No último dia 17 de abril, completaram-se 29 anos do episódio que ficou conhecido como um dos mais graves conflitos agrários do país.
A data rememora o confronto entre integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Polícia Militar do Pará, em 1996.
Naquele 17 de abril, cerca de 1.500 militantes bloqueavam a rodovia PA-150 em protesto contra a demora na desapropriação da Fazenda Macaxeira, uma área de 40 mil hectares.
O bloqueio era parte de uma série de ações promovidas pelo MST nos anos 1990, período em que o movimento se consolidava como força política e intensificava ocupações de terras, bloqueios de estradas e confrontos com autoridades.
Ao final, a ação terminou com 19 mortos no local e dezenas de feridos. A operação, segundo o Ministério Público, envolveu retirada de corpos, adulteração da cena do crime e ocultação de provas.
As investigações apontaram responsabilidade direta dos comandantes da ação, que foram posteriormente condenados: o coronel Mário Pantoja a 208 anos de prisão e o major José Maria de Oliveira a 158.
O episódio impulsionou uma série de apoios e visibilidade ao movimento em setores da cultura, da política e da imprensa.
A disputa por terras, no entanto, não pode ser analisada isoladamente. O surgimento e fortalecimento do MST foi resultado de décadas de articulação política e ideológica.
Desde o fim da ditadura e a Constituição de 1988, o cenário mudou. A nova lei garantiu que a terra deve cumprir uma função social e que o Estado pode fazer reforma agrária. A partir disso, o movimento começou a agir dentro dessa nova regra, mas muitas vezes fora dos limites legais.
Isso dificulta que o movimento seja responsabilizado formalmente por suas ações. Mesmo quando há invasões ou confrontos, a responsabilização institucional é limitada. Esse vácuo jurídico se tornou um dos pontos mais debatidos sobre a atuação do grupo.
O ocorrido de 1996 foi apenas um dos muitos conflitos envolvendo disputa por terra no país.
A partir dela, a questão agrária deixou de ser apenas uma pauta econômica ou social e passou a representar uma arena de embates ideológicos sobre o papel do Estado, a propriedade privada e os limites da ação política de movimentos organizados.
Hoje, quase três décadas depois, a memória do massacre segue sendo evocada em atos públicos e manifestações, associada ao que o movimento define como luta por justiça ou ato de resistência.
No entanto, o episódio de Eldorado dos Carajás permanece também como um marco incontornável no debate sobre segurança no campo, legalidade e os caminhos para resolver o impasse fundiário no Brasil.
Como um veículo independente, não aceitamos dinheiro público. O que financia nossa estrutura são as assinaturas de cada pessoa que acredita em nossa causa.
Quanto mais pessoas tivermos conosco nesta missão, mais longe iremos. Por isso, agradecemos o apoio de todos.
Seja também um membro da Brasil Paralelo e nos ajude a expandir nosso jornalismo.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP