“Uma das figuras mais polêmicas da história recente do Brasil, da história republicana, é o Carlos Lacerda. Ele é demonizado pela esquerda; então automaticamente é demonizado nos livros de história, na cultura pop, no cinema, nas minisséries que a gente vê na televisão. Mas entender o Carlos Lacerda ajuda a entender um pouco o Brasil recente e ele precisa ser estudado com um pouco mais de isenção, distanciamento e menos ideologia”. Alexandre Borges
O maior nome do conservadorismo brasileiro no século XX nem sempre comungou destes ideais. Era filho de comunistas, e por isso seu nome, Carlos Frederico, foi dado em homenagem a KarlMarx e FriedrichEngels. Descubra quem foi Carlos Lacerda.
Carlos Frederico Werneck de Lacerda, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, no dia 30 de abril de 1914. Apesar disso, foi registrado em Vassouras, município do interior do estado do Rio de Janeiro onde Lacerda tinha familiares residentes.
Seus pais eram Maurício de Paiva de Lacerda, um jornalista e político comunista que fez parte da Aliança Nacional Libertadora na década de 1930, e Olga Werneck de Lacerda.
Carlos Lacerda pertencia a uma família de grande participação na política brasileira.
Na cidade onde nasceu, cursou o liceu francês e concluiu seus estudos. Já em 1929, com apenas 15 anos, Carlos Lacerda seguiu os passos do pai e começou a trabalhar como jornalista.
Era considerado um prodígio, dada a habilidade de fala e de escrita.
Em 1932, iniciou o curso de Direito, na Universidade do Rio de Janeiro, onde aproximou-se dos grupos comunistas, mas não concluiu o curso.
Exímio orador e polemista, Lacerda encaminhou sua carreira para a política, aproveitando os contatos que fez na universidade e o legado de sua família.
A juventude de Carlos Lacerda ficou marcada pela sua adesão ao comunismo, sendo ele um militante fervoroso. O jovem participou ativamente da articulação que resultou no surgimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), um partido comunista que surgiu no Brasil na década de 1930 com foco no combate ao fascismo.
Tão grande era a influência do jovem na esquerda local, que ele pronunciou o discurso de inauguração da ANL, em 1935.
No discurso, Luís Carlos Prestes, então exilado e na iminência de retornar ao Brasil, foi anunciado por Lacerda como presidente de honra da ANL, o que foi acatado de imediato e com fervor pelos participantes.
Essa ideia, todavia, foi um comando de certo superior do partido que Carlos Lacerda acatou, o que acabou contrariando as pretensões de seu pai de assumir a frente do movimento.
Em 1935, aconteceu a Intentona Comunista, tentativa de golpe da ANL, o que forçou Carlos Lacerda a ficar algum tempo escondido por suas ligações com o partido. Entretanto, ele não participou desse levante.
Em 1937, com a realização do golpe do Estado Novo, Carlos Lacerda chegou a ser preso, mas permaneceu por poucos meses na prisão. De 1938 a 1944, dedicou-se ao trabalho de jornalista, trabalhando para diferentes jornais e revistas.
Em 1940, ele rompeu definitivamente com o comunismo após ter sido enganado por Luiz Carlos Prestes, chefe da ANL.
Em 1939 foi convidado a escrever um artigo pelo DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda, da ditadura do Estado Novo, narrando a derrota dos comunistas pelo Estado Novo.
O jovem Carlos Lacerda viu na oportunidade uma forma de fazer um artigo mais ameno para seus camaradas revolucionários e pediu autorização a Luiz Carlos Prestes.
Após publicar o artigo, foi ostracizado pelos companheiros do partido e perseguido por Prestes. Isso lhe resultou na expulsão da ANL. Além disso, Lacerda saiu ressentido com o movimento comunista.
Novamente, Prestes abusou da ingenuidade de Carlos Lacerda para atacar o líder comunista que com ele lutava pelo poder, Maurício, o pai de Lacerda. Em 1940, Carlos Lacerda abandonou definitivamente a ideologia.
Carlos Lacerda atuou como jornalista, escritor e empresário, fundou o jornal Tribuna da Imprensa e a editora Nova Fronteira.
O escritor e jornalista Alexandre Borges narra a biografia de Carlos Lacerda de uma forma bem diferente do que aparece nos manuais escolares de história.
