Não se pode falar de América sem falar em Simón Bolívar. Cinco países do continente têm suas independências ligadas ao nome dele: Venezuela, Colômbia, Equador, Perú e Bolívia.
Bolívar foi militar, estadista e símbolo da emancipação continental, e viveu na mesma época que Napoleão e George Washington. Como eles, também têm projetos políticos que marcaram a história.
O nome de Bolívar também vem sendo vinculado à ditadura chavista da Venezuela, conhecida por ser uma das mais violentas e destrutivas na história do continente. O movimento chavista se autointitula como “revolução bolivariana” há décadas e vincula suas raízes ideológicas nele.
Este artigo propõe descobrir, com ajuda em fontes primárias e análises clássicas e contemporâneas, quem foi Simón Bolívar, “El Libertador”.
Simón Bolívar nasceu em 1783 no berço de uma família aristocrata da então Capitania Geral da Venezuela, parte da Monarquia Espanhola. Desde cedo mostra um caráter indisciplinado, e com a esperança de corrigi-lo, é deixado aos cuidados de seus mentores, Simón Rodríguez e Andrés Bello. Rodríguez e Bello, pensadores latino-americanos, apresentam a um jovem Bolívar as ideias revolucionárias vindas da França da época.
Após a Revolução Francesa, Napoleão tomou o país sob seu controle e ainda vai além das suas fronteiras. Em 1808, Napoleão invadiu a Espanha e derrubou a monarquia de Fernando VII. Nesse mesmo ano, inicia-se o que na história se conhece como a Guerra da Independência espanhola para expulsar o Império Francês.
A elite venezuelana reage e declara um governo leal à Coroa Espanhola, mas a incapacidade de Fernando VII para voltar ao trono radicaliza a situação na Venezuela. Bolívar e um grupo de creoulos decidem declarar independência total da Venezuela em 1810.
A fundação da República da Venezuela inicia oficialmente uma guerra contra o exército espanhol. Sob o comando do veterano das revoluções francesa e americana, Francisco de Miranda, Bolívar participou na guerra de 1811 a 1812. Após a rendição de Miranda em 1812, Bolívar viajou à Colômbia, onde iniciou uma nova série de campanhas contra o exército da Espanha.
Em 1813, Bolívar começa uma campanha militar desde a Colômbia em nome de uma nova república. Ele chama essa operação de “Campanha Admirável” e a defende sob o título de ditador até 1815, quando cai após as vitórias do quase-mercenário pro-espanhol José Tomás Boves. Bolívar retrocede aos poucos e a “Segunda República” cai esse mesmo ano.
Exilado na Jamaica, desenvolveu a Carta de Jamaica, o documento em que explica as falhas das duas repúblicas e o modelo político mais apropriado para uma sociedade miscigenada como a venezuelana: uma grande república integrada entre as regiões da América. A república do Bolívar não podia ser democrática pois, na sua visão, os hispano-americanos não estavam prontos para ela.
Em 1817, Bolívar retorna à Venezuela com ajuda militar e financeira de Alexandre Petion, líder republicano do Haiti. Nesta ocasião, suas operações são bem sucedidas durante os anos seguintes. Em 1819, Bolívar venceu na Batalha de Boyacá. Em 1821, venceu na Batalha de Carabobo e finalmente em 1823, venceu na de Maracaibo. Estas últimas 3 batalhas consolidaram a independência de Venezuela e Colômbia.
A luta do Bolívar não se detém nestes territórios e desce até as regiões do Peru para libertá-las em 1822. Em 1824, Bolívar liberta o Alto Peru e a Bolívia é fundada, país que leva o nome em sua homenagem.
A morte de Bolívar é o resultado de vários elementos, entre eles, a tuberculose que sofria.
Bolívar morre no meio de seus esforços por estabelecer um império sul-americano que iria chamar de “Colômbia” em homenagem à Cristóvão Colombo. O projeto sofreu constantes resistências de elites regionais e de conspirações do Departamento de Estado dos EUA.
