Rasta

Rasta é um highlander, um artista que apresenta colunas irônicas, versões textuais de seu programa Rasta News, um jornal semanal isento de notícias. Não delicadezas aqui.

Como uma boa eleição deve acontecer

Se o Brasil seguisse a Constituição do Rastomenistão, a festa da democracia não teria tanta bigodagem.

Rasta

Quantos clássicos da propaganda as eleições já não nos deram? Aquela sensação mista de dar risada de campanhas como:

  • Thalisson Pokémon;
  • Sesóstris;
  • Ana Bafo de ...;
  • José Serra comedor;
  • aquela figura oculta, sempre que a gente vê uma propaganda de político, que é um imposto atrás.

Lembrei-me de um cara ótimo, Robertinho do Gelo, a solução de Japeri. Coitado, todo feliz…e não teve nem mesmo o voto da própria mulher.

É pior do que ir ao McDonalds e pedir salada.

Desde 1889, o Brasil vem trilhando o lindo caminho da ordem e do progresso, embalado por golpe atrás de golpe e constituição atrás de constituição, além de ditaduras e processos de redemocratização.

Quando se vê algum brasileiro falando sobre redemocratização, é sempre bom perguntar: espere, qual delas?

Nos dias de hoje, quando falamos em redemocratização, referimo-nos ao período que começa em 85, quando Figueiredo pendura as chuteiras dos milicos com uma observação e um pedido.

A observação de que um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar. Ele ainda fez pedido ao povo de que o esquecesse. Pois bem, não é lá uma surpresa que o povo tenha esquecido é do diagnóstico de sua inépcia eleitoral, mas não tenha esquecido do Figueiredo, no sentido de que não esqueceram o regime militar.

É aí que as senhorinhas reacionárias e militantes comunistas se unem - uma saudade danada de um cacetete para chamar de seu.

As primeiras para ver no lombo dos tais "vagabundos" que aterrorizam sua existência, as últimas, pelas chances de valor e reconhecimento romântico na luta contra um inimigo que lhes deixou todos os espaços de uma máquina pública gigantesca e todas as universidades de pernas abertas.

Eu sempre me incomodei com a associação do termo comunista com vagabundo. Eu não tenho nada a ver com isso. Estou fora dessa.

Em verdade, digo-vos que apenas uma sociedade de economia livre, com produtividade alta, pode proporcionar o espaço necessário para o surgimento de uma boa vadiagem, a vadiagem do artista, a tal da vida de cigarra, a boa e velha flauta.

Verdade que os vadios precisam sempre ser em menor número que os almofadinhas e que um Rasta não pode se valer de conseguir uma carreira de cigarra como prometem os educacionistas que tratam de transformar a promessa do não ocupar-se em carreira acadêmica.

Feito isso, a produtividade cai tanto que nutre tanto a vadiagem, quanto o apelo que a vadiagem tem, ao causar aquela fricção saudável que o sagrado tolo, a cigarra, tem perante a sociedade dos normais.

Você já viu regime comunista com vadiagem? Não, é uma tara pelo tal do trabalho, é valor trabalho, é campo de trabalho forçado, chega a dar uma coceira no vivente. Pois então, em tempos como o nosso, em que a vadiagem busca tornar-se norma, faz-se mister que o vadio torne-se conservador.

Voltemos a 1985, o momento em que tivemos o melhor presidente da história do país: Tancredo Neves. Sim, o presidente que nunca foi.

Você pode reclamar dele como deputado ou qualquer outro cargo onde ele fez alguma coisa, mas como presidente, nunca. O melhor, disparado.

Já o mesmo não dá para a gente dizer do Sarney, certo? 

O país mal tinha acabado de sair de uma ditadura militar e o Estado já estava se pondo a recrutar cidadão para fiscalizar cidadão no controle de preços.

Aquele crachá de eu vou arder eternamente amarrado banhado de melaço em cima dum sauveiro no inferno: Sou fiscal do Sarney.

O absurdo do controle de preços já foi demonstrado desde que a Dercy Gonçalves era menina, mas os militares impediram que a notícia chegasse aqui e ficamos andando de lado por uns anos, à espera da Brasília amarela. 

Veio a Constituição Federal de 88, que quer ter autoridade de mandar na minha vida.

E logo após isso a primeira eleição direta, na qual pelo menos o povo escolheu um homem bonito: Fernando Collor de Melo. Palavra de Renato, o homem mais bonito deste mundo.

