"Eu creio que quando homens de Estado abandonam sua própria consciência em benefício de seus deveres públicos, eles estão conduzindo seu país para o caos". Esta é uma das premissas de um clássico vencedor de 6 Oscar que a Brasil Paralelo traz no catálogo de seu streaming. 

Vencedor do prêmio de Melhor Filme, “O Homem que não vendeu sua alma” conta a história real de Sir Thomas More, o chanceler britânico que não se curvou ao Rei Henrique VIII. 

Um homem que preferiu perder desde seus bens até sua dignidade a renunciar à sua fé, seus princípios e suas virtudes. Sendo homem de confiança do rei Henrique VIII, Thomas era rico, bem casado e respeitado por toda Inglaterra. Fiel devoto do catolicismo, se opôs veementemente quando o rei decidiu separar-se de Roma e fundar a igreja Anglicana. 

O rei queria que seu casamento com Catarina de Aragão fosse declarado nulo pelo Papa Clemente II, uma vez que só tivera uma filha com ela. Achava que se desposasse outra teria maiores chances de ter um menino. 

O pontífice negou a nulidade afirmando que não havia motivos para tal. Outro motivo foi evitar uma indisposição com os pais de Catarina, os reis espanhóis Fernando e Isabel.

O filme narra a saga de Thomas, que ao se negar jurar fidelidade à nova religião é despojado de seu cargo. Posteriormente, é considerado persona non grata pela população, chegando a ser impedido entrar em um barco. 

Sua esposa, filha e genro tentam a todo custo dissuadi-lo a ceder à pressão de Henrique, mas ele permanece firme em sua decisão de não negar sua fé. Anos depois a Igreja Católica declarou Thomas More santo, sendo proclamado por São João Paulo II padroeiro dos governantes.

Uma lição de ética

Numa época marcada pela descrença naqueles que estão no poder, assistir a “O homem que não vendeu sua alma” pode ajudar a reacender a esperança no futuro. A história do santo lembra que não são as circunstâncias que fazem o ser humano, mas as escolhas. Mais precisamente, a escolha entre o que é certo e o que é fácil. 

Logo no início do filme, um homem chamado Richard tenta dissuadir Thomas a contratá-lo como seu assistente na corte. More então mostra a ele uma tentativa de suborno que recebeu e diz que é apenas isso que a corte o trará. Richard sorri exultante, como se dissesse que é exatamente isso que ele quer. O homem demonstra que seus anseios estão voltados apenas para o material: roupa, casa, joias. 

Demonstra especialmente apreço pelo reconhecimento de terceiros. Ao insistir para ser contratado como servo na corte, recebe como resposta: 

“Um homem deveria ir aonde não será tentado”.

Quando Thomas lhe oferece um emprego de professor na escola do vilarejo, Richard lhe diz que não teria valor pois ninguém saberia quem ele é. Perguntado do porque rejeita o cargo de professor, responde que ninguém saberia quem ele é. 

“Você saberia”, responde Thomas “Seus alunos, sua família, Deus. Não é uma má plateia”. 

Esse é apenas um dos exemplos de diálogos que fazem quem assiste refletir sobre onde está colocando seu coração. Richard segue seu caminho e acaba acendendo na corte de Henrique VIII. 

No final do filme, Thomas More é julgado por crime de traição. Richard está ao lado de seus acusadores. Aquele que colocou seu coração no desejo de possuir, terminou por ajudar a matar o homem que não vendeu sua alma.