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Quem foi Hannah Arendt? Biografia Completa, Principais Obras e Frases Marcantes

Filosofia
Biografia
Quem foi Hannah Arendt?
Foto de Hannah Arendt.
Redação Brasil Paralelo

Hannah Arendt é uma autora que dedicou o seu trabalho para analisar os regimes totalitários, com ênfase para o nazismo e o comunismo. Totalitarismos são regimes políticos onde o Estado tenta usar o seu poder para controlar a sociedade em todas as suas esferas, inclusive utilizando a força bruta para colocar isso em prática.

Como Arendt era judia e vivia na Alemanha nazista, ela sofreu na pele as ações do regime que se dedicou a criticar. Entenda quem foi Hannah Arendt lendo a sua biografia completa.

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O que você vai encontrar neste artigo?

Quem foi Hannah Arendt?

Hannah Arendt foi uma das maiores filósofas e teóricas políticas do século XX. Destacou-se por seus estudos sobre o nazismo e comunismo. Ela ficou conhecida por ter inventado importantes conceitos usados pela Ciência Política para o estudo de regimes autoritários.

Arendt teve uma longa trajetória acadêmica estudando com grandes pensadores como Martin Heidegger, Karl Jaspers, Rudolf Bultmann e Edmund Husserl e usou essa base filosófica para estudar o nazismo. O interesse de Arendt por esse tema pode ter sofrido influência da sua própria biografia, ela era judia e sofreu na pele os horrores desse regime.

A sua trajetória acadêmica começou na Europa, mas teve que ser continuada em Nova York por conta da perseguição nazista. Ela produziu importantes obras, com destaque para As Origens do Totalitarismo, publicada em 1951, e A Condição Humana, publicada em 1958.

  • Entenda o que Hannah Arendt quer dizer com o conceito de “totalitarismo”. Clique no link e leia o artigo completo

Onde nasceu Hannah Arendt?

Hannah Arendt nasceu em 1906 em Hanôver na Alemanha e morreu em 1975 em Nova York. Ela perdeu o pai com apenas sete anos de idade. Desde nova, interessou-se por assuntos filosóficos, lendo pensadores como Kant. Aos 18 anos entrou na faculdade e começou a sua trajetória acadêmica.

A Formação Acadêmica de Hannah Arendt

Em 1924, Hannah Arendt entrou na Universidade de Marburg onde teve como professor Martin Heidegger. Ele era um intelectual muito respeitado da época e que influenciou muito o pensamento de Arendt. Os dois se aproximaram ao ponto de terem um caso amoroso.

Após um ano em Marburg, ela se mudou para a Universidade de Freiburg onde passou um semestre assistindo às palestras do intelectual Edmund Husserl. No ano seguinte, em 1926, ela foi para a Universidade de Heidelberg estudar com Karl Jaspers. Assim como Heidegger, Jaspers se tornou um amigo muito próximo de Arendt.

Naquela Universidade, ela completou a sua tese onde investigava o conceito de amor nas obras de Santo Agostinho.

Em 1933, o Partido Nazista subiu ao poder na Alemanha. Arendt fugiu do país antes que sofresse algo de mal. Por seis anos morou em Paris onde trabalhou em diversas organizações para acolhimento de refugiados judeus. Ela teve uma grande decepção com seu grande mentor intelectual.

Heidegger se tornou apoiador do nazismo. Com o apoio dos nazistas, ele chegou ao cargo de reitor da Universidade de Friburgo. Arendt e Heidegger, que eram muito próximos, se viram em lados diametralmente opostos.

Hannah Arendt só voltou a procurar Heidegger em 1950, cinco anos depois da queda de Hitler. Ambos voltaram a manter comunicação frequente entre si até o final de suas vidas.

Em 1936, Arendt se separou de seu marido Günther Stern e começou a viver com Heinrich Blücher, com quem se casou em 1940. Em paralelo, ela estava trabalhando em uma biografia de Rahel Varnhagen, uma famosa escritora alemã.

Em 1941, ela foi obrigada a deixar a França por conta da Segunda Guerra Mundial e se mudou para Nova York, onde viveu muito próxima a célebres intelectuais dos Estados Unidos. Ela lecionava em Universidades americanas como Princeton e Berkeley, mas se destacou como professora de filosofia política na New School for Social Research.

Após a Segunda Guerra Mundial, em 1951, publicou a sua mais famosa obra, As Origens do Totalitarismo. Depois publicou, em 1958, seu clássico ensaio filosófico, chamado de A Condição Humana. Isso já tinha cristalizado sua imagem como uma importante intelectual pública, mas, em 1961, um acontecimento mudou a sua vida para sempre.

O julgamento de Eichmann em Jerusalém

A teoria que consagrou Hannah Arendt e que condensa sua visão sobre os regimes totalitários é a ideia de Banalidade do Mal.

A obra na qual Hannah Arendt trata da Banalidade do mal é seu livro Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a Banalidade do Mal. O livro é fruto das observações de Arendt sobre o famoso julgamento de um oficial nazista em Jerusalém.