Tá entendendo onde eu quero chegar? Já estava bom, mas estava meio ruim também, e agora parece que piorou.

Esse negócio de eleição é igual àquele cartaz da PM, “a arma do criminoso” aparece a foto de um trezoitão. Daí tu vai ver a “arma do cidadão” é um telefonema, bicho.

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Cartaz da PM "A arma do cidadão".

Um telefonema! Só pode ser sacanagem… Mas um telefonema ainda é mais útil que um título de eleitor.

É como o nosso saudoso Uber de antigamente. Lembra do Uber raiz? Tinha água mineral, balinha e wi-fi? Só que todo esse teatro eleitoral aí está mais para o Uber de hoje em dia, em que você precisa torcer para que alguém aceite a sua corrida para Osasco.

De tempos em tempos, surge alguém qualquer, e você sorri de felicidade em não ter que votar em um comunista. A barra está lá embaixo.

A corrupção como ela é

Apesar do Tiririca dizer que “pior que tá não fica”, isso é impossível, isso implicaria que a corrupção da política poderia chegar num nível em que se tornaria incorruptível.

Por mais que o PMDB me faça querer crer que ele é esse fim da escala, não dá, o PMDB é aquela corrupção honesta à brasileira, né? Assim, ninguém ganha do Partido dos Trabalhadores, é o Sarumanismo cultural. 

A pior corrupção é aquela do cara que está convencido de que seus ideais são nobres e que vai usá-la como um instrumento de garantir o poder e o acúmulo de todos os meios de ação para atingir seus elevados fins.

Quando falo em eleição, lembro-me de um certo comercial do BK. Calma, não é aquele onde eles colocam uns pirralhos para falarem de ideologia de gênero não, é mais ridículo que esse.

Relembro um comercial no qual tentaram criar um argumento esdrúxulo para mostrar toda a magia e beleza da participação eleitoral e de como você deve votar consciente, observar as propostas de cada candidato e escolher o melhor representante, que guiará nossa soberana nação pelos próximos 4 anos, bla bla bla bla.

A propaganda começa mostrando o descrédito de algumas pessoas com a política nacional, não é para menos… basta assistir 15 minutos de qualquer debate entre candidatos para comprovar isso.

É o festival dos Camachos, lembra do Dr. Camacho? Aquele puxa-saco de burocrata que aparece em Quincas Borba?

O cara tá sempre falando dos conceitos, da pureza dos conceitos, vive prometendo mundos e fundos e uma candidatura ao pobre do Rubião, que fica dando dinheiro para o jornal do maluco, que termina dando as costas pra ele assim que o dinheiro acaba. Pois é, é um festival de Camachos.

Vamo voltar pro Burger King: após todos votarem em branco, os participantes recebem um hambúrguer apenas com pão e cebola, e uma frase de efeito:

“Quando alguém escolhe por você, não dá pra reclamar do resultado.”

Logo no fim do vídeo, um filhote de belzebu diz que “seria bem ruim 4 anos desse lanche” Ora, meu rastão, mas não é EXATAMENTE ISSO QUE ACONTECE numa eleição?

Mesmo que você vote no seu candidato, pode ser que ele não vença, e outros escolherão no seu lugar.

Sendo assim, a única maneira da democracia funcionar com uma bigodagem mais ou menos controlada é trocando de políticos, usando o mecanismo para se livrar do seu governante de tempos em tempos.

Se isso te confunde, eu te pergunto qual é a tara pela decisão da maioria justamente num mundo que se preocupa tanto com o respeito pelas minorias? Calma. A conclusão óbvia é que essa galera não é nem pela maioria, nem pela minoria. O que os move é o poder e o discurso é somente uma ferramenta de acesso a ele.

O melhor formato para as eleições no Brasil

É por isso que eu vivo pensando em alternativas melhores para esse sistema. No meu Rastomenistão, além de termos lindos anjos, de róseas asas, livres para voar, as eleições seriam feitas num formato diferente, inspirado pelo daemon que suspira no meu ouvido, o daemon rousseff: ganha quem perde, perde quem ganha. Isso mesmo.

Aquele que tiver menos votos é o eleito. Sem choro. Assim fica tudo mais calmo e tranquilo. Ninguém defende. Não há paixões. Não tem problema chamar de corrupto.

Outro mecanismo eficiente que eu utilizaria para apaziguar os ânimos é a proposta que cada cidadão que vota seria governado de acordo com as ideias que ele defende, mas o político a executar essas regras seria aquele oposto ao que ele escolheu.

