Nos últimos dias, o Brasil assistiu ao surgimento de uma campanha que aborda violência, ética e emprego.
A morte do ativista norte-americano Charlie Kirk, assassinado com um tiro no pescoço durante um debate universitário, provocou uma onda de reações nas redes sociais. Entre elas, uma parcela de internautas celebrou o crime. Foi a faísca para que o empresário Tallis Gomes, fundador da G4 Educação e da Easy Taxi, lançasse ao lado do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) a campanha “#DemitaExtremistas”.
Em vídeos e publicações em redes sociais, Tallis pede que empresas demitam funcionários extremistas que apoiem assassinato, ou qualquer crime.
Entrevistado, Tallis contou como surgiu a ideia do movimento.
Nasceu de um choque moral. Assisti ao vídeo do assassinato do Charlie Kirk e vi seus filhos correndo em desespero, chamando pelo pai. Aquilo sintetiza o que a política de ódio produz na vida real: crianças órfãs. Não é “debate acalorado”, é barbárie. E estou farto de viver em um Brasil em que qualquer conservador é carimbado de “fascista”, rótulo que desumaniza pessoas comuns e legitima a violência contra elas. Atravessou-se o Rubicão.
O #DemitaExtremistas é o basta dos homens e mulheres de bem que não aceitarão normalizar a celebração da morte. O mundo inteiro tomou nota do crime, e a repercussão internacional apenas reforçou a gravidade do momento.
Enfatizou também que não se trata de divergência de opiniões políticas:
“O #DemitaExtremistas não é sobre direita e esquerda. É sobre um limite civilizatório: ninguém tem licença para celebrar a morte do outro e continuar representando uma marca. Quem atravessa essa linha sai do time. É assim que se protege a empresa, os inocentes e o Brasil.”
É sobre um limite civilizatório: ninguém tem licença para celebrar a morte do outro e continuar representando uma marca, atendendo clientes e influenciando colegas. Quem quer trabalhar com a gente precisa aceitar uma regra simples, quase infantil, mas esquecida por adultos: faça o bem, não faça o mal. Quem atravessa essa linha sai do time. É assim que se protege a empresa, os inocentes e o Brasil.
Tallis explicou que o foco são condutas criminosas ou gravemente antiéticas, amparadas pela legislação brasileira.
“Falo como gestor que estuda a lei e a jurisprudência.
a) Penal: há duas chaves. Incitação ao crime, art. 286 do Código Penal, ocorre quando se estimula publicamente que alguém cometa um crime. Apologia, art. 287, é exaltar fato criminoso ou seu autor. “Tem que matar” ou “que matem fulano” tende a caracterizar incitação; “bem feito que morreu”, “herói quem o matou” se aproxima de apologia. Ambos são crimes.
b) Trabalhista: ainda que não haja denúncia criminal, a conduta pública pode romper a fidúcia necessária ao contrato, enquadrando-se em justa causa pelo art. 482 da CLT, especialmente por mau procedimento e ato lesivo à honra e boa fama. A Justiça do Trabalho tem mantido justa causa por ofensas graves em redes internas e públicas, reconhecendo a gravidade e o nexo com o ambiente de trabalho. Não é teoria, é jurisprudência viva.
Como aplico na prática: exigência de prova inequívoca (prints, links, preservação de evidência), apuração formal, direito de defesa e decisão proporcional. “Comemorar morte” pública, ainda mais pedindo a morte de terceiros, viola o pacto civilizatório e a cultura ética da empresa. Configura justa causa.
Essa visão não impediu críticas. Parte da imprensa preferiu enquadrar o movimento como tentativa de criminalizar manifestações políticas.
Na quarta-feira, nove parlamentares do PSOL chegaram a denunciá-lo e ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ao Ministério Público do Trabalho. Eles alegam que a campanha é uma tentativa de pressionar empresas a punirem empregados por suas opiniões nas redes sociais.
Segundo os parlamentares, essa prática viola direitos fundamentais previstos na Constituição, como a liberdade de manifestação e de convicção. Eles afirmam que Nikolas e Tallis estimulam uma campanha que ameaça a liberdade de expressão dos trabalhadores. Defendem que a campanha resulta em perseguição por opinião política.
Tallis disse que já esperava ser alvo de pessoas ou partidos discordantes:
Era previsível. Um grupo de deputados do PSOL apresentou representação ao Ministério Público do Trabalho para me investigar por conclamar a demissão de quem celebra assassinato e pede a morte de cristãos e conservadores.
