Foto da capa: Mário Quintana / reprodução internet.
A leitura de poemas pode elevar o leitor e levá-lo a refletir sobre sua posição na existência. Entre as motivações de quem busca poesias, encontram-se os poemas sobre a vida, que incitam reflexões sobre a própria existência.
A leitura de poemas sempre foi recomendada por intelectuais. Muitos clássicos da humanidade foram escritos em forma de poemas, como as obras de Homero ou "Os Lusíadas", de Camões.
Entre os poemas sobre a vida, destacamos neste artigo cinco que podem levar à reflexão e ao diálogo interno sobre a existência. Os poemas selecionados são:
Assim eu vejo a vida, Cora Coralina;
Meus oito anos, Casimiro de Abreu;
O que há em mim é sobretudo cansaço, Fernando Pessoa;
Cora Coralina é o pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Nascida em 20 de agosto de 1889 e falecida em 10 de abril de 1985, foi uma poetisa e contista brasileira, natural de Goiás.
Meus oito anos, Casimiro de Abreu
"Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias Do despontar da existência! - Respira a alma inocência Como perfumes a flor; O mar é - lago sereno, O céu - um manto azulado, O mundo - um sonho dourado, A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida, Que noites de melodia Naquela doce alegria, Naquele ingênuo folgar! O céu bordado d’estrelas, A terra de aromas cheia, As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã. Em vez das mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias De minha mãe as carícias E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas, Eu ia bem satisfeito, De camisa aberto ao peito, - Pés descalços, braços nus - Correndo pelas campinas À roda das cachoeiras, Atrás das asas ligeiras Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos Ia colher as pitangas, Trepava a tirar as mangas, Brincava à beira do mar; Rezava às Ave-Marias, Achava o céu sempre lindo, Adormecia sorrindo E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais! Que amor, que sonhos, que flores, Naquelas tardes fagueiras À sombra das bananeiras, Debaixo dos laranjais!".
Casimiro José Marques de Abreu foi um poeta brasileiro, nascido em 4 de janeiro de 1839 e falecido em 18 de outubro de 1860 em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Ele fez parte da segunda geração do romantismo.
O que há em mim é sobretudo cansaço, Fernando Pessoa
"O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...".
Fernando Antônio Nogueira Pessoa foi um poeta, dramaturgo e ensaísta português, nascido em Lisboa, capital de Portugal, em 13 de junho de 1888 e falecido em 30 de novembro de 1935. Ele é reconhecido por sua relevância na literatura portuguesa.