Carlos Lacerda se introduziu na política brasileira como ferrenho marxista. Em 23 de março de 1935, participou da fundação da ANL, um partido inspirado no comunismo que levantava bandeiras contra o latifúndio, o fascismo e o imperialismo. Mas em 1940, havia já abandonado os ideais de esquerda.
Lacerda basicamente mudou completamente de lado, passando a defender ideias conservadoras.
Com o desmantelamento do Estado Novo e a formação da nova república, filiou-se à União Democrática Nacional (UDN), partido conservador e de influência liberal.
Lacerda se tornou um dos grandes críticos da ditadura varguista, contestando as propostas do Estado Novo que iam na contramão da democratização que vivia o ocidente.
Em 1946, por sugestão de Lacerda, foi criada no jornal Correio da Manhã a seção intitulada “Na tribuna da imprensa”, que passou a assinar, visando, segundo seu próprio depoimento, fazer uma “crônica da Constituinte”, que ocorria neste ano, que fosse ao mesmo tempo uma “reportagem sobre a vida nacional”.
Também a partir desse ano, por influência de Alceu Amoroso Lima e de Gustavo Corção, começou a frequentar o mosteiro de São Bento e se converteu ao catolicismo.
Em 1947, casou-se no religioso com Letícia Abuzzini de Lacerda, com quem já se casara no civil nove anos antes, e batizou ainda seus dois primeiros filhos, Sérgio e Sebastião.
Gustavo Corção e Alceu Amoroso Lima foram grandes influências que aproximaram Lacerda dos ideais conservadores.
Em 19 de janeiro de 1947 foi eleito vereador no Distrito Federal, Rio de Janeiro, na legenda da UDN. Assumindo o mandato em março do ano seguinte, empenhou-se na campanha em favor da autonomia do Distrito Federal, defendendo a eleição do prefeito, em vez de sua nomeação pelo presidente da República.
Quando, ainda em 1947, o Senado votou o Estatuto do Distrito Federal, retirando da Câmara Municipal o poder de examinar os vetos do prefeito, Lacerda renunciou ao mandato em sinal de protesto.
Quando Vargas retornou à presidência, Carlos Lacerda não ficaria em silêncio acatando as ordens do antigo ditador.
Em 1949, Lacerda rompe com a redação do “Correio da Manhã” e funda seu próprio jornal, o “Tribuna da Imprensa”, conservando o nome de sua famosa coluna. Em seu jornal, buscou atacar a campanha presidencial de Vargas.
Em 1950, Lacerda realizou a cobertura da eleição presidencial e manifestou-se favorável ao candidato da UDN, o brigadeiro Eduardo Gomes.
Carlos Lacerda era opositor ferrenho a Getúlio Vargas e a possibilidade de que Vargas pudesse voltar à presidência do Brasil o deixou aflito. Sobre a possibilidade da eleição de Vargas, Carlos Lacerda afirmava o seguinte:
“O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”.
Apesar de seus esforços, em 1951 Vargas retornou à presidência, democraticamente eleito. Porém, sem pretensões de mudar seu histórico ditador. Carlos Lacerda foi um dos que buscou sempre enfrentar os planos varguistas para o país.
Em agosto de 1953 Lacerda fundou no Rio de Janeiro o Clube da Lanterna, onde congregavam diversos parlamentares, principalmente udenistas, no combate ao governo Vargas.
A atuação da UDN e as denúncias que faziam contra Getúlio Vargas contribuíram enormemente para a crise política desse período.
Carlos Lacerda, por exemplo, denunciou o jornal “Última Hora” por receber verbas ilegais do presidente Getúlio Vargas. A denúncia deu início a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
O jornal surge a partir da articulação de Samuel Wainer, antigo amigo de Lacerda, que possuía proximidade com o presidente Vargas. A suspeita de Lacerda se fundava nos seguintes pontos:
É como se, da noite para o dia, o Brasil recebesse um novo grupo jornalístico e este assumisse o posto de maior veículo de comunicação.
Por conta dos laços de Vargas e Wainer, Lacerda acreditava que o financiamento do jornal “Última Hora” vinha de dinheiro público.
Para piorar a situação, Carlos Lacerda descobre que Wainer é estrangeiro e, segundo a lei da época, grupos estrangeiros não podem ser donos de veículos de comunicação no Brasil.