Respondo com serenidade: o que defendo não é perseguição ideológica, é um padrão mínimo de civilidade. Empresa não é asilo para apologista de crime. Há fronteiras jurídicas claras entre opinião legítima e conduta ilícita ou gravemente antiética.
E a representação do PSOL só comprova o desconforto de parte da classe política com o endurecimento moral da sociedade.
Para Gomes, enfrentar uma opinião majoritária é uma conduta arriscada, mas que o risco é calculado:
“O risco que me preocupa não é o financeiro, é o moral. Meu Deus não é o dinheiro. Quero me comportar como um aristocrata no sentido clássico: governar pela virtude, pelo exemplo e pela responsabilidade de proteger inocentes.”
O ponto mais recorrente na fala de Tallis é a ideia de coragem — não como bravata, mas como virtude clássica. Na análise do empresário, quando uma sociedade a perde, o que sobre é a “barbárie com verniz acadêmico”:
“Coragem não é gritar mais alto; é suportar o custo de fazer o certo quando o certo tem preço”. Coragem não é gritar mais alto; é suportar o custo de fazer o certo quando o certo tem preço. Aristóteles chama a coragem de meio-termo entre a temeridade e a covardia. Tomás de Aquino a define como firmeza diante do temor para buscar o bem. Na vida real de empresa, coragem é dizer não ao talento tóxico, é preferir um trimestre mais difícil a um século mais cínico, é proteger a criança que chora pelo pai e não o adulto que ri da morte do outro. Coragem é o músculo moral da liberdade.”
Enfatiza que pessoas que aceitam trabalhar com quem defende assassinatos o fazem por conivência e que é importante modificar esse tipo de cultura:
“É conivência. Cultura é o que você promove e o que você permite. Quem permite que o mal prospere, educa o time para o mal.”
Na sua visão, demitir extremistas não é um ato político, mas de higiene moral.
A campanha repercutiu de forma orgânica entre empresários, muitos deles na linha de frente da geração de empregos. Alguns casos ganharam notoriedade, como o da estilista da Vogue e o do sobrinho de Alexandre Kalil, demitidos após postagens celebrando a morte de Kirk.
Segundo Tallis, a adesão revela um sentimento reprimido de que não se pode normalizar a violência:
“Muitos agradecem por alguém ter dito em voz alta o que a maioria sente em silêncio: normalizar o elogio à violência destrói equipes, clientes e o país. Há espaço para que empresários maiores exerçam a virtude da coragem, abandonem a ambiguidade e alinhem cultura com comportamento. É uma oportunidade histórica de reeducar o mercado de trabalho para a civilidade.”
Na sua visão, demitir extremistas não é um ato político, mas de higiene moral.
A Folha de S.Paulo foi o veículo que mais repercutiu o movimento. Em reportagem de 15 de setembro, o jornalista Alex Sabino publicou uma matéria em que comentava o caso, destacando antigas acusações contra Tallis.
No entanto, a reportagem não publicou integralmente o respaldo legal em que Tallis se baseia para demitir extremistas e incentivar que outros empresários também o façam:
“Um contrato de trabalho é um pacto de confiança. Seu time está nas trincheiras com você. Você pode não querer estar nas trincheiras com quem celebra a morte, a violência”, afirmou no último vídeo em que comenta o caso.
No mesmo vídeo, afirma:
“A relação de emprego não é uma brincadeira, mas sim um vínculo de confiança. Um colaborador que comemora um assassinato ou manifesta desejo de matar demonstra uma conduta gravíssima. Esse tipo de postura inviabiliza qualquer possibilidade de convívio profissional e rompe, de forma irreparável, a fidúcia necessária para a manutenção do contrato de trabalho. Não há argumento moral ou jurídico capaz de tornar essa atitude aceitável. Quanto à forma da demissão — com ou sem justa causa — cabe ao empregador avaliar as circunstâncias de cada caso.”
Dois dias depois, a repórter Cristiane Gercina publicou outra matéria com o título:
“Empresa não pode demitir trabalhador por postagem política, mas há exceções.”
A linha adotada confundiu o propósito do movimento — combater apologia à morte — com a ideia de perseguição a manifestações políticas.
Ao longo do texto, a jornalista discute a proibição legal de empresários demitirem trabalhadores que expressem opiniões políticas.
Tallis encaminhou uma resposta completa ao jornal Folha de São Paulo com os fundamentos legais de sua decisão. Justamente a explicação sobre o amparo na lei também não foi publicada na íntegra.
A Brasil Paralelo preparou um vídeo explicando detalhadamente a campanha liderada por Tallis Gomes:
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