Guerra Cultural entre Modernismo e Pós-Modernismo: Entenda o debate por ambos os lados
A Guerra Cultural é um embate entre duas ideologias opostas. Nesse artigo, conheça a visão de Stephen Hicks sobre os combatentes nesse conflito e o que defendem
A guerra cultural acontece quando duas ideologias opostas disputam para se tornar dominantes entre as pessoas. Segundo o autor Stephen Hicks, o modernismo e o pós-modernismo têm sido protagonistas nesse debate.
O modernismo defende os valores universais, o livre mercado e a liberdade de expressão. O Pós-modernismo defende o coletivismo, a regulação do discurso e o relativismo moral.
As posições de ambos os campos apresentam diversos contornos lógicos e consequências práticas a partir de suas ideias. Conheça o que cada um representa e como essa luta ideológica as ações de seus representantes.
O termo “Guerra Cultural” remonta desde a Alemanha do século XIX. Nessa época, a Prússia e a Igreja Católica disputavam como seria a educação dos mais jovens em relação à identidade nacional e moral.
A palavra original (
Niilismo: A arte abandonou qualquer significado para apresentar um conteúdo puramente chocante. O maior exemplo foi G.G. Allin, um músico de punk e rock que em um show defecou no palco e jogou excrementos na plateia.
) era usada para se referir a conflitos ideológicos entre Igreja e Estado. Com o passar do tempo, também passou a englobar embates entre facções com visões de mundo opostas.
Segundo o livro de Stephen Hicks, as duas ideologias que vêm travando essa guerra desde o século XVI são o modernismo e o pós-modernismo.
Modernismo x Pós-modernismo: os combatentes da guerra cultural
O modernismo é marcado pela confiança na razão, na ciência e no individualismo. Já no pós-modernismo, esses conceitos não são mais aceitos como guias absolutos para a sociedade ou para a filosofia. Tudo é questionado, desconstruído e colocado em debate.
Conheça melhor sobre cada um.
O que defende o Modernismo?
Os pilares filosóficos do modernismo são figuras como Francis Bacon, René Descartes e John Locke. Eles acreditavam que a razão e a percepção humanas eram ferramentas confiáveis para conhecer a realidade. O ápice dessa ideologia foi o Iluminismo.
Um modernista costuma apresentar as seguintes características:
Metafísica realista: A realidade existe de forma externa e independente do indivíduo. Ela pode ser compreendida através da razão.
Epistemologia empirista: A melhor forma de obter conhecimento é por meio do método científico. Colocar as hipóteses à prova em cenários de teste é a maneira objetiva de fundamentar as crenças
Natureza humana individualista: Cada indivíduo é racional e autônomo, portanto é capaz de fazer as próprias análises e tomar decisões. Isso implica que as consequências dessas decisões são responsabilidade única de quem às tomou.
Ética universalista: Os valores morais são baseados na razão e alicerçados em princípios universais como liberdade, justiça e igualdade. Ou seja, certo e errado são questões objetivas e a moral é externa ao indivíduo.
Política liberal: Os indivíduos possuem autonomia para fechar negócios. Seus lucros, assim como prejuízos são absorvidos integralmente pelos agentes econômicos de maneira individual. Intervenções estatais são mínimas e os mercados são livres.
O que defende o Pós-modernismo?
O pós-modernismo surge como uma reação radical ao Iluminismo. Ele rejeita a razão, o individualismo e todas as consequências dessas ideias: desde a ciência, a tecnologia e o capitalismo, até os sistemas liberais de governo e os mercados livres.
Entre os principais nomes da vanguarda pós-moderna estão filósofos como Michel Foucault, Jacques Derrida, Jean-François Lyotard e Richard Rorty. Fazendo uma comparação ponto a ponto, um pós-modernista enxergaria o mundo da seguinte forma:
Metafísica anti-realista: Não há uma realidade externa ao indivíduo. Pelo contrário, cada um é dono da sua própria verdade. A realidade é, portanto, subordinada ao indivíduo.
Epistemologia subjetiva: O conhecimento não pode ser neutro e o método científico não tem como ser objetivo. A verdadeira forma de absorver conhecimento é por meio da cultura e das estruturas de poder presentes.
Natureza humana coletivista: A identidade de um indivíduo é moldada pela característica do grupo ao qual ele pertence (raça, gênero, classe, sexualidade etc.). O foco sai da pessoa e vai para o contexto social em que ela se encontra.
Ética relativista: Os valores morais são baseados nos sentimentos e alicerçados em experiências pessoais. Os valores universais são vistos como ferramentas de opressão e de poder.
Política afirmativa: Como o foco está nos grupos em vez dos indivíduos, o Estado é tido como um agente que deve ser atuante para garantir a justiça social entre as classes.
Nos dias de hoje, o modernismo é representado pela direita do espectro político. Já a esquerda representa o pós-modernismo em termos ideológicos. Hicks percebe essa dicotomia em seu livro e levanta a pergunta: por que o pós-modernismo é de esquerda?
A conclusão a que ele chegou foi que na verdade a esquerda se tornou pós-modernista. Ele reconhece que o socialismo clássico, como o de Marx, tentava se apoiar na razão e na ciência. Era chamado de “socialismo científico”.
Os socialistas clássicos, acreditando na racionalidade de suas ideias, elaboraram quatro proposições:
o capitalismo é explorador;
o socialismo é humano e cooperativo;
o capitalismo é menos produtivo que o socialismo;
e economias socialistas gerariam prosperidade.
Segundo Hicks, as quatro falharam. As nações capitalistas prosperaram economicamente e melhoraram o padrão de vida da população, enquanto regimes socialistas fracassaram economicamente e instituíram ditaduras brutais.
As derrotas empíricas levaram a derrotas também no campo teórico. Economistas de livre mercado como Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e Milton Friedman já haviam previsto o colapso socialista muitas décadas antes e suas leituras provaram-se certeiras.
A partir daí, os socialistas passam por um fenômeno parecido com o que ocorreu com os contrailuministas alemães entre os anos de 1780 e 1815. Ao perceberem que a realidade estava contra a sua tese, eles começaram a defender que a verdade objetiva não existia.
Hicks chega à conclusão que não foi o pós-modernismo que se tornou de esquerda. Políticos e pensadores de esquerda abraçaram o pós-modernismo após perceberem que sua ideologia não se sustentava em um mundo dominado pelo objetivismo racional.
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A liberdade de expressão tornou-se tema central entre as pautas debatidas na guerra cultural. O mais comum é que ela seja defendida por entes de direita, ou seja, modernistas. Os motivos são os seguintes:
Modernistas defendem autonomia individual: Compreender a realidade e agir com base nela é responsabilidade de cada pessoa. A censura cria medo e prejudica o indivíduo de exercer funções essenciais para agir responsavelmente.
Modernistas defendem troca de valores: Relacionamentos sociais resultam em trocas de valores como conhecimento, amizade, amor e econômicos. Desenvolver a tolerância necessária para que essas trocas aconteçam envolve risco de ofensas.
Modernistas defendem direitos individuais: Pensamentos e fala não violam direitos, então não há justificativa para intervenção governamental. Criticar o governo deve ser permitido para prevenir seu abuso de autoridade.
Já os pós-modernistas tendem a se posicionar contra a liberdade de expressão total e a favor da regulação estatal do discurso.
O motivo disso é que eles entendem a fala como um instrumento de poder e o mais justo seria que todos tivessem habilidade de falar. Contudo, eles são coletivistas e enxergam o mundo pela lente de um conflito entre grupos oprimidos e opressores.
Na visão de um pós-modernista, se todos os discursos forem permitidos, os grupos dominantes usarão a fala para coibir os oprimidos. A solução para isso seria redistribuir a fala para proteger os grupos mais fracos.
Isso siginifica restringir palavras depreciativas usadas pelos grupos dominantes, impedindo que reforcem racismo, sexismo ou ameaças. Assim, é possível reconstruir a realidade social.
O pós-modernista não vê códigos de fala como censura, mas sim libertação. Eles permitem que os grupos subordinados se expressem em igualdade de condições.
Hicks traz o exemplo do crítico literário Stanley Fish. Ele afirma que no liberalismo, meritocracia e individualismo reforçam o status quo, mantendo os brancos e homens no topo. Portanto, padrões duplos explícitos são necessários para equilibrar o poder.
Também cita no livro Herbert Marcuse, sociólogo e filósofo alemão que teria dito a frase:
“A tolerância libertadora, então, significaria intolerância contra movimentos da Direita, e tolerância com movimentos da Esquerda.”
Esse pensamento também é utilizado para justificar atos de violência contra adversários políticos. Exemplos disso foram a facada em Jair Bolsonaro em 2018, o tiro que quase matou Donald Trump o mais recente assassinato de Charlie Kirk.
Guerra cultural na arte
Segundo Stephen Hicks, o campo das artes foi um em que o pós-modernismo não rompeu com o modernismo, mas sim, deu continuidade ao seu trabalho.
Até o final do século XIX, a arte buscava beleza, originalidade e significado humano universal, exigindo do artista habilidade e visão. Os modernistas passaram a rejeitar a tradição e a explorar a eliminação sistemática dos elementos artísticos.
Essa mudança foi alimentada por um clima cultural de pessimismo. Segundo Hicks, o início do século XX foi marcado por ceticismo filosófico, revoluções políticas, ansiedade, desumanização e abalo da fé.
Os artistas responderam a esse mal-estar com obras que refletiam fragmentação, feiura e absurdo.
A arte moderna era:
Pessimista: Afirmava que o mundo não é belo, mas caótico, fragmentado e sem sentido. A obra O Grito de Edvard Munch é um bom exemplo:
Reducionista: A busca pela “essência” da arte levou artistas a eliminar tudo que não fosse essencial ao meio. Na pintura, isso significou abandonar tridimensionalidade, composição, cor e até o apelo sensorial.
A arte moderna se radicalizou nesse caminho até terminar em Duchamp e seu Fountain:
Com o urinol, ele mostrou que a arte moderna já não buscava criar, mas questionar o que é arte. O objeto não tinha valor estético. Era apenas parte de um experimento filosófico. Para Duchamp, a obra não era arte, mas um teste conceitual.
O pós-modernismo apenas seguiu a tendência e elaborou quatro temas para abordar em suas obras:
Metalinguagem: Como a arte não falaria mais da realidade, pois, segundo o pós-modernismo, esta não existe, então falaria da própria arte como fenômeno social.
Identitarismo: A arte passou a se apresentar como voz de minorias, apresentando conteúdo ideológico voltado para pautas sociais de raça, classe, gênero e sexualidade.
O pós-modernismo intensificou o “beco sem saída”, como chama Hicks. Da ousadia inicial de Duchamp ao escárnio escatológico de Allin, o percurso foi um círculo fechado, onde cada gesto radical apenas repete e intensifica o vazio.
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