O livro surgiu na sequência do julgamento em Jerusalém de Adolf Eichmann. O oficial nazista foi raptado pelos serviço secreto israelita na Argentina, em 1960.

Seu julgamento teve repercussão mundial, Hannah Arendt acompanhou o julgamento em Jerusalém como repórter para a revista The New Yorker.

Adolf Eichmann era um oficial da SS, serviço secreto nazista, incumbido de organizar a logística para a “solução final”.

A solução final foi um plano para a exterminação dos judeus na Alemanha e nos seus territórios ocupados. A estratégia foi elaborada num contexto em que os nazistas haviam sido derrotados na guerra e queriam acabar com os rastros de seus crimes contra a humanidade.

Iniciado em 1961, o julgamento de Adolf Eichmann resultou na pena de morte por enforcamento, ocorrida em 1962, nas proximidades de Tel Aviv.

Julgamento de Adolf Eichmann - nazista em Israel

As reflexões de Hannah Arendt se baseiam na observação e percepção sobre o quão comum seria Eichmann, pois a todo momento se defendia dizendo que estava apenas cumprindo ordens.

Em sua reflexão, Hannah propõe que Adolf Eichmann era desprovido de um senso de pensamento crítico, no sentido de não questionar nada, apenas executar, e de não refletir sobre seus atos. Não havia embasamento em qualquer ética ou moralidade.

Tratava-se, segundo Arendt, de um cidadão desprovido de moral, ética e senso crítico, em que suas ações se baseiam em executar mecanicamente ordens de superiores.

Hannah Arendt foi acusada por outros judeus de defender os nazistas, e recebeu inúmeras cartas e críticas públicas xingando-a com palavras bem pesadas. Esse foi um momento que mudou a sua vida, pois essa hostilização em larga escala mexeu com ela.

A coragem de Hannah Arendt em defender o que acreditava fez com que seus estudos continuassem e ela cunhasse um novo conceito “banalidade do mal”.

Quais as principais ideias de Hannah Arendt?

Hannah Arendt diz que a sua ambição como filósofa é conhecer o mundo. Caso ela consiga compreender o tema que está estudando, está mais que satisfeita. Não é no poder de influenciar pessoas que ela se completa, mas em entender a questão e ajudar outras pessoas a também entenderem. Ela disse isso em uma entrevista:

Para compreender o mundo ela escreveu sobre importantes conceitos. Sendo os principais conceitos em Hannah Arendt:

O que é a Banalidade do mal em Hannah Arendt?

Na obra “Eichmann em Jerusalém”, a filósofa propõe que devido à massificação da sociedade, criou-se uma multidão incapaz de fazer julgamentos morais, razão que explica por que muitos aceitam e cumprem ordens sem questionar.

Eichmann, um dos responsáveis pela solução final, não é visto como um monstro por Arendt, mas apenas como um burocrata zeloso que foi incapaz de resistir às ordens que recebeu.

O mal torna-se, assim, banal.

A banalidade do mal é, para a filósofa, a mediocridade do não pensar. Não é que aquela pessoa é por escolha dela má e cruel, mas por não refletir sobre as consequências de suas ações ela perpetua o mal pensando estar cumprindo apenas o seu dever.

Um oficial nazista que embarca judeus em um trem que os leva para um campo de concentração, mas alega não ter ódio contra eles e nunca ter matado um judeu sequer, não percebe que a ação dele tem como consequência o extermínio de um povo.

No próprio entendimento, ele está fazendo apenas o seu trabalho que é embarcar os judeus. Quem mata não é ele, quem tortura não é ele, ou seja, ele não consegue perceber que ele faz parte desse sistema e possui culpa desse genocídio existir.

  • Leia a explicação completa deste conceito clicando no link e acessando o artigo sobre a banalidade do mal.

O que é totalitarismo?

O totalitarismo é um tipo de governo ditatorial ainda mais violento que os regimes autoritários. Nazismo, fascismo ou comunismo são exemplos de regimes totalitários, eles envolvem a total mobilização física, emocional e psicológica de cada indivíduo.

A própria ideia de indivíduo não existe no totalitarismo. As pessoas são tratadas como um coletivo, apenas como cidadãos do Estado que devem seguir suas diretrizes.

Direitos individuais não existem. A força física de todas as pessoas deve ser em prol do projeto de governo, os pensamentos e afetos das pessoas devem ser consonantes com a ideologia do líder. Pensamentos, expressões e opiniões que não seguem a ideologia oficial são perseguidos e censurados.

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O totalitarismo ganhou força no século XX. Esse regime preconiza um Estado controlador e coletivista. Todas as esferas sociais, econômicas e políticas são administradas pelo Estado e seus órgãos oficiais.

Nesse tipo de sociedade, o governo não possui nenhum método de transparência nas ações, em qualquer um de seus âmbitos.