Lacerda, com seu jeito incendiário e polemista, lançou todas essas denúncias na mídia.
A nova denúncia desencadeou um dos episódios mais complexos de sua vida.
Na noite de 5 de agosto de 1954, Lacerda retornava de um comício com seu filho e alguns seguranças. Quando estavam na rua de sua casa, a Rua Toneleros, em Copacabana, dois atiradores alvejaram o grupo.
Lacerda escapou com um tiro de raspão no pé, mas seu segurança, o major Rubens Vaz, faleceu no atentado. Lacerda prontamente acusa Vargas de ter encomendado o assassinato.
O atentado e a morte do major foram um completo desastre para o governo de Vargas. A Aeronáutica conduziu uma investigação que chegou ao nome de Gregório Fortunato, o chefe de segurança do Palácio do Catete, palácio do presidente, e o de Lutero Vargas.
A UDN pressionou a renúncia de Vargas e abriu um processo de impeachment: o exército buscava a retirada de Vargas do posto de presidente.
O desfecho é dramático e marca a história do Brasil: o presidente, na manhã do dia 24 de agosto de 1954, comete suicídio disparando contra o próprio coração.
A comoção popular foi tão grande, que Carlos Lacerda se viu obrigado a se esconder em exílio durante algum tempo.
Em outubro de 1955, foi eleito como deputado federal do Rio de Janeiro com a maior votação da história.
Quando se estuda quem foi Carlos Lacerda, é possível perceber que o jornalista e político participou ativamente de diversas conspirações políticas. O que, na verdade, era bastante comum no instável quadro brasileiro.
Participou em 1955 da conspiração que visava impedir a eleição e posse de Juscelino Kubitschek e de seu vice João Goulart na Presidência da República.
Pouco tempo depois do suicídio de Vargas, Carlos Lacerda já atuava para impedir que a eleição presidencial de 1955 acontecesse, ele temia que a comoção popular resultasse em uma vitória do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o partido varguista.
A partir de então o Clube da Lanterna colocou-se ao lado de Juarez Távora, cuja candidatura foi homologada pela UDN em 31 de julho.
Entretanto, descartada a possibilidade de lançamento de um candidato único às eleições de outubro, uma das pautas propostas por Lacerda, e diante dos sinais de vitória da chapa vinculada à herança getulista, a ala udenista radical, organizada em torno do Clube da Lanterna e liderada por Carlos Lacerda, passou a preconizar cada vez mais abertamente o golpe militar para impedir a eleição de Juscelino e Goulart.
Na Câmara, Carlos Lacerda foi Líder da UDN (1957-1958) e, após se reeleger, sendo de novo o deputado mais votado, tornou-se Líder da Minoria (1959), representada pelo bloco UDN e PL (Partido Libertador).
Com a aliança entre PTB e o Partido Social Democrático (PSD), o alvo se tornou o político mineiro Juscelino Kubitschek.
Carlos Lacerda instiga então as Forças Armadas a se mobilizarem para impedir que a eleição presidencial acontecesse e afirmava que essa eleição seria produto da fraude, da demagogia e de práticas sujas.
Ele e outros conservadores defendiam a imposição de regime de emergência, isto é, que não fosse eleito pelo povo.
Na visão de Lacerda, os defensores da eleição presidencial de 1955, que aconteceria em cumprimento à Constituição de 1946, eram covardes e omissos.
À frente da ala golpista da UDN, Lacerda pronunciou um discurso na Câmara solicitando a suspensão da Constituição de 1946 — o que implicaria a supressão de todos os direitos individuais — “até que o país voltasse à normalidade”, mas sua sugestão não encontrou eco no interior da própria bancada udenista.
Apesar disso, firme em sua proposta, continuou a publicar na Tribuna da Imprensa violentos artigos que defendiam a interdição da posse dos eleitos e pedia insistentemente a intervenção dos militares na política nacional.
A conspiração contra a posse de Juscelino Kubitschek avançava tranquilamente entre os conservadores e em parte entre os militares.
A situação mudou drasticamente quando o ministro da Guerra, Henrique Teixeira Lott, liderou um contragolpe em 1955. Ele articulou o impeachment de Carlos Luz e a posse de Nereu Ramos, usou tropas para ocupar locais estratégicos no Rio de Janeiro e garantiu a posse de JK.
