Diário de Viagem [Capítulo 9] - Não existe direita política na venezuela

Um clima de autocensura paira sobre a imprensa venezuelana, assim Bruno Musa descreveu a situação da mídia no país no capítulo anterior. Neste capítulo final, Musa buscou conhecer mais sobre a realidade política no país.

Diário de Viagem [Capítulo 9 - Final]

Por muita coincidência, em nosso hotel estava acontecendo um congresso político, e decidi dar uma conferida no que estava acontecendo para tentar conversar com alguns dos políticos e jornalistas que lá estavam.

Tinham muitos jornalistas presentes, mas todos eles tinham muito medo de falar, isso ficou muito claro. Um forte clima de autocensura. 

O motivo principal do congresso era a definição da ideologia que iriam seguir, sempre com foco em centro-esquerda ou uma esquerda mais progressista.

Percebi que lá não existe espaço para a direita política, eles têm uma visão muito forte de que a direita ou o conservadorismo são um mal a ser combatido.

A ideia deles é que o Estado esteja sempre presente, com forte poder, e liberando uma série de assistências públicas para a população. 

Uma visão focada em: como o Estado pode ser melhor e fazer mais por nós?

Em pouco tempo notei que os jornalistas alí presenres eram bem progressitas, bastante preocupados com pautas como, representatividade, mulheres, negros e diversidade. Um deles inclusive comentou comigo que acredita que o Brasil está muito melhor agora já que o Lula se tornou presidente.

Questionei um político que estava presente, sobre as questões econômicas e a PDVSA, a grande estatal de petróleo venezuelana, e uma das curiosidade que ele me contou foi sobre o fracasso da empresa.

Falou que na época de Hugo Chávez, seu grande desejo era ter o controle absoluto da estatal.

E assim que começaram manifestações e insatisfações dos funcionários por conta da inflação e atrasos salariais, que já apareciam nos primeiros anos do governo de Chávez, ele entrou ao vivo em seu programa de TV do domingo, que passava em um canal do Estado, e demitiu 20 mil funcionários da PDVSA.

Assim, ele conseguiu o controle absoluto da estatal, colocando apenas militares e pessoas que o apoiavam, que estavam alinhadas com o chavismo, para gerir a empresa. Pessoas que em sua maioria nem tinham habilidade técnicas para as funções.

E segundo ele, a empresa foi sendo sucateada pouco a pouco e dessa forma a economia do país foi ficando cada vez mais fraca.

Nossa guia conseguiu o contato de Juan Guaidó, principal líder da oposição ao governo Maduro e reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 20 países.

Durante nossa conversa com Guaidó, ele mencionou quanto o populismo político prejudica a população e criticou severamente a não separação de poderes, pois na Venezuela, o sistema judiciário e político andam de mão dadas, colocando assim a democracia sempre em risco.

Coisas simples chamam atenção na Venezuela. 

Ao entrar no banheiro do escritório de Guaidó, que fica em um prédio empresarial dos mais novos e modernos, não tinha água na pia para lavar as mão, era apenas um balde com água e um pequeno pote para pegar a água e lavar as mão, mas isso não foi apenas lá, nos shoppings e em outros prédios era a mesma situação.

Pelo visto eles enfrentam um grande problema de saneamento, mesmo na capital, em Caracas, a falta de água é recorrente.

Chegou nosso último dia na Venezuela, e saio desse país com uma sensação muito diferente da que cheguei aqui.

Você acompanhou comigo alguns dias dessa jornada na Venezuela, em busca de conhecimento da real situação desse povo. 

Você viu alguns bastidores, receios, surpresas e personagens que nos guiaram na viagem. 

Agora eu convido você a assistir o que realmente vivemos lá. Registramos o resultado, porque há muito mais histórias a revelar. Gravamos tudo em nossos celulares. 

Se você chegou até aqui, precisa continuar. O resultado de tudo o que foi registrado, fará parte do novo original da Brasil Paralelo.