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Não há leis e nem órgãos civis responsáveis por limitar o poder do Estado. Outra possibilidade comum são os órgãos limitadores passarem a agir conforme seu próprio arbítrio, contra as leis previamente estabelecidas.

É um tipo de sociedade onde o governo toma a atitude que deseja, sem que haja freios para impedi-lo. 

  • Leia a explicação completa desse conceito clicando no link e acessando o artigo sobre a banalidade do mal.

O que é a coragem intelectual na obra de Hannah Arendt?

Ao contrário das duas ideias anteriores, essa não é um conceito formulado pela autora, mas sim uma postura intelectual que ela adotou durante toda a sua vida e marca a sua obra.

Hannah Arendt defendia o que acreditava mesmo nos contextos mais inóspitos para isso. Ela considerava a vergonha de um pensador abdicar das suas ideias por pressão social.

Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime”Hannah Arendt

Essa coragem de tocar em pontos sensíveis e falar de maneira franca, às vezes considerada rude, é a grande marca das obras de Hannah Arendt. Coragem intelectual é seu modus operandi.

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O que é a condição humana?

A condição humana é algo diferente da natureza humana. Enquanto a natureza humana é algo recebido pelos homens, a condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver. São definições que condicionam a vida humana. Os elementos da condição humana se dividem em dois tipos:

  • Elementos internos: atos que o indivíduo toma, seus pensamentos, seus sentimentos e outras coisas que partam de uma ação individual.
  • Elementos externos: a cultura em que o indivíduo nasceu, sua família, seus amigos e outras coisas que partem da sociedade na qual vive.

Esse conceito aparece no livro que é a maior obra filosófica de Arendt, A Condição Humana. Também é o texto de maior dificuldade na leitura da autora, possui um alto nível de complexidade e não é recomendado para quem está iniciando nos estudos de Hannah Arendt.

O que é o bem-comum?

O bem-comum é um conceito político de Hannah Arendt que defende que em uma sociedade saudável a ética não pode ser separada da política. Ela se baseia em Aristóteles para defender que uma boa política é aquela que coloca o interesse da pólis em primeiro lugar.

Pólis eram as cidades-estados da Grécia antiga. Na escrita de Hannah Arendt, pólis pode ser entendida como uma analogia para se referir às cidades, estados e países atuais.

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Cinco frases marcantes de Hannah Arendt

1 — Uma vida sem pensamento é totalmente possível, mas ela fracassa em fazer desabrochar sua própria essência — ela não é apenas sem sentido; ela não é totalmente viva. Homens que não pensam são como sonâmbulos”.
2 — Parece-me que o conservadorismo, no sentido de conservação, faz parte da essência da atividade educacional, cuja tarefa é sempre abrigar e proteger alguma coisa — a criança contra o mundo, o mundo contra a criança, o novo contra o velho, o velho contra o novo”.
3 — A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos”.
4 — A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele”.
5 — Uma existência vivida inteiramente em público, na presença de outros, torna-se, como diríamos, superficial”.

Por onde começar a estudar o pensamento de Hannah Arendt?

O melhor livro para iniciar os estudos em Hannah Arendt é As Origens do Totalitarismo, lançado em 1951. Ele abarca muito sobre o pensamento político da autora que é onde ela considera ter se destacado.

Arendt negava ser uma filósofa e dizia ser uma teórica política. Nesse livro ela analisa com minúcia os acontecimentos que levaram aos regimes totalitários do século XX, com ênfase no nazismo e comunismo.

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A morte de Hannah Arendt

Na noite do dia 4 de dezembro de 1975, Hannah Arendt convidou amigos para jantar em sua casa, em Nova York. Como de costume, eles conversavam sobre questões intelectuais e outras coisas da vida. De repente, ela sente uma dor muito forte e uma tosse imparável, cai inconsciente no chão e é socorrida.

Já com 69 anos, Hannah Arendt estava sendo vítima de seu segundo ataque cardíaco. Mas esse foi fatal e a levou a óbito.

Arendt teve publicações inclusive após a sua morte, isso é denominado de publicação póstuma. Ela trabalhava em um livro chamado A Vida do Espírito que foi interrompido pelo seu falecimento. A obra foi publicada por sua amiga Mary McCarthy após a sua morte.

Muitos apaixonados pela Segunda Guerra Mundial leem Hannah Arendt para tentar compreender como o ser humano foi capaz de tamanha crueldade.

O tema interessa a tantas pessoas que se tornou um dos momentos históricos mais retratados em livros e filmes.

Entre eles se destaca o filme A Queda. A obra consegue mostrar com precisão histórica a tensão dos nazistas quando Berlim estava sendo invadida e o nazismo sendo derrotado.

O personagem principal é o próprio Adolf Hitler que é interpretado pelo ator Bruno Ganz. Esse filme é fundamental para entender como, mesmo no momento da morte, Hitler e seus aliados continuavam defendendo a sua ideologia e alimentando o seu ego.

Ele estará disponível em breve, em alta definição, no Streaming da Brasil Paralelo.

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