Após esse evento, Carlos Lacerda optou por se exilar em Cuba. Retornou ao Brasil em novembro de 1956 e seguiu como oposição a Juscelino Kubitschek, atuando de maneira incendiária como de costume.
Ele retomou a posse do seu mandato de deputado federal, foi eleito em 1955, e foi dessa posição que ele liderou a oposição. Carlos Lacerda, inclusive, foi um ferrenho opositor à construção de Brasília.
Em 1960, com a transferência da capital federal para Brasília, são criados dois estados:
Em dezembro de 1960, Carlos Lacerda foi eleito governador do estado da Guanabara, o que lhe deu grande visibilidade na política nacional.
Seus principais feitos foram:
Diante do seu histórico de apoio a conspirações políticas e a insistência em recorrer ao pedido de intervenção do exército, Carlos Lacerda não poderia ficar de fora da articulação do golpe de 1964.
Ao longo dos meses iniciais do governo de Jânio Quadros, a relação de Carlos Lacerda com o presidente ficou muito ruim. Carlos Lacerda não concordava, sobretudo, com a política externa independente imposta pelo presidente. Em 25 de agosto de 1961, o presidente renunciou.
João Goulart, o vice-presidente, assumiu o mandato, apesar de Jânio não ter governado o tempo mínimo para que, em caso de renúncia, o mandato fosse transferido ao vice.
Lacerda protestou aguerridamente contra a posse de Jango, mas viu novamente um adversário ser eleito.
Devido a aproximação do novo presidente com a esquerda, depois de viajar para a China socialista e condecorar o revolucionário Che Guevara, o Brasil enfrentou períodos turbulentos.
Para afastar a possibilidade de um golpe comunista no Brasil, Lacerda se tornou uma das grandes vozes da articulação civil em favor da intervenção militar de 1964.
Carlos Lacerda apoiou o regime de 1964, e em novembro lançou-se candidato pela UDN à Presidência da República.
Contudo, teve suas pretensões frustradas pelo Ato Institucional número 2 (AI-2), de 27 de outubro de 1965, que acabou com a eleição direta para Presidente da República.
Carlos Lacerda acreditava que a intervenção dos militares em 1964 seria aos moldes da de 1945, o que não ocorreu. Os militares não devolveram o poder aos civis e o projeto de poder de Carlos Lacerda fracassou.
Carlos Lacerda planejava concorrer à eleição presidencial em 1965, uma vez que ele era um dos grandes nomes do conservadorismo no Brasil.
Ele rompeu todavia com a Ditadura Militar quando percebeu que não haveria democracia no país para que ele pudesse concorrer à presidência.
Imediatamente se tornou oposição à ditadura e, em 1966, formou a Frente Ampla, um movimento que contou com a presença de Juscelino Kubitschek e João Goulart, dois políticos que tinham sido perseguidos por Carlos Lacerda.
A Frente Ampla defendia a necessidade de restauração da democracia no Brasil.
Ela foi proibida de funcionar no país, em 5 de abril de 1968, quando o governo de Costa e Silva anunciou a Portaria nº 177, que proibia o funcionamento do movimento político e ameaçava prender todos aqueles que desobedecessem à lei.
No fim de 1968, quando foi homologado o AI-5, que suspendia o habeas corpus no processo penal, Carlos Lacerda foi preso.
Lacerda foi conduzido ao Regimento Marechal Caetano de Farias, da Polícia Militar do Estado da Guanabara. Após uma semana em greve de fome, conseguiu ser libertado, mas no dia 30 de dezembro teve os direitos políticos suspensos por dez anos.
Após a suspensão de seus direitos políticos e o desentendimento com os militares, Carlos Lacerda retomou seu posto de jornalista. No início de 1969 viajou para a Europa, e em maio seguiu para a África como enviado especial de “O Estado de São Paulo” e do “Jornal da Tarde”.
De volta ao Brasil, dedicou-se às atividades empresariais nas suas companhias: Crédito Novo Rio e Construtora Novo Rio, e às atividades editoriais na Nova Fronteira e Nova Aguillar, todas empresas de sua propriedade.
Colaborou ainda com os jornais O Estado de São Paulo e o Jornal do Brasil sob o pseudônimo de Júlio Tavares. No dia 21 de maio de 1977, um infarto colocou fim à sua vida.
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