A Síria está de volta ao centro do palco diplomático. Depois de 57 anos sem que um presidente seu discursasse na Assembleia Geral da ONU, Ahmed al-Sharaa quebrou o silêncio.
O cenário do reaparecimento é delicado: o Oriente Médio segue instável e a imagem da Síria ainda é associada à guerra civil, à ditadura e ao terrorismo.
Apesar disso, Sharaa se apresentou como a nova face do país, e sua fala sinaliza uma tentativa de reposicionar a Síria longe da sua história recente.
Com a queda do regime, emergiu a figura controversa de Ahmed al-Sharaa. Sua trajetória é marcada por uma transição incomum: de jihadista a chefe de Estado.
Nasceu em 1982, passou pela insurgência iraquiana, foi preso pelos EUA e, ao retornar à Síria, fundou o grupo al-Nusra, braço da al-Qaeda no país.
Em julho de 2016 rompeu formalmente com a rede terrorista e criou a Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), que chegou a controlar boa parte do noroeste sírio. Durante a guerra civil, Ahmed al Sharaa foi conhecido como Abu Mohammad al-Julani.
Apesar da ruptura com a al-Qaeda, Sharaa continua sendo classificado como terrorista pela própria ONU e continua na lista de sancionados do Conselho de Segurança. Segundo Washington, sua liderança na HTS, mesmo após a separação formal da al-Qaeda, não apagou o histórico de ações violentas, repressão religiosa e repressão a civis em áreas dominadas.
A mudança de retórica e liderança, para os americanos, ainda não se traduziu em ações de peso como para mudar sua política. Por exemplo, ainda em março, ataques sob o comando de Sharaa provocaram 1.300 mortes em enfrentamentos com forças do agora extinto regime Assad.
Sharaa tenta se desvincular do passado extremista e construir a imagem de um líder pragmático, mas carrega consigo o peso de uma biografia militarizada e ideológica que os norte-americanos já viram em outros casos da região.
Desde janeiro de 2025, ele ocupa oficialmente o cargo de presidente da Síria em caráter transitório. Seu governo suspendeu a constituição anterior e prometeu organizar uma nova assembleia nacional, reconstruir instituições e buscar a reintegração internacional do país.
No discurso feito na ONU, Sharaa agradeceu o apoio de potências árabes e ocidentais, defendeu o fim das sanções e pediu respeito à soberania síria.
Embora muitas vezes tratadas como sinônimos ou ramificações do mesmo grupo, al-Qaeda, al-Nusra e Hay’at Tahrir al-Sham (HTS) representam fases distintas do jihadismo no século XXI e, no contexto da guerra na Síria, são ainda mais marcadas as diferenças.
Al-Qaeda é a matriz. Fundada por Osama bin Laden nos anos 1980, tornou-se mundialmente conhecida após os ataques de 11 de setembro. Seu foco sempre foi o “inimigo distante” e geralmente não participam diretamente em conflitos.
Al-Qaeda opera por meio de células descentralizadas e mantém influência sobre grupos em diferentes regiões do mundo árabe.
A Frente al-Nusra surgiu em 2012, durante a guerra civil síria, como uma filial direta da Al-Qaeda no país. Seu objetivo era derrubar o regime de Bashar al-Assad e estabelecer um emirado islâmico. Alinhava-se ideologicamente à al-Qaeda, mas focava no “inimigo próximo” (o regime de Assad e as outras facções que participavam na guerra).
Hay’at Tahrir al-Sham (HTS) é a sucessora da al-Nusra. Formada em 2017, buscou se distanciar formalmente da al-Qaeda, ainda ativa mas muito atacada. HTS assumiu uma retórica nacionalista e adotou uma posição de resistência doméstica sem abandonar a guerra santa. É essa organização que Ahmed al-Sharaa (Abu Mohammad al-Julani durante a guerra) liderava antes.
Al-Qaeda é a raiz global do jihadismo; al-Nusra foi sua expressão síria e a HTS representa uma reinterpretação dos objetivos políticos sem largar a bagagem ideológica da jihad.
Após quase sessenta anos, a Síria marcou presença no palco da Assembleia Geral da ONU com o discurso do Ahmed al-Sharaa. Sharaa disse em um breve discurso que “a Síria está recuperando seu lugar de direito entre as nações do mundo”. Para ele, a guerra civil na Síria não foi uma simples luta entre insurgentes e o Estado:
“A história síria é uma história da luta entre o bem e o mal”
Sharaa disse que a insurgência síria não teve “nenhum apoiador, exceto Deus” e que o país “durante sessenta anos esteve sob um regime repressivo que desconsiderava o valor do território que governava”. Segundo o presidente, a Síria se tornou em uma oportunidade para a paz, sem fazer referência aos conflitos internos entre facções no país.
Prometeu perante as nações presentes que Síria iria proteger todas as crenças e grupos, e se mostrou comprometido a ter um diálogo com Israel, sem pedir o fim da guerra em Gaza.
Sharaa prometeu finalmente construir um governo “inclusivo” que as agências e os investidores estrangeiros possam confiar.
O motivo do longo silêncio sírio vem desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel ocupou as Colinas de Golã. Desde então, Damasco passou a adotar uma postura de afastamento diplomático. A presença da Síria na ONU não cessou formalmente, mas a cadeira presidencial se manteve vazia.
Durante os anos seguintes, a repressão interna do regime Assad, as denúncias de crimes de guerra e a escalada do conflito civil contribuíram para o isolamento do país.
Esse ciclo de silêncio foi encerrado com a queda de Bashar al Assad em 2024, após mais de duas décadas no poder.
Bashar al-Assad é um ditador que governou a Síria por 24 anos até ser derrubado pelo Ahmed al-Sharaa. Antes de assumir o governo, Assad estudou medicina e se especializou em oftalmologia.
Em 1994, após a morte do seu irmão mais velho, Basil, Bashar assumiu a posição de herdeiro da família Assad. Seis anos depois, em 2000, Bashar al Assad, com 34, é declarado presidente da Síria pelo parlamento com mais de 97% dos votos.
Assad governou com mão de ferro desde que assumiu o lugar do pai, Hafez al-Assad, que tinha governado o país por 30 anos. Desde 2011, Assad enfrentou uma escalada de tensões no país que começou com protestos que eventualmente se tornaram uma guerra civil aberta entre o Estado e diversas milícias e exércitos regulares.
Após ser derrubado, Assad fugiu para a Rússia, onde mora atualmente sob proteção do governo.
Sharaa colocou a Síria de novo no maior fórum mundial, a ONU, que desde o fim da Segunda Guerra Mundial, tem sido o espaço predileto para a comunidade internacional. Mas por trás do diálogo e cooperação que mostram, existem verdades pouco conhecidas que você precisa descobrir. Assista nosso documentário “A FACE OCULTA DA ONU” e conheça-as.
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