Um policial militar foi baleado no pescoço e teve sua arma roubada por criminosos durante uma perseguição na comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo. A ação ocorreu durante patrulhamento de rotina da equipe de RPM (Rádio Patrulhamento com Motocicletas) do 1º BPM/M, na área da 3ª Companhia.
Segundo a Polícia Militar, ao tentar abordar um suspeito, os agentes iniciaram uma perseguição que terminou dentro da comunidade. Durante o acompanhamento, o policial foi atingido por um disparo e, mesmo ferido, conseguiu pedir apoio pelo rádio, relatando sangramento intenso. Ele foi socorrido imediatamente e levado ao Hospital Albert Einstein. Sua arma foi subtraída pelos criminosos. Até o momento, ninguém foi preso. A PM reforçou o patrulhamento na região.
Imagens da ocorrência sugerem que o policial não tenha visto a arma do suspeito. Um capitão da Polícia Militar ouvido pela Brasil Paralelo reforça essa hipótese e afirma que o PM hesitou em atirar por receio das consequências:
“Tudo leva a crer que ele não viu a arma, mas numa situação como essa é bem presumível que o indivíduo estivesse armado. Ele já estava fugindo, estava no acompanhamento, havia uma resistência ativa e ele escondia a mão a todo momento. Então, era bem presumível que estivesse armado.”
O capitão também afirma que o policial evitou atirar, temendo uma possível repercussão pública negativa:
“O policial não atirou porque sabia que responderia gravemente por isso. Lembrando que, se tirar a vida de um suspeito, irá responder de acordo com um processo penal militar, que é muito mais rigoroso do que o processo penal civil.”
Quando um policial militar atira contra um civil durante o serviço, a pena varia conforme as circunstâncias da ação — especialmente se houve legítima defesa, excesso ou intenção clara de matar.
Desde decisão do STF, crimes dolosos contra civis, mesmo cometidos por militares em serviço, passaram a ser julgados pela Justiça comum.
Segundo especialistas, o endurecimento das punições e a visibilidade de casos envolvendo letalidade policial contribuem para que agentes hesitem em reagir mesmo diante de ameaças concretas, colocando suas próprias vidas em risco.
Ainda de acordo com o capitão ouvido, a fragilidade da legislação penal também contribui para o aumento da violência contra policiais:
“Se você desobedecer um policial, se atirar contra um policial, não sofrerá grandes consequências. Então as pessoas vão desafiar cada vez mais o poder do Estado. Por quê? Porque a legislação penal é fraca, a resposta estatal é fraca nesses casos. Então, o policial opta por só atirar em último caso e, como no vídeo de Paraisópolis, coloca em risco a própria vida.”
A vulnerabilidade policial vai além do risco de confronto armado. Em 2024, 127 agentes foram assassinados no Brasil — sendo 46 em serviço e 81 de folga, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025. O dado mais alarmante, porém, está nos suicídios: 126 policiais tiraram a própria vida no mesmo período.
Ou seja, um policial brasileiro teve praticamente a mesma chance de morrer por suicídio quanto por violência externa. As vítimas são, majoritariamente, homens, negros, entre 35 e 49 anos, mortos com arma de fogo em via pública.
Mais da metade dos assassinatos ocorre fora do horário de trabalho. Sem colete, viatura ou apoio, muitos são reconhecidos e caçados por criminosos. Em estados como Amapá, Bahia e Pernambuco, a letalidade é ainda maior. No Amapá, por exemplo, a taxa de assassinatos de policiais chega a 69,9 por 100 mil — quase nove vezes maior que a registrada em São Paulo.
A disparidade revela o abismo entre as realidades das forças policiais em diferentes regiões do país. No Norte e Nordeste, o risco de morte é desproporcional e crescente.
O impacto psicológico também é grave. A rotina exaustiva, o estresse permanente, os baixos salários e a falta de suporte emocional contribuem para o colapso mental de muitos agentes.
Segundo o coronel Onivan Elias de Oliveira, autor de um estudo sobre o tema, os próprios registros oficiais sobre suicídios apresentam inconsistências — com variações de até 212% entre diferentes edições do Anuário, o que sugere falhas nos dados e subnotificação.
Em outras palavras, a realidade pode ser ainda pior do que mostram os relatórios.
Somando homicídios e suicídios, mais de 250 policiais morreram em 2024 — uma morte a cada um dia e meio.
Apesar disso, a discussão pública ainda se concentra quase exclusivamente na letalidade provocada pelas polícias, ignorando a violência sofrida por elas. Enquanto o debate permanece assimétrico, cresce o número de agentes que tombam em silêncio — dentro de casa, nas ruas ou dentro de si. É uma crise de segurança, mas também de humanidade.
A legislação brasileira trata de forma específica os crimes cometidos contra agentes da segurança pública, especialmente quando estão em serviço. Dois casos comuns são o desacato e os ataques armados.
Enquanto a opinião pública foca apenas na letalidade policial, milhares de agentes são alvos diários da violência, do abandono e do silêncio. Baleados, perseguidos, punidos por reagir. Muitos caem nas ruas. Outros, dentro de si.
EntreLobos revela o outro lado da moeda: a rotina de quem coloca a própria vida em risco para defender a sua.
Assista agora ao documentário que expõe a realidade das forças policiais no Brasil — e por que elas estão cercadas por todos os lados.
Clique aqui para ver o filme completo.
Brasil Paralelo. Porque a história precisa ser contada por inteiro.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP