Desde os primeiros anos de vida, sua rotina foi moldada por uma estrutura criada não só para ocupar terras, mas para formar militantes. Em acampamentos e assentamentos, onde a presença do Estado era quase inexistente, ele afirma que o movimento preenchia tudo: a escola, a cultura, a linguagem e a ideia de mundo.
“Eu não sabia o que era esquerda ou direita. Só sabia que havia um inimigo: o latifundiário, o agronegócio, a propriedade privada. A gente aprendia isso antes de aprender a escrever direito.”, afirma Pedro Pôncio.
Segundo Pedro, o MST não apenas oferecia um modo de vida, ele ensinava uma forma de pensar. Crianças com seis ou sete anos eram levadas a marchas, recebiam boinas, liam cartilhas com símbolos marxistas e participavam de atividades em que heróis revolucionários ocupavam o lugar das figuras religiosas. A fé, inclusive, era tratada com desconfiança.
Durante anos, Pedro achou que aquilo era normal. Parte da luta. Parte da justiça. Mas a dúvida chegou devagar. Primeiro como desconforto. Depois como inconformismo.
Quando começou a questionar, por que não podia ouvir outra ideia, pensar de outro jeito, percebeu que havia algo errado:
“Se você discordasse da liderança, era isolado. Se falasse em autonomia, era visto como traidor.”, disse ele.
Ele decidiu sair. E sair, para alguém que cresceu ali, não era apenas deixar um lugar, era deixar uma identidade inteira para trás.
Na época, já não era mais uma criança. Mas ainda carregava dentro de si a lógica com a qual fora educado desde cedo: o mundo dividido entre opressores e oprimidos, a causa acima da dúvida e a coletividade acima da consciência individual.
Seu afastamento não aconteceu por conflito externo, mas por um processo interno de desconfiança e desconexão. Começou a perceber incoerências entre o discurso do movimento e a prática cotidiana. Questionava por que a fé era desestimulada, por que que livros eram seletivos, por que toda crítica era interpretada como traição.
“Você só era ouvido se repetisse as mesmas ideias. Não havia espaço para pensar diferente”, afirmou.
Depois de sair, Pedro se dedicou a estudar o que tinha vivido. Releu cartilhas, relembrou eventos, conversou com pessoas que também haviam deixado o movimento.
Ao longo do tempo, transformou esse material em um livro, com o objetivo, segundo ele, de informar e dar voz a quem teve experiências semelhantes, mas nunca pôde falar.
O livro se chama A Face Oculta do MST – Como sobrevivi aos campos de doutrinação e está sendo distribuído gratuitamente pela Brasil Paralelo em ocasião do lançamento do documentário MST: Terra Prometida, que estreia no dia 22 de maio.
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