serem de Ramagem e sua esposa nos Estados Unidos.
Ramagem permanece como deputado federal, e Moraes rejeitou pedido da PF para afastá-lo do cargo. O ministro afirmou, porém, que a medida poderá ser revista se houver indício de interferência nas investigações.