O governo federal anunciou uma série de medidas emergenciais após o aumento de casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol no estado de São Paulo.
Em coletiva, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT-SP), detalharam a atuação conjunta para conter os riscos à população e investigar a origem da substância.
Lewandowski afirmou que a gravidade da situação levou o ministério a mobilizar a Polícia Federal e a Secretaria Nacional do Consumidor para investigar a procedência das bebidas e responsabilizar os envolvidos.
“Determinamos ao diretor-geral da Polícia Federal, Dr. Andrei Rodrigues, que abrisse um inquérito policial para verificar a procedência dessa droga e a rede possível de distribuição, que, ao que tudo indica, transcende os limites de um único estado”, declarou.
Segundo ele, a adulteração de bebidas configura crime comum pelo artigo 272 do Código Penal, além de violação ao Código do Consumidor.
“Nós tomamos providências cabíveis, diria eu, enérgicas, para não só identificarmos a origem e podermos coibir a distribuição desses produtos que são claramente intoxicantes para a população”.
Lewandowski explicou ainda que o Ministério da Justiça utilizou o sistema nacional de alerta rápido, criado em fevereiro de 2025, que monitora intoxicações atípicas. A ferramenta foi acionada na sexta-feira (26) e emitiu notificações a hospitais de todo o país.
No sábado, a Secretaria Nacional do Consumidor enviou uma nota técnica a bares, restaurantes e comerciantes, recomendando cuidados na checagem de rótulos, selos fiscais e lotes suspeitos.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou que os números recentes destoam da média histórica de intoxicações por metanol no país.
“No Brasil, temos cerca de 20 casos por ano devidamente notificados pelo Sistema Único de Saúde. Só em agosto e setembro deste ano já chegamos a 17 casos em São Paulo, praticamente o que acontece em um ano inteiro em todo o país”.
Ele destacou que o perfil das ocorrências também mudou. Antes, os casos eram geralmente ligados a pessoas em situação de rua ou tentativas de suicídio. Agora, envolvem consumidores em bares e restaurantes.
“Nós estamos observando uma situação absolutamente diferente daquilo que foi registrado nos últimos anos da nossa série histórica”, disse Padilha.
Para lidar com a emergência, o Ministério da Saúde vai publicar uma nota técnica específica com orientações clínicas para médicos e enfermeiros. O documento detalhará sinais de intoxicação, formas de diagnóstico e protocolos de tratamento.
“Queremos reforçar para os profissionais de saúde que a notificação é no caso suspeito. Não precisa aguardar o fechamento do diagnóstico”, afirmou Padilha.
O ministro alertou ainda sobre os sintomas iniciais, como dor abdominal intensa, alterações visuais e confusão mental.
“A dor encólica chama muito a atenção nesses casos. Qualquer percepção de alteração visual também deve ser considerada suspeita”, destacou.
Segundo Padilha, o Brasil conta hoje com 32 centros de referência em intoxicação toxicológica pelo SUS, nove deles em São Paulo, além da linha direta da Anvisa (0800 722 6001).
Padilha destacou a importância da parceria com os municípios e a Secretaria de Saúde paulista, que identificaram a mudança de padrão das intoxicações.
Lewandowski concluiu afirmando que o caso já é tratado como prioridade nacional.
“É uma ocorrência grave, com reflexos na saúde pública, e estamos em íntima cooperação com o Ministério da Saúde para proteger a população e identificar os responsáveis”, disse.
O estado de São Paulo registrou cinco mortes suspeitas por intoxicação com bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. Dois casos ocorreram em São Bernardo do Campo e um na capital.
A Secretaria de Saúde do município do ABC confirmou que o primeiro paciente, um homem de 58 anos, morreu no dia 24 de setembro após ser atendido no Hospital de Urgência.
O segundo caso foi o do advogado Marcelo Macedo Lombardi, de 45 anos, que morreu no último domingo, 28 de setembro. Já na capital, a Polícia Civil confirmou uma morte na região da Mooca.
Marcelo Lombardi apresentou os primeiros sintomas na noite do dia 26 de setembro, após uma confraternização em que teria consumido drinques. Horas depois, relatou sonolência intensa, visão turva, náuseas, dores abdominais e confusão mental.
Durante a internação, seu estado piorou de forma abrupta, evoluindo para falência múltipla de órgãos. O laudo preliminar apontou intoxicação por metanol, e exames laboratoriais do Centro de Vigilância Sanitária confirmaram a presença da substância.
Com a morte de Marcelo Lombardi, as autoridades intensificaram as investigações. A Polícia Civil instaurou um inquérito para rastrear a origem da bebida consumida pelo advogado e já colhe depoimentos de familiares, amigos e funcionários do local onde a garrafa foi adquirida.
O objetivo é identificar falhas na cadeia de distribuição e localizar o lote adulterado. As apurações também consideram a participação do crime organizado.
O metanol é um tipo de álcool usado em combustíveis, solventes e produtos industriais, mas proibido para consumo humano. É uma substância incolor, com gosto e cheiro semelhantes ao etanol, o que dificulta sua identificação imediata.
O problema surge quando o fígado metaboliza o metanol em formaldeído e ácido fórmico, compostos tóxicos que se acumulam no organismo e atacam nervos e órgãos.
Os efeitos mais característicos são os danos ao nervo óptico, que podem causar cegueira permanente, além de coma e morte.
O formiato age de forma semelhante ao cianeto e interrompe a produção de energia nas células. O cérebro é muito vulnerável a isso”, explicou Christopher Morris, professor da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
O envenenamento por metanol é considerado uma emergência médica. Pode ser tratado com hemodiálise e medicamentos que retardam o metabolismo da substância.
Em alguns casos, administra-se etanol, que compete com o metanol no organismo. “O antídoto mais importante é o álcool comum”, disse Knut Erik Hovda, da organização Médicos Sem Fronteiras.
O toxicologista Alastair Hay, da Universidade de Leeds, explica que “o etanol atua como inibidor competitivo, impedindo em grande parte a metabolização do metanol, permitindo que o corpo o elimine mais lentamente pelos pulmões, rins e suor”.
Os sintomas iniciais incluem:
Conforme a intoxicação progride, pode ocorrer midríase (dilatação anormal da pupila, que deixa de reagir adequadamente à luz). Também podem surgir insuficiência renal e distúrbios visuais graves.
Estima-se que a dose letal mínima seja de 80 gramas em pacientes não tratados, mas problemas de visão podem aparecer com a ingestão de metade dessa quantidade.
Enquanto aguardam os laudos finais do IML, familiares das vítimas cobram rapidez nas investigações e responsabilização dos envolvidos.
O episódio expôs as falhas de fiscalização no setor e reforçou o alerta sobre os riscos do consumo de bebidas de procedência desconhecida.
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