Elegia
Neste mês, as cigarras cantam
e os trovões caminham por cima da terra,
agarrados ao sol.
Neste mês, ao cair da tarde, a chuva corre pelas montanhas,
e depois a noite é mais clara,
e o canto dos grilos faz palpitar o cheiro molhado do chão.
Mas tudo é inútil,
porque os teus ouvidos estão como conchas vazias,
e a tua narina imóvel
não recebe mais notícias
do mundo que circula no vento.
Interpretação
Elegia é um poema de Cecília Meireles feito para sua avó materna, que a criou após perder os pais. A dissonância entre a primeira e a segunda estrofe representa o grande impacto que Cecília sofreu quando sua avó morreu.
O poema retrata tanto a morte de um ente querido quanto a morte emocional que Cecília sofreu, retratando o sentimento de que uma parte de si mesma foi perdida.
Para ir à Lua
Enquanto não têm foguetes
para ir à Lua
os meninos deslizam de patinete
pelas calçadas da rua.
Vão cegos de velocidade:
mesmo que quebrem o nariz,
que grande felicidade!
Ser veloz é ser feliz.
Ah! se pudessem ser anjos
de longas asas!
Mas são apenas marmanjos!
Interpretação
O poema Para ir à Lua explora a imaginação como um meio de transporte para o impossível. Cecília Meireles mostra que não são necessários foguetes para alcançar a Lua, apenas criatividade e liberdade, características essenciais da infância.
A leveza presente no poema simboliza a importância de sonhar sem barreiras, sugerindo que a fantasia pode nos levar além das limitações do mundo real. A musicalidade dos versos reforça o tom lúdico, tornando a leitura encantadora.
Mais do que um poema infantil, Para ir à Lua é um convite para enxergar a vida com poesia, onde a imaginação transforma qualquer destino em algo possível.
Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Interpretação
Ou isto ou aquilo é um expoente da poesia infantil. Por ter sido professora, muitos poemas de Cecília Meireles são voltados para crianças e vários estão nessa lista. O clássico também dá o nome de um livro que reúne 57 poemas da autora.
O tema central é a indecisão na infância. A experiência de querer dois brinquedos e só poder levar um para casa, por exemplo, é um drama comum vivido pelas crianças e Cecília Meireles traduziu esse sentimento em versos.
Ou isto ou aquilo ensina a lição de que para ter uma coisa é necessário abrir mão de outra. Esse poema expõe a facilidade com que Cecília conseguia conectar o público com sua escrita.
Interlúdio
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
Interpretação
Interlúdio fala sobre como o presente é menosprezado em relação ao passado e ao futuro. O título significa intervalo, e representa a lição do poema de Cecília Meireles. Ela diz para fazer uma pausa e viver somente o presente por um tempo para que se encontre equilíbrio.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Interpretação
Retrato é uma metáfora para uma imagem parada no tempo. O poema de Cecília Meireles fala sobre a angústia de se sentir parado no tempo quando todo o resto está caminhando.
Como sempre, ela evoca melancolia e solidão, mas dessa vez o motivador desses sentimentos é a descoberta de que a vida é passageira e que não se tem todo o tempo do mundo.
O eu-lírico se vê degradando, sendo engolido pelo tempo até encontrar a morte.
- Conheça a Brasil Paralelo, uma empresa voltada para resgatar bons valores, ideias e sentimentos através da cultura. Já somos o segundo maior streaming nacional do Brasil, tendo recebido da Forbes a premiação de 2ª principal empresa do mundo atuando pelo livre mercado.
A bailarina
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
Interpretação