Rita alega que o foco em pautas identitárias fez com que os eleitores tradicionais da esquerda, normalmente operários e camponeses, não se sentissem mais representados por esse espectro político:
“Sentiram-se traídos. Eles eram sindicalistas e reivindicavam mais condições de trabalho numa zona industrializada ou onde há muita agricultura… [os eleitores] perceberam que quem devia defender os seus direitos ficou distraído a defender cotas para pessoas LGBT ou que mudam de gênero três vezes por dia”.
Para ela, esse tipo de debate não faria sentido para as pessoas comuns que precisam enfrentar as dificuldades da vida em um país com a economia estagnada:
“Portugal está em um contexto de estagnação económica, há uma crise generalizada. A pessoa comum não tem tempo para ficar preocupada se as alterações climáticas vão acabar com o mundo hoje ou se eu, por ser descendente de africano, sou de fato oprimida ou nunca fui oprimida. Isto é um debate de pessoas que estão desligadas da realidade.”
Segundo Rita, camadas mais jovens da sociedade também tem se voltado para a direita por se sentirem incomodadas por questões de gênero e sexualidade serem abordadas desde cedo nas escolas.
Outro fator que levou os jovens portugueses para a direita é a possibilidade de procurar informações na internet e sem enviesamento dos professores:
“O jovem começou a sentir-se desconfortável, sobretudo nesta era digital em que pode ter acesso a tudo o que quiser sem ter que ser necessariamente com aquele professor que é enviesado”.
Esse fenômeno parece ter escala global. Nas eleições americanas de 2024, por exemplo, Trump cresceu entre as comunidades negras e latinas, tradicionalmente democratas.
No Brasil, nas últimas eleições municipais de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), foi derrotado em diversos redutos de esquerda nas periferias.
Ao mesmo tempo, Boulos conseguiu vencer em diversos bairros em regiões centrais da cidade.
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