Além disso, o herdeiro político do projeto, o general Antônio José de Sucre, foi assassinado em um complô, o que deixou um vácuo no projeto de Bolívar. Em 17 de dezembro, em Santa Marta, Colômbia, Simón Bolívar morreu. Suas últimas palavras foram: “Quem serve a uma revolução, ara no mar”, mostrando grande frustração perante os fracassos de seu projeto.
O historiador venezuelano Rufino Blanco Fombona escreveu sobre a morte do Bolívar: “morreu como morrem os grandes, em silêncio e com um mundo por dentro”.
Para Blanco Fombona, Bolívar foi “o homem necessário de seu século, feito de sonho e aço” que “fundou repúblicas com a espada e com a pena”. Um dos biógrafos mais importantes de Bolívar, John Lynch, escreve:
“Bolívar criou mais do que nações; ele deu aos povos um novo sentido de identidade e destino”.
Figuras como Washington, Napoleão e Bolívar são analisados por pensadores presentes na história das ideias. No caso do Bolívar, Thomas Carlyle e o próprio Karl Marx lhe dedicaram linhas em seus livros.
O filósofo alemão, autor do Manifesto Comunista, Karl Marx, o julga negativamente na New American Cyclopaedia de 1858. Para ele, Bolívar foi o “Napoleão das retiradas” e “o mais covarde, brutal e miserável”.
O historiador escocês Thomas Carlyle discorda de Marx em El Dictador Francia:
“Bolívar cavalgou [...] quilômetros além dos quais Ulisses jamais navegou: que Homeros posteriores tomem nota disso. Ele marchou sobre os Andes mais de uma vez; um feito análogo ao de Aníbal”.
Pablo Victoria, historiador colombiano, diz a respeito de Bolívar: “Eu nunca poderia imaginar que por trás daquele homem idealista e grandioso, pudesse se esconder simultaneamente uma alma tão vil e sanguinária”.
O advogado e cientista político venezuelano Jorge de León Kostko diz:
“Bolívar não só libertou territórios; (ele) fundou o imaginário político de uma América possível”.
Juan Carlos Rey, cientista político venezuelano, escreveu:
“O Libertador foi, perante tudo, um arquiteto de civilizações livres, defensor da lei sobre a anarquia e da república sobre a tirania”.
O nome de Simón Bolívar tem sido relacionado à revolução chavista da Venezuela, que se autointitulou “bolivariana”. Desde então, “bolivariano” virou sinônimo de chavismo, socialismo ou comunismo, mas pensadores venezuelanos contemporâneos discordam dessa ideia.
Para Alejandro Perdomo, advogado venezuelano e autor do livro “Los fundamentos ideológicos del socialismo bolivariano”: “O chavismo cria um Bolívar funcional a seu discurso, despojado de suas contradições, convertido em figura mítica, quase religiosa, útil para justificar um projeto político completamente alheio ao pensamento original do Libertador”.
Segundo Perdomo, Bolívar nunca foi socialista; a ideologia dele foi profundamente republicana, aristocrática e desconfiada do poder popular desorganizado.
“O socialismo bolivariano é, na verdade, uma religião política centrada no culto ao líder. Bolívar, por outro lado, nunca promoveu o caudilhismo. Foi um crítico feroz do personalismo e dos perigos do despotismo ilustrado”.
Para León Kostko, o pensamento bolivariano invoca “o mais antigo espírito dos Césares romanos”.
“O Libertador quis estabelecer na América uma tradição monárquica dentro dos limites republicanos”.
O diplomata peruano Víctor Andrés Belaúnde diz sobre Bolívar:
Bolívar buscava criar uma “República conservadora, dirigida por uma verdadeira elite intelectual e moral”.
As figuras históricas e os processos marcantes das nações podem ser manipulados por ideologias que buscam vender-se como verdades absolutas. A História do Brasil não é exceção. Para conhecer sobre a trajetória, assista ao episódio “Independência ou Morte” da série Brasil: A Última Cruzada.
Cupom aplicado 37% OFF
Cupom aplicado 62% OFF
MAIOR DESCONTO
Cupom aplicado 54% OFF
Assine e tenha 12 meses de acesso a todo o catálogo e aos próximos lançamentos da BP