Pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desenvolveram um método rápido e barato para detectar metanol em bebidas alcoólicas. A tecnologia pode ajudar a conter os casos de intoxicação registrados em várias regiões do país.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil já soma mais de 225 notificações relacionadas à presença de metanol em bebidas destiladas.
Até o momento, 16 casos de intoxicação por metanol foram confirmados. Quanto aos óbitos relacionados ao consumo da substância, há 15 registros, sendo 2 confirmados e 13 ainda sob investigação.
Os casos se concentram nos estados de São Paulo, Pernambuco, Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul.
O novo método paraibano utiliza um feixe de luz infravermelha capaz de atravessar garrafas lacradas.
A radiação provoca uma leve agitação nas moléculas da bebida. Em seguida, um software interpreta as informações em tempo real e identifica qualquer elemento que não pertença à composição original, desde a adição de água até a presença de metanol.
O resultado é obtido em poucos minutos, sem uso de reagentes químicos e com até 97% de precisão.
Inicialmente, os pesquisadores analisavam a qualidade da cachaça produzida no interior da Paraíba. Com o aumento dos casos de intoxicação, a equipe adaptou o estudo para incluir a detecção de metanol e outras adulterações.
O trabalho foi publicado em duas das principais revistas científicas da área, Food Chemistry e Food Research International.
A pesquisa é coordenada pelo professor David Douglas, do Programa de Pós-graduação em Química da UEPB, em parceria com cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e outras instituições.
A tecnologia foi financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq) e pelo CNPq.
O grupo agora avança para uma segunda fase: criar instrumentos portáteis de baixo custo para uso direto em fiscalizações e linhas de produção.
Entre as inovações em desenvolvimento está um canudo que muda de cor ao entrar em contato com o metanol, permitindo que o próprio consumidor identifique a contaminação.
De acordo com os pesquisadores, a ideia é garantir segurança tanto para órgãos de controle quanto para o público.
A solução poderá ser aplicada em diferentes tipos de bebidas destiladas, como cachaça, vodca e uísque..
Enquanto a tecnologia da UEPB avança, outras universidades brasileiras também têm buscado soluções semelhantes.
Em Araraquara (SP), pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveram, em 2022, um método químico que identifica metanol em bebidas, combustíveis e outros líquidos de forma rápida e acessível.
O processo transforma o metanol em formol por meio da adição de um sal e, em seguida, utiliza um ácido que provoca alteração na cor da amostra. A reação dura cerca de 15 minutos em bebidas e até 25 minutos em combustíveis.
O resultado pode ser interpretado a olho nu:
O custo estimado por análise é de cerca de R$10, bem inferior aos R$500 cobrados por exames laboratoriais tradicionais de cromatografia gasosa.
A expectativa dos pesquisadores é transformar a técnica em kits de baixo custo, que possam ser utilizados por produtores e órgãos de fiscalização.
Com a proliferação de bebidas adulteradas, métodos como os desenvolvidos pela UEPB e pela Unesp podem se tornar decisivos para prevenir novas tragédias.
Essas tecnologias prometem tornar a fiscalização de bebidas no Brasil mais rápida, acessível e segura.
O metanol é um álcool simples, incolor, inflamável e volátil, produzido a partir de gás natural ou carvão. Diferente do etanol, usado em bebidas e combustíveis, o metanol é altamente tóxico.
A substância tem uso legítimo na indústria é aplicada na produção de formol, ácido acético, tintas, solventes e plásticos, além de estar presente em anticongelantes e removedores de tinta.
A ingestão de 60 a 240 mililitros pode ser fatal para um adulto. O equivalente a um copo plástico.
Os sintomas surgem entre seis e doze horas após o consumo e podem incluir náuseas, vômitos, dor abdominal, convulsões, dor de cabeça intensa, visão turva e ataxia, uma degeneração neurológica que prejudica a coordenação motora.
O perigo está no processo de metabolização. O fígado transforma o metanol em subprodutos tóxicos que atacam órgãos e nervos, provocando cegueira, insuficiência pulmonar, falência renal, coma e morte.
O envenenamento é uma emergência médica e exige atendimento hospitalar imediato, com uso de medicamentos e diálise para limpeza do sangue.
O uso criminoso do metanol se deve ao custo baixo: chega a custar até 70% menos que o etanol.
A substância imita o sabor alcoólico sem alterar o aroma, facilitando a falsificação de bebidas. Ainda não há consenso sobre a origem do produto usado nas adulterações.
Associações ligadas ao setor levantam a hipótese de que o metanol tenha sido importado ilegalmente por facções criminosas.
Segundo Rodolpho Ramazzini, diretor da Associação Brasileira de Combate à Falsificação, o esquema pode repetir práticas já vistas em cigarros e combustíveis:
“O PCC e outras facções entraram na falsificação de bebidas para maximizar seus lucros. Eles fazem isso para ganhar escala e não se preocupam com a saúde de ninguém.”
Uma megaoperação recente contra fraudes no setor de combustíveis revelou que a importação irregular de metanol ocorria pelo Porto de Paranaguá. A Polícia Federal investiga se o mesmo produto foi desviado para bebidas.
O secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, nega o envolvimento direto do PCC no caso. Já o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirma que a facção é investigada por conexões entre contrabando e adulteração.
O governador Tarcísio de Freitas reforçou que, até o momento, não há indícios concretos de ligação.
A Polícia Civil investiga bares e adegas suspeitas. Em operação realizada na última segunda-feira, 117 garrafas foram apreendidas em diferentes pontos da capital.
Enquanto isso, o Ministério da Saúde reforçou o alerta: bebidas muito baratas, com lacres danificados, erros de impressão no rótulo ou odor semelhante a solvente devem ser consideradas suspeitas. Em caso de sintomas, é essencial procurar atendimento médico imediato.
O ministro Alexandre Padilha alertou ainda sobre os sintomas iniciais, como dor abdominal intensa, alterações visuais e confusão mental.
“A dor encólica chama muito a atenção nesses casos. Qualquer percepção de alteração visual também deve ser considerada suspeita”, destacou.
Segundo Padilha, o Brasil conta hoje com 32 centros de referência em intoxicação toxicológica pelo SUS, nove deles em São Paulo.
O Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo atende todo o Brasil pelo número 0800 771 3733.
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