A prisão de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, ex-líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), ocorreu em 16 de maio em Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, quando ele tentava renovar sua identidade usando documentos falsos.
Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo, o fato de ele ter comparecido voluntariamente a um órgão do governo mostra o nível de tranquilidade com que vivia no país vizinho. Tuta foi transferido para o Presídio Federal de Brasília.
Gakiya atua há duas décadas na investigação do PCC e integra o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Ele afirma que a Bolívia se consolidou como o principal ponto de abrigo para as lideranças da facção, por combinar fatores estratégicos e logísticos.
Além da proximidade geográfica, o país é um dos principais fornecedores de cocaína e abriga redes locais de apoio com influência política e policial.
Um dos exemplos mais claros disso é o Rio de Janeiro. A capital é controlada por uma série de grupos que disputam territórios, enquanto o povo vive como refém.
A Brasil Paralelo investigou esse cenário com o documentário Rio de Janeiro: Paraíso em Chamas.
De acordo com o promotor, não apenas Tuta, mas outros nomes importantes da facção estariam vivendo na Bolívia, como:
Em alguns casos, o Ministério Público chegou a obter os endereços dessas lideranças, mas as tentativas de prisão esbarraram na falta de cooperação das autoridades locais.
Gakiya cita o exemplo de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, que viveu anos na Bolívia antes de ser preso em Moçambique em 2020.
“O Fuminho viveu 20 anos escondido na Bolívia. Aliás, ele não estava escondido: morava em Santa Cruz de La Sierra, tinha fazendas e andava inclusive com proteção de militares, que, evidentemente, foram corrompidos.”
De acordo com o promotor, a presença contínua de líderes do PCC na Bolívia é explicada por três fatores principais:
“É um ambiente seguro para criminosos como o Tuta”, resume o promotor.
O caso de Tuta, segundo ele, demonstra como a falta de barreiras institucionais facilita a permanência de lideranças criminosas no país.
A prisão do ex-líder do PCC teria ocorrido por um erro de cálculo: ele compareceu a um posto oficial para renovar seu documento, foi identificado e posteriormente comunicado à Interpol e à Polícia Federal brasileira.
Segundo Gakiya, por estar agora no sistema penitenciário federal, ele se encontra isolado de outros membros da facção, o que dificulta a coleta de informações sobre eventuais reações internas.
O promotor destaca que, em casos anteriores, lideranças envolvidas em decisões internas da facção foram mortas dentro do sistema prisional por conta de disputas e ordens contraditórias.
A expectativa é de que, nas próximas semanas ou meses, o PCC revele de forma indireta como recebeu a notícia da prisão de Tuta.
Gakiya aponta que, apesar da proximidade entre os países, a Bolívia continua atraindo lideranças do crime organizado.
“Com isso talvez vá se formando aí um estreitamento, uma cooperação melhor entre as autoridades bolivianas e as brasileiras. Mas, em que pese ainda essa situação, a Bolívia ainda é o principal fornecedor de cocaína para o PCC e vários criminosos e lideranças estão lá na Bolívia”.
Ele alerta que outras lideranças da facção, como André do Rap e Sergio Luiz de Freitas (Mijão), continuam em liberdade e são alvos de alerta vermelho da Interpol.
Segundo ele, esses indivíduos têm mandados de prisão em aberto e poderiam ser localizados e extraditados com apoio internacional.
“Esperamos que as autoridades da Bolívia compreendam a gravidade e cooperem com o Brasil nesse sentido”, afirma.
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