O estado de São Paulo registrou cinco mortes suspeitas por intoxicação com bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. Dois casos ocorreram em São Bernardo do Campo e um na capital.
A Secretaria de Saúde do município do ABC confirmou que o primeiro paciente, um homem de 58 anos, morreu no dia 24 de setembro após ser atendido no Hospital de Urgência.
O segundo caso foi o do advogado Marcelo Macedo Lombardi, de 45 anos, que morreu no último domingo, 28 de setembro. Já na capital, a Polícia Civil confirmou uma morte na região da Mooca.
Marcelo Lombardi apresentou os primeiros sintomas na noite do dia 26 de setembro, após uma confraternização em que teria consumido drinques. Horas depois, relatou sonolência intensa, visão turva, náuseas, dores abdominais e confusão mental.
A família informou à polícia que o quadro se agravou rapidamente, levando-o a procurar atendimento médico. Ele foi internado na manhã seguinte já com sinais de rebaixamento de consciência e dificuldade respiratória.
Durante a internação, seu estado piorou de forma abrupta, evoluindo para falência múltipla de órgãos. O laudo preliminar apontou intoxicação por metanol, e exames laboratoriais do Centro de Vigilância Sanitária confirmaram a presença da substância.
Com a morte de Marcelo Lombardi, as autoridades intensificaram as investigações. A Polícia Civil instaurou um inquérito para rastrear a origem da bebida consumida pelo advogado e já colhe depoimentos de familiares, amigos e funcionários do local onde a garrafa foi adquirida.
O objetivo é identificar falhas na cadeia de distribuição e localizar o lote adulterado. As apurações também consideram a participação do crime organizado.
Nos últimos 26 dias, ao menos nove casos suspeitos de intoxicação por metanol foram registrados no estado, envolvendo diferentes tipos de destilados, como gim, uísque e vodca.
A Secretaria de Saúde de São Paulo informou que monitora o cenário e que, por meio do Centro de Controle de Intoxicações, já orientou hospitais e prontos-socorros sobre sinais clínicos e condutas a adotar.
Na capital, a Vigilância Sanitária realizou 43 inspeções em bares, restaurantes e distribuidores entre 22 e 26 de setembro.
Dessas ações, resultaram duas autuações, a interdição de bebidas relacionadas aos casos e o recolhimento de garrafas pela polícia para análise pericial.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública emitiu nota de alerta nacional para que profissionais de saúde considerem a hipótese de intoxicação por metanol em pacientes com sintomas como visão turva, vômitos, tontura e confusão mental.
O texto também recomenda que bares, restaurantes e comerciantes reforcem a checagem da procedência das bebidas, observando selos fiscais, lacres, rótulos e rastreabilidade dos lotes.
“São sinais de alerta para suspeita de adulteração: preço muito abaixo do praticado, lacre/cápsula tortos, vidro com rebarbas, erros grosseiros de ortografia ou acabamento gráfico, lote divergente da nota, odor irritante ou de solvente e relatos de consumidores com visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, tontura ou rebaixamento do nível de consciência após consumo. Nestas situações, não realizem ‘testes caseiros' (cheirar, provar, acender): tais práticas não são seguras nem conclusivas”.
O Conselho Nacional de Combate à Pirataria, vinculado à Secretaria Nacional do Consumidor, detalhou medidas adicionais: compras apenas de fornecedores formais com nota fiscal válida, conferência rigorosa dos lotes e vedação ao recebimento de garrafas com lacres violados ou rótulos desalinhados.
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação levantou a hipótese de que cargas de metanol importadas ilegalmente para adulterar combustíveis tenham sido desviadas para destilarias clandestinas que produzem bebidas falsas.
Segundo a entidade, facções criminosas, entre elas o PCC, podem ter revendido o produto a quadrilhas de falsificadores.
Um relatório recente da associação aponta que, em 2025, o setor de bebidas perdeu cerca de R$88 bilhões para o mercado ilegal, sendo R$ 29 bilhões em tributos sonegados e R$59 bilhões em perdas de faturamento.
As autoridades também alertaram os consumidores: em caso de suspeita, a recomendação é interromper o consumo, procurar atendimento médico imediato e acionar o Disque-Intoxicação da Anvisa (0800 722 6001).
O metanol é um tipo de álcool usado em combustíveis, solventes e produtos industriais, mas proibido para consumo humano. É uma substância incolor, com gosto e cheiro semelhantes ao etanol, o que dificulta sua identificação imediata.
O problema surge quando o fígado metaboliza o metanol em formaldeído e ácido fórmico, compostos tóxicos que se acumulam no organismo e atacam nervos e órgãos.
Os efeitos mais característicos são os danos ao nervo óptico, que podem causar cegueira permanente, além de coma e morte.
O formiato age de forma semelhante ao cianeto e interrompe a produção de energia nas células. O cérebro é muito vulnerável a isso”, explicou Christopher Morris, professor da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
O envenenamento por metanol é considerado uma emergência médica. Pode ser tratado com hemodiálise e medicamentos que retardam o metabolismo da substância.
Em alguns casos, administra-se etanol, que compete com o metanol no organismo. “O antídoto mais importante é o álcool comum”, disse Knut Erik Hovda, da organização Médicos Sem Fronteiras.
O toxicologista Alastair Hay, da Universidade de Leeds, explica que “o etanol atua como inibidor competitivo, impedindo em grande parte a metabolização do metanol, permitindo que o corpo o elimine mais lentamente pelos pulmões, rins e suor”.
Os sintomas iniciais incluem:
Conforme a intoxicação progride, pode ocorrer midríase (dilatação anormal da pupila, que deixa de reagir adequadamente à luz). Também podem surgir insuficiência renal e distúrbios visuais graves.
Estima-se que a dose letal mínima seja de 80 gramas em pacientes não tratados, mas problemas de visão podem aparecer com a ingestão de metade dessa quantidade.
Enquanto aguardam os laudos finais do IML, familiares das vítimas cobram rapidez nas investigações e responsabilização dos envolvidos.
O episódio expôs as falhas de fiscalização no setor e reforçou o alerta sobre os riscos do consumo de bebidas de procedência desconhecida.
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