Não levaria 3 meses para todo psolista converter-se em um João Camilo.

Mas para falar a verdade, o que eu queria mesmo, assim, de verdade, era um Rei, um Rei para chamar de meu, que nem o baiano. É o que falta.

Essa certeza de uma pequeneza é uma coisa muito sadia e gostosa. A democracia é essa farra de tarados, em que todo cidadão vive a ilusão de que pode ele mesmo fazer parte do poder. Que ele mesmo pode guiar as coisas.

“O petróleo é NOSSO”, nosso o que, meu filho? Cadê o meu barril? Era mais fácil nacionalizar o Tabaco, porque a única coisa que eu sinto como minha é o fumo que eu tomo do que a democracia faz com o é nosso.

Quando você tem um Rei, você tem sempre a noção exata de onde começa e termina o você, cidadão e indivíduo, e onde começa o poder, o Estado, a lei.

Veja: eu não estou aqui nessa de monarquiazinha constitucional para Inglês ver. Não, nem quero entrar nas tretas de Atenas de grandes discussões sobre o rei filósofo.

A ideia é reta, simples: Monarquia inconstitucional, com um rei que só se interessa por caça a raposa e colecionar selos. O único compromisso que ele tem é o de se confessar para o padre no sábado e Missa ao domingo, acabou.

Se colocar o Beorn, meu urso empalhado, temos o melhor prefeito que Rastópolis poderia ter. Não rouba, não faz, não promete, nem cumpre, nunca vai cair em bigodagem. Sucesso total.

Falando em bigodagem, chegou a hora do…

Troféu Bigodagem:

O troféu bigodagem de hoje é histórico, democrático e tão bigodeiro que ele vai para uma entidade que é incapaz de tomar responsabilidade: os cidadãos. Isso mesmo, os cidadãos de Atenas, por sua performance na questão do ostracismo de Aristides, o justo. 

Aristides foi um grande general e estrategista, do grego strategos, que desempenhou um papel fundamental em 490 ac, na batalha de maradona, digo Maratona.

Enfim, Aristides ficou reconhecido como um grande homem virtuoso, está lá no Meno de Sócrates: "lembra de Aristides? Quem há de dizer que não era um bom homem", e pelo historiador Heródoto como "o melhor e mais honrado dos Atenienses", foi Arconte Epônimo de 89 a 88 a.C., homem de origem de classe média, foi aluno de Clístenes e ficava ao lado da aristocracia conservadora.

Acontece que ele tinha um rival, Temístocles, dizem que além das tretas políticas, os dois disputavam o mesmo menino.

Vocês, que acham que vão resgatar o ocidente assistindo 300 e fazendo curso de masculinidade, lembram do personagem que vem na sequência do filme que mostra eônidas.

Temístocles era um homem de origem humilde e notável à sua maneira. Havia sido Arconte em 93, na base de promessas populistas e bajulação dos pobres, mas era um estadista sagaz e de notável presciência. Segundo os relatos de Tucídides, Temístocles começou um grande desenvolvimento da marinha Ateniense.

Depois da Batalha de Maratona, os atenienses ficaram com o proktos na mão, os ânimos estavam acirrados e aquele clima de "será que vai rolar mais uma invasão?"

Paralelamente, a galera descobriu muita prata em Laurion, e aí começou uma discussão entre os Atenienses sobre o que fazer com essa prata. Aristídes defendia que a prata deveria ser minada e distribuída aos cidadãos de Atenas, para que estes decidissem o que fazer, cada qual, com sua parte.

Temístocles queria usar a prata para fortalecer a marinha para uma iminente invasão persa. O que Temístocles fez? Ostracismo.

A proverbial festa da democracia caiu sobre o lombo de Aristides. Dizem que durante essa celebração tarimba, um popular analfabeto chegou pro Aristides, sem saber quem ele era, e pediu para que ele escrevesse o nome “Aristides” na cédula para que ele pudesse votar para exilá-lo.

Ao que Aristides perguntou: Certo, mas você conhece Aristides? Que mal ele te fez?

O popular respondeu: Nada, nunca vi mais gordo. Aristides retrucou: E por que vai votar nele? O popular disse: Porque tô cansado de ouvir o povo chamar ele de justo.

Fato? Anedota? Mito? Não sei. Bigodagem? Atual? Com certeza. Mirem-se no exemplo das mulheres